Comentários gerais
Em pouco mais de 100 páginas, esta obra
caracteriza-se pela simplicidade e objetividade de sua proposta, voltada à
identificação e à crítica sob a perspectiva doutrinária de práticas e conceitos
estranhos ao Espiritismo, adotados por alguns adeptos no movimento espírita.
Enfatizando a necessidade do estudo sério e
aprofundado das obras kardequianas para se conhecer, realmente, o Espiritismo,
Ary Lex discorre sobre as motivações mais superficiais que levam parte
significativa do público a uma casa espírita, geralmente para a resolução de
problemas físicos, familiares ou profissionais.
Como afirma o autor, a “massa de sofredores e,
numerosas vezes, de curiosos dos fenômenos, vem pressionando os centros
espíritas para que lhe ofereçam aquilo que seu primitivismo espiritual exige:
uma prática espírita cada vez mais deformada e mais cheias de rituais”. O
sincretismo decorrente dessas pressões e tendências pessoais acabam trazendo
deturpações ao movimento espírita.
Pontuando aspectos históricos da evolução do
pensamento humano sobre a realidade que nos cerca, Ary Lex destaca o
Espiritismo como avanço nesse conhecimento, assim como destacaram os próprios
Espíritos a Kardec.
O papel do método científico também é evidenciado
como primordial para se analisar qualquer fenômeno e qualquer informação, seja
de origem mediúnica ou não, antes de considerá-los como parte integrante do
Espiritismo.
Ao
analisar as deturpações que invadiram algumas casas espíritas, o autor as
classifica em dois grandes grupos: as ingênuas (que não possuem o intuito
premeditado de deturpar os conceitos doutrinários) e as dolosas (aquelas com a
intenção de exploração da credulidade ou objetivando outros interesses).
Ary
Lex comenta sobre o misticismo presente em algumas escolas espiritualistas,
principalmente orientalistas, as quais também possuem determinados pontos de
contato com o Espiritismo, como a aceitação da imortalidade do Espírito, a
reencarnação e a existência de Deus. Tais escolas, ainda que respeitáveis e com
relevantes contribuições ao conhecimento humano, colidem doutrinariamente com o
Espiritismo em muitos outros aspectos e, logicamente, não podem ser
consideradas fontes de conceitos e práticas para serem importados à doutrina
espírita. Dentre essas escolas, estão: Teosofia, Rosa-Cruz, Esoterismo,
Krishnamurtismo, Bramanismo, Budismo, Taoísmo, dentre outras.
Sobre
as deturpações místicas e orientalistas provocada por supostas comunicações
mediúnicas, Ary Lex analisa a influência do Espírito Ramatis, recebido pelo
médium Hercílio Maes, cujas obras foram amplamente divulgadas no mercado
editorial.
Outros
casos de deturpação mística e fantasiosa citados pelo autor como presentes no
movimento espírita são: falsos
parapsicólogos, invencionices pseudocientíficas, astrologia, piramidologia,
rituais, recomendação de roupas específicas para a atividade mediúnica,
abstinência obrigatória da alimentação animal, casamentos e batizados
“espíritas” etc.
Em
síntese, é uma obra que incentiva o exercício da fé raciocinada com base nos
parâmetros e preceitos doutrinários.
Coerência
doutrinária do conteúdo com as obras fundamentais de Allan Kardec:
(X)
Integral ( ) Parcial
( ) Nenhuma ( ) Não aplicável
Considerando que o principal objetivo
deste livro é, justamente, alertar para as inconsistências lógicas e
doutrinárias que deturpam a compreensão dos princípios e valores espíritas, tal
qual Allan Kardec orientou, considera-se que esteja coerentemente alinhada com
as obras fundamentais do Espiritismo.
Far-se-ia necessário, entretanto, maior desenvolvimento sobre a questão
do processo evolutivo do ser, tratada no Capítulo V – Doutrina e prática –
Deturpações orientais, p. 58 e 59. Ary Lex, restringindo o conceito de vida
somente à manifestação dos seres orgânicos (pela presença do fluido vital) e a
desvinculando da atividade por si só do princípio inteligente, afirma inexistir
qualquer atuação direta desse princípio no reino mineral, contrastando com
outras abordagens doutrinárias sobre a relação natural entre o espírito e a
matéria (ver, por exemplo, LE–27, LE-28, LE-540, LE-585, dentre outras). Os
conceitos de “força mecânica nos seres inorgânicos”, “vida” e “atividade” do princípio
inteligente deveriam ser desenvolvidos com mais clareza pelo autor, porém essa
discussão não prejudica a qualidade e a proposta da obra.
O próprio conceito de “pureza
doutrinária”, ainda que compreensível quando concebido como plena adesão ao
ensino dos Espíritos validados pelo critério da universalidade que não se
misturam ou confundem com princípios e conceitos de outras doutrinas, pode
levar a interpretações que limitam o próprio caráter progressivo da doutrina
(pois algo puro já se encontra no grau máximo de limpidez e clareza, logo não
necessitaria ser depurado ou progredir). O termo “coerência doutrinária”
representa mais adequadamente a intenção do autor, uma vez que o avanço do
conhecimento espírita perante novos fatos e comprovações objetivas é previsto,
logo, o conhecimento pode ser ampliado e não se encontra inerte em seu grau
máximo.
Avaliador: Marco Milani
Cidade: Holambra
Data: 28/04/2024
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