Literatura Espírita
Ricardo dos Santos Malta
Arthur Schopenhauer teve a
oportunidade de dizer que “seria uma vantagem inestimável se, em todas as áreas
da literatura, existissem apenas alguns poucos livros, mas obras excelentes”.[1]
Por sua vez, o próprio Allan
Kardec reconheceu “que seria preferível que só fossem publicados bons livros”.[2]
Infelizmente, isso não ocorre,
ainda. Sem dúvida, num mundo de provas e expiações, é esperado que o joio cresça
junto do trigo (Mateus 13:29-30).
A publicação de obras sem
qualidade é um fator negativo em qualquer segmento literário, com o Espiritismo
não poderia ser diferente.
Não se pretende com isso cercear
o direito de livre expressão nem proibir a leitura de qualquer obra, seja ela
psicografada ou não.
Por outro lado, a crítica
literária também constitui um direito irreprochável, desde que realizada,
certamente, com caridade.
Ora, em matéria de
psicografia, especialmente, muitos exigem o direito de publicação irrestrita,
mesmo das mensagens mais excêntricas, contudo, não permitem nem mesmo o exame do
conteúdo, melindrando-se com as mais simples observações doutrinárias.
Atitude suspeita, pois os
Espíritos Superiores “nos aconselham a examinar as comunicações, já que não têm
nada a temer do exame”. (O Livro dos Médiuns, 2º Parte, item 266). Por outro
lado, a tática dos Espíritos inferiores consiste em evitar toda e qualquer
análise crítica.
Quem ousar defender os
princípios espíritas, pautados nas obras fundamentais de Allan Kardec, corre o
risco de ser taxado, por parte de alguns, de retrogrado, conservador,
ultrapassado, ortodoxo etc.
Todavia, esclarece J. Herculano pires:
É
legitima caridade repelir todas essas fantasias em nome da verdade, mesmo que
isso magoe alguns companheiros iludidos. A tolerância comodista dos que veem o
erro e se calam é crime que terá de ser pago no futuro. Quem compactua com o
erro para não criar problemas está, sem o saber, enleando-se nas teias sombrias
da mentira, compromissando-se com os mentirosos. [3]
De modo semelhante, aduz o Espírito Vianna de Carvalho:
Não
é humildade, como se vulgariza, silenciar ante o mal, concordar com todos os
disparates em nome de um conjunto de ensinamentos honoráveis como o
Espiritismo, fazendo propaganda pessoal de virtude aparente à custa do
sacrifício da mensagem edificante. [4]
Se a publicação de obras antidoutrinárias
já é algo danoso, tomar como verdade os piores erros é ainda mais grave e
absurdo. A única defesa que tem o leitor espírita é o estudo prévio das obras
fundamentais do Espiritismo, antidoto eficiente, porém, desprezado por muitos.
Não podemos fazer o papel de
Filadélfio, personagem de Jorge Amado, que vivia com um livro de Allan Kardec
em baixo do braço, “lia eternamente aquele livro e nunca chegará ao fim, não
passara mesmo da página 30 e se dizia espírita”. [5]´
É preciso estudar o
Espiritismo!
Conforme diria René
Descartes, “a leitura de todos os bons livros é como uma conversa com os
espíritos mais cultos dos séculos passados, que foram os seus autores, e como
que uma conversa erudita, na qual esses autores nos descobrem os seus melhores
pensamentos”. [6]
Partindo desta premissa, podemos
conceber que o leitor tem o privilégio de dialogar com o próprio Allan Kardec,
receber os conselhos e ensinamentos do Espírito Erasto e toda plêiade de
Espíritos Superiores que colaboraram com o conteúdo das obras fundamentais; é
possível, ainda, estreitar laços com os pensamentos filosóficos de Leon Denis e
Herculano Pires, ter aulas científicas com Ernesto Bozzano e Gabriel Delanne, aprender
o Evangelho com Caibar Schutel e o Espírito Emmanuel, enfim, tem a oportunidade
de conversar com os vultos do Espiritismo, por intermédio de suas obras
imortais.
Infelizmente, não raro, “o
público é tão simplório que prefere ler o novo a ler o que é bom”.[7] Isso não que dizer que os
novos escritores sejam descartáveis ou ruins, pelo contrário, há excelentes
trabalhos na atualidade.
A crítica serve apenas para
que o leitor tenha mais cautela com essa enxurrada de falsas novidades/revelações
que constituem verdadeiros modismos, destituídos de base doutrinária.
Portanto, é imperioso estudar
e valorizar as obras fundamentais e os grandes clássicos da Doutrina Espírita,
verdadeiros tesouros, às vezes esquecidos. Em verdade, “sempre que possível, é
melhor ler os verdadeiros autores, os fundadores e os descobridores das coisas,
ou pelo menos os grandes e reconhecidos mestres da área”. [8]
FONTE: Revista O Reformador, Ago/14, pp. 31-32
[3] PIRES, José Herculano. Curso Dinâmico
de Espiritismo. Editora Paidéia. 2000. Pág. 151.
[4] FRANCO, Divaldo Franco.
Espiritismo e Vida. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Editora Leal. 2009. Pág. 147.
[5] AMADO, Jorge. Mar Morto. Editora
Companhia das Letras. 2012. Pág. 127
[6] DESCARTES, René. Discurso do
Método. Editora Saraiva. 2011. Pág. 30.
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