Os fins justificam os meios num centro espírita?
Marco Milani
Texto
publicado na Revista Dirigente Espírita, ed. 200, abr/jun 2024, p.27
A atitude caridosa, em essência, implica amar o semelhante
fazendo-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos nos fosse feito.
Sob essa concepção, não é raro ouvir-se de empolgados adeptos a proposta de
implantação nos centros espíritas das mais variadas práticas terapêuticas
alegando-se que tudo o que é voltado ao benefício do próximo é um ato caridoso
e, portanto, alinhado à moral espírita.
O Espiritismo, entretanto, não é estruturado como o produto
das boas intenções e ações de seus adeptos. Trata-se de um conjunto de
princípios e valores organizados de forma sistemática sobre a natureza, origem
e destino dos Espíritos e suas relações com o mundo corporal.[1] Como corpo doutrinário, integra
e harmoniza o ensino dos Espíritos liderados pelo Espírito da Verdade e
apresentado nas obras de Allan Kardec com notável consistência interna,
caracterizando sua própria percepção e interpretação da realidade.
Nesse sentido, qualquer instituição que se afirme espírita
deve expressar coerentemente os respectivos fundamentos doutrinários, sem
abraçar práticas conceitualmente contraditórias que desfigurariam os próprios
preceitos.
O
equilíbrio entre os objetivos desejados e a coerência doutrinária dos métodos
empregados para alcançá-los torna-se condição necessária para a caracterização
de práticas espíritas. A moralidade de uma ação não é, exclusivamente,
determinada pelo resultado final, mas também pelo caminho adotado para sua
realização.
Por
exemplo, são reconhecidas pelo Ministério da Saúde como práticas integrativas e
complementares e que contam com relatos favoráveis de alguns de seus atendidos,
as seguintes: Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura, Medicina Antroposófica,
Homeopatia, Plantas Medicinais e Fitoterapia, Termalismo Social/Crenoterapia,
Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia,
Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia
Comunitária Integrativa, Yoga, Apiterapia, Aromaterapia, Bioenergética,
Constelação familiar, Cromoterapia, Geoterapia, Hipnoterapia, Ozonioterapia e
Terapia de Florais. Nenhuma dessas terapias, entretanto, apresenta
fundamentação doutrinária espírita para ser assim considerada e desenvolvida numa
instituição espírita.
A frase "os fins justificam os meios", portanto,
não se aplica aos centros espíritas diante de eventuais incoerências
doutrinárias, mesmo sob a argumentação de que tudo valeria em nome do amor.
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