Comentários sobre o livro "Em Nome de
Kardec", de Adriano Calsone.
Marco Milani *
O livro
Em Nome de Kardec, lançado em julho
de 2015 pela Vivaluz Editora e de autoria do comunicador Adriano Calsone, é uma
obra que merece a atenção de todo pesquisador espírita.
Em um bem
executado projeto gráfico, a obra é um convite para se conhecer aspectos pouco discutidos
sobre o movimento espírita francês após a desencarnação de Allan Kardec e oferece
elementos essenciais para se compreender o porquê da fragilização e drástica
redução do número de adeptos do Espiritismo na França.
O
prefácio atribuído ao Espírito Camille Flammarion é de excepcional profundidade
e coerência doutrinária. As três páginas desse prefácio já deveriam ser, por si
mesmas, objeto de criteriosa e ponderada reflexão. Ao incitar aqueles que se dizem
espíritas para que realmente o sejam, dimensiona-se a responsabilidade que cabe
aos adeptos conscientes contra o misticismo, as distorções sincréticas e os desvirtuamentos
em nome de uma pretensa e subversiva modernização do Espiritismo. Nessas poucas
linhas, captura-se o cerne do livro e abrilhanta-se a obra.
Com uma
redação fluente e agradável, Calsone conduz o leitor por cerca de 280 páginas a
uma instigante viagem ao final do século XIX, com ênfase no período de 1873 a
1883. Descortinando fatos históricos fundamentados em adequada pesquisa
bibliográfica, o autor descreve a infiltração das ideias teosóficas de Blavatsky e de outros místicos no movimento espírita francês e os respectivos desvios conceituais provocados. Na era pós-Kardec, o envolvimento com linhas ocultistas pelo
editor da Revista Espírita, Pierre Gaétan Leymarie, favoreceu a disseminação de
conceitos esdrúxulos e contribuiu para macular a própria identidade espírita dessa
publicação em nome da tolerância à Teosofia e ao ecumenismo espiritualista.
Calsone
pontua a luta de Amélie Gabrielle Boudet, a respeitável viúva do professor
Rivail, para manter a integridade da Revista Espírita. Nessa empreitada, a Sra.
Kardec contou com o apoio de sua valorosa e combativa amiga, Berthe Fropo, a
qual publicou em 1883 um corajoso opúsculo intitulado Beaucup de Lumiére (Muita Luz), no qual denunciou a
descaracterização da Revista Espírita e questionou a lisura intelectual de seu
editor, Leymarie, cada vez mais místico e adepto da deturpação roustainguista.
Um dos
argumentos habilmente utilizados pelos místicos para justificar as adulterações doutrinárias foi uma suposta necessidade de atualização dos princípios e
informações apresentados pela equipe do Espírito da Verdade à Kardec. Segundo
os místicos, uma década (!) após a desencarnação do Codificador, o Espiritismo
deveria dar um passo além e não se dogmatizar abrindo-se à modernidade
representada pela Teosofia. Esse argumento, entretanto, esbarrava em uma contradição
lógica, pois os místicos queriam que os adeptos abraçassem antigos conceitos típicos
de escolas orientalistas iniciáticas como se fossem novos, justamente os
ultrapassados e nebulosos conceitos que a clareza e a objetividade do Espiritismo
haviam pulverizado!
A
influência teosófica e de outras linhas espiritualistas em diferentes adeptos auxiliam
o leitor a seguir as pistas que contribuíram, ainda que não exclusivamente, para
dividir, enfraquecer e esvaziar o movimento espírita francês.
Em uma
época marcada pela enxurrada de lançamentos com questionável conteúdo
doutrinário, o livro Em Nome de Kardec
vem em boa hora, não somente pela ótima pesquisa histórica feita por Adriano
Calsone de uma fase muito pouco estudada do Espiritismo, mas por colaborar diretamente
para a compreensão de seus reflexos até hoje. Certamente, é uma leitura
recomendada aos pesquisadores e aos espíritas em geral.
*
Diretor do Departamento do Livro e Doutrina da USE – Estado de São Paulo.
Bom saber, fiquei curioso sobre o livro.
ResponderExcluirÉ ÓTIMO. Recomendo!
ResponderExcluirMARCO,
ResponderExcluirE o livro "Em torno de Rivail", Editora Lachãtre?
Olá Elena. O livro "Em torno de Rivail" é uma proposta de contextualização histórica bem interessante. Os diferentes autores abordaram aspectos sociais, políticos, científicos, religiosos e até econômicos da época do Prof. Rivail. Certamente, também é um livro recomendado.
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