ESPIRITISMO:
LIBERTADOR DE CONSCIÊNCIAS?
Marco
Antonio Milani Filho
(Artigo publicado no Jornal Espírita, em ano estimado de 1994)
A
Doutrina Espírita firmou-se como um dos mais poderosos meios de transformação
moral do planeta, consolando e esclarecendo multidões, convidando para a
reflexão raciocinada sobre a realidade existencial do ser e reconhecendo a
infinita bondade e sabedoria de Deus.
Fundamentada
em bases sólidas, expande-se em função de suas ideias claras e propostas
sinceras, conquistando através da lógica e de sua simplicidade.
Tem
como bandeira a Caridade, e combate energicamente as chagas morais da
Humanidade: o orgulho e o egoísmo.
Promovendo
a reforma íntima, através do autoconhecimento, incentiva o indivíduo a
tornar-se agente do desenvolvimento de si mesmo e da sociedade, libertando-o de
seus vícios e defeitos, por atos e pensamentos equilibrados.
Sendo
uma doutrina dinâmica, sem dogmas ou preconceitos, está aberta à análise e
discussão de todos os seus princípios, permitindo seu exame crítico por todos,
espíritas ou não.
Deste
modo, são saudáveis os questionamentos sinceros, que busquem o conhecimento
como forma de aprendizagem, seguindo a mesma linha metodológica de Kardec, não
aceitando uma informação sem antes analisá-la logicamente.
Existem,
por sua vez, aqueles que pesquisam e indagam, motivados exclusivamente para
descobrir um suposto aspecto falho na doutrina, mas que também são muito úteis,
pois testam a veracidade e a solidez doutrinária.
Até
hoje, todos aqueles que iniciaram pesquisas científicas ou perquirições,
visando a unicamente demolir os argumentos espíritas, terminaram por comprovar
a solidez destes, provocando, em vários detratores, a revisão de seus pontos de
vista e conformação diante dos fatos.
Percebe-se,
por sua vez, o compromisso com a verdade que possui o Espiritismo.
E
este compromisso impele os espíritas à constante reflexão sobre seus próprios
atos e sobre as inúmeras ideias que tentam misturar-se na doutrina, deturpando
seu conteúdo. Prova disso é que Kardec afirmava ser “dever dos verdadeiros
espíritas repudiarem e desautorizarem abertamente os abusos que possam
comprometer o Espiritismo” e ainda, que “pactuar com os abusos seria tornar-se
cúmplice e fornecer armas aos nossos adversários” (ver Revista Espírita - Junho/1865
- “Nova tática dos adversários do Espiritismo”).
A
identificação dos verdadeiros espíritas, aos quais Kardec se referia, aqueles
que lutam pela divulgação e bom entendimento do Espiritismo, é feita como Jesus
ponderou, reconhecendo a árvore pelos seus frutos.
Valorosos
trabalhadores da seara espírita, como Carlos Imbassahy, Herculano Pires, Canuto
Abreu, Deolindo Amorim, entre outros, lutaram incansavelmente pela compreensão
doutrinária, alertando para possíveis desvios e erros de interpretação que
poderiam estar sendo praticados.
Aprofundaram-se
o quanto puderam nos ensinamentos dos Espíritos, oferecendo importantes obras
para o desenvolvimento moral, científico e filosófico.
É
comum, entretanto, levantarem-se algumas vozes incomodadas com a não aceitação,
no meio espírita, de teorias mirabolantes ou fantásticas, sem cunho científico,
pendendo frequentemente para o misticismo, ou ainda os modismos atribuídos ao
progresso.
Acusam
a doutrina de sectarista e fechada em si mesma, refratária a algumas ideias
que, segundo eles, são plenamente válidas e pertinentes, concluindo que o
Espiritismo é avesso a novas práticas e tendências, fugindo do dinamismo
apregoado. Chegam a afirmar que Kardec está ultrapassado.
Convenhamos,
em primeiro lugar o bom senso!
Tudo
deve ser encarado racionalmente, demonstrando que a verdadeira fé “é aquela que
pode enfrentar a razão, face a face, em todas as épocas da Humanidade”
(Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. XIX - item 7).
Se
novas ideias ou práticas se mostrarem em desacordo com os princípios adotados,
depois de analisados criteriosamente, como Kardec procedia com as informações
dos Espíritos, não devem ser difundidas como práticas espíritas.
Almejar
a pureza doutrinária não cerceia a liberdade do indivíduo, que pode acreditar
em que achar mais coerente. O importante é que ele pratique o bem, e existem
diversas religiões e escolas filosóficas justamente para atender às suas
necessidades, de acordo com seu estágio evolutivo.
O
respeito aos irmãos de outras crenças é ato de caridade, assim como para com aqueles
que não abraçaram o Espiritismo.
É
também ato de caridade a busca da verdade. Por isso, qualquer afirmação ou
postura filosófica e científica é passível de exame minucioso.
Da
mesma forma, ninguém pode intitular-se defensor das verdades espíritas,
fechar-se em si mesmo (ou em seu Centro), e condenar qualquer tipo de discussão
doutrinária. É um comportamento tão radical e desequilibrado quanto aquele que
aceita prontamente qualquer novidade sem refletir sobre ela.
Kardec,
quando conclama os espíritas a repudiarem os abusos que possam comprometer a doutrina,
dirige-se aos espíritas sinceros, de bom senso, e não exclusivamente a uma
pessoa.
É
o estudo constante e a fraternidade que determinarão o grau de compreensão que
possuímos desta maravilhosa doutrina cristã, libertadora de consciências.
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