Mexericos
reencarnatórios: a curiosidade de se saber quem foi quem.
Marco Milani
Não é de hoje que a questão sobre quem foi quem
em reencarnações anteriores alimenta a fantasia de várias pessoas, geralmente
aquelas desejando identificar em seu próprio passado elementos para satisfazer
a curiosidade vaidosa.
No capítulo VII, de "O Livro dos Espíritos",
esclarece-se sobre a utilidade do esquecimento do passado. Em nosso atual estágio
evolutivo, é proposital a inexistência de lembranças precisas sobre as experiências
anteriores, pois, se assim não fosse, estaríamos expostos a gravíssimos
inconvenientes. Em alguns casos, as lembranças poderiam nos humilhar
extraordinariamente; em outros, exaltar o nosso orgulho.
Allan Kardec sinaliza que, se quisermos saber como
éramos, basta examinarmos as nossas tendências instintivas de hoje. Tendências
boas expressam progresso moral. Tendências más explicitam orgulho e egoísmo,
cabendo-nos o esforço do autoaprimoramento por meio de ações equilibradas.
Em casos específicos há utilidade em conhecer
experiências passadas, porém sempre com seriedade e jamais para satisfazer uma
curiosidade vã.
Modernamente, a Terapia de Vidas Passadas pode
atuar nesse sentido, objetivando sanar transtornos e desconfortos psicológicos
presentes por meio da revivência de experiências traumatizantes do passado. A
catarse gerada atuaria favoravelmente na vida atual do indivíduo, alterando
padrões de comportamentos nocivos para outros mais adequados. Certamente, essa
técnica terapêutica deve ser desenvolvida por profissionais competentes que
conseguirão avaliar a pertinência ou não de sua aplicação conforme as
necessidades de cada paciente.
No movimento espírita, em particular, há
adeptos com diferentes graus de maturidade sobre o assunto.
Alguns não se contentam com a curiosidade sobre
si mesmos e também desejam perscrutar o passado alheio, especulando sobre as
encarnações de personalidades variadas.
Nenhuma informação sobre “quem foi quem”
revelada por um suposto médium, por mais famoso que esse seja, é isenta de
dúvida. Toda revelação merece cuidado, principalmente se oriunda de uma única
fonte.
Nos últimos anos, os entusiastas pelas
reencarnações alheias dedicam tempo precioso para especular sobre o paradeiro
de Emmanuel, o mentor espiritual de Chico Xavier que, segundo o médium mineiro,
reencarnaria por volta do ano 2000.
Ora, supondo que essa informação seja
verdadeira, qual é a utilidade de se saber onde está Emmanuel? Como ele se
chama hoje? O que ele faz? A resposta é: nenhuma, além de se alimentar fantasias e misticismos.
Diferentemente de algumas tradições orientais
que tentam identificar personalidades relevantes à própria religião, como os
budistas fazem à procura do Buda reencarnado, não existe qualquer motivo útil
no Espiritismo para buscas especulativas.
A Doutrina Espírita liberta consciências e
esclarece sobre as reais necessidades dos seres. Todos nós reencarnamos para
continuar a progredir moral e intelectualmente e refletimos as conquistas e
erros que já tivemos em nossas muitas encarnações.
Hoje somos melhores do que ontem e trabalhemos
para amanhã sermos melhores do que hoje.
Fonte: Jornal Correio
Fraterno. Ed. 463. Jun/2015. p.6
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