Encontro discute os
livros espíritas e pseudoespíritas
por Marco Milani
Realizou-se na tarde do último sábado (20/2),
mais um encontro da série Diálogos, promovido pela USE Regional São Paulo. O
evento, ocorrido na sede da USE-SP, recebeu cerca de 80 pessoas interessadas em
discutir o tema Livros Espíritas e Pseudoespíritas.
Estruturado de maneira a incentivar a
participação do público formado, em sua maioria, por dirigentes e colaboradores
de casas espíritas, o encontro transcorreu de maneira harmônica e produtiva,
levando os presentes a refletir sobre a qualidade doutrinária da literatura
considerada espírita.
Inicialmente, a equipe organizadora
apresentou os principais conceitos metodológicos utilizados por Allan Kardec
para edificar a Doutrina dos Espíritos e esclareceu sobre o significado do
dinamismo doutrinário proposto no próprio corpo teórico do Espiritismo. Diferenciou-se
espiritualismo de espiritismo, sendo o primeiro a crença abrangente em algo
mais além da matéria (em oposição ao materialismo) e o segundo em uma doutrina
com princípios e valores muito bem definidos que a distingue de outras
doutrinas espiritualistas.
Abordou-se, posteriormente, o problema da
confusão lógica que muitos adeptos sofrem ao abraçar, ao mesmo tempo, conceitos
contraditórios entre si. Tal confusão é típica daqueles que se afirmam
universalistas, ecumênicos ou ecléticos, os quais acreditam que todas as linhas
de pensamento são válidas então devem ser misturadas. Tais pessoas não
compreenderam que o respeito a outras formas de pensar não implica em assumir
cosmovisões diferentes se as mesmas forem antagônicas. Seria o equivalente a
acreditar, simultaneamente, que existem e não existem Espíritos. É ilógico e
incoerente. Assim, se alguém se diz espírita, supõe-se que compreenda, acredite
e siga os princípios e valores espíritas e não os substitua por outros, sob o
risco de estar sendo incoerente consigo mesmo.
Sobre a ação da fé raciocinada na literatura,
destacou-se a relevância da postura crítico-analítica que todo leitor deveria
ter perante qualquer texto, seja ele anímico ou mediúnico. A análise do
conteúdo é essencial e não se justifica acreditar em alguma informação ou
mensagem apenas pelo fato de ser atribuída a algum Espírito ou recebida por
esse ou aquele autor, encarnado ou desencarnado, por mais famoso que seja. São
as evidências e a postura racional que permitirão aceitar ou refutar algo como
válido.
Diante da grande quantidade de títulos de
qualidade duvidosa direcionados ao público espírita e espiritualista em geral,
é fundamental compreender os princípios espíritas para se analisar e
classificar uma obra como espírita ou pseudoespírita.
Por pseudoespíritas, consideram-se aqueles
livros que são espiritualistas e se aproximam dos conceitos e da cosmovisão espírita
em diversos aspectos, porém, também apresentam informações e ideias
contraditórias aos princípios espíritas. É o caso de obras místicas e
fantasiosas, que levam o leitor a acreditar na validade da astrologia, na
necessidade de uso roupas especiais, símbolos e paramentos para se atrair e se
comunicar com Espíritos, em situações infundadas no mundo espiritual como
gravidez de desencarnados, na erraticidade de animais como se fossem humanos, na existência de almas
gêmeas, em uma natureza não carnal do corpo de Jesus, na possibilidade do
Espírito regredir em seu processo evolutivo e reencarnar em corpos de animais (metempsicose)
dentre outras afirmações incoerentes e infundadas.
Por mais respeitáveis que sejam todas as escolas
e linhas espiritualistas, cada uma interpreta a realidade com lentes
específicas. Isso não quer dizer que algumas são melhores que outras, apenas de
que são cosmovisões diferentes. Se contribuírem para a evolução moral e intelectual
dos seres, são pertinentes e úteis diante da diversidade de interesses e
culturas presentes na humanidade.
O verdadeiro espírita é aquele que, ao
compreender as questões ontológicas e as relações entre os mundos visível e
invisível esclarecidas pelos Espíritos e apresentadas nas obras da Codificação,
desperta e esforça-se por melhorar moral e intelectualmente. O livro espírita é
aquele cujo conteúdo, portanto, expressa adequadamente os princípios e valores
do Espiritismo.
Uma situação preocupante encontrada no Brasil
é a dificuldade de compreensão plena de textos complexos. Segundo o Instituto
Paulo Montenegro, vinculado ao IBOPE, cerca de 38% dos universitários
brasileiros não conseguem interpretar e fazer associações em textos que exijam
abstrações, ou seja, parte significativa do grupo de pessoas com maior
quantidade de anos de estudo não compreende integralmente o que estão lendo. Igualmente,
há dificuldade intelectiva para a leitura e compreensão das obras de Kardec com
os ensinamentos do Espíritos, o que permite a suposição de diferentes graus de
alfabetização doutrinária.
Na interação com o público, foi apresentado
um esquema simples de identificação do livro espírita e pseudoespírita, baseado
na coerência com os princípios e conceitos doutrinários apresentados por
Kardec.
Ao final do evento, os participantes
destacaram a valorosa iniciativa da USE Regional São Paulo e elogiaram a
organização pela proposta do encontro, incentivando a reflexão e sem qualquer
cerceamento de ideias.
Considerando a relevância do tema e a premente
necessidade da discussão contínua no movimento espírita, o Departamento do
Livro da USE planeja novos encontros em outras regiões da capital e do interior
do Estado para tratar da qualidade doutrinária da literatura espírita.
Com relação à
temática metodológica para se analisar os critérios necessários para se validar
o conhecimento espírita, a USE Regional SP programou o Fórum “Coerência
Doutrinária: a fé raciocinada em ação” para o dia 18/06/2016, quando espera
reunir pesquisadores e colaboradores espíritas para discutir essa importante questão. O local ainda será confirmado.
Parabéns pela iniciativa. Precisamos zelar pelos princípios espíritas para que o trabalho hercúleo de Kardec, não tenha sido em vão.
ResponderExcluirCaros colegas da AME Itajubá, agradecemos o contato e as palavras de incentivo. Certamente, cabe aos espíritas compreenderem e disseminarem o rico e vasto conhecimento trazido pelos Espíritos e organizados por Allan Kardec. Muita Paz!
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