quinta-feira, 2 de maio de 2024

Comentários sobre o livro "Pureza Doutrinária"


 

Comentários gerais

Em pouco mais de 100 páginas, esta obra caracteriza-se pela simplicidade e objetividade de sua proposta, voltada à identificação e à crítica sob a perspectiva doutrinária de práticas e conceitos estranhos ao Espiritismo, adotados por alguns adeptos no movimento espírita.

Enfatizando a necessidade do estudo sério e aprofundado das obras kardequianas para se conhecer, realmente, o Espiritismo, Ary Lex discorre sobre as motivações mais superficiais que levam parte significativa do público a uma casa espírita, geralmente para a resolução de problemas físicos, familiares ou profissionais.

Como afirma o autor, a “massa de sofredores e, numerosas vezes, de curiosos dos fenômenos, vem pressionando os centros espíritas para que lhe ofereçam aquilo que seu primitivismo espiritual exige: uma prática espírita cada vez mais deformada e mais cheias de rituais”. O sincretismo decorrente dessas pressões e tendências pessoais acabam trazendo deturpações ao movimento espírita.

Pontuando aspectos históricos da evolução do pensamento humano sobre a realidade que nos cerca, Ary Lex destaca o Espiritismo como avanço nesse conhecimento, assim como destacaram os próprios Espíritos a Kardec.

O papel do método científico também é evidenciado como primordial para se analisar qualquer fenômeno e qualquer informação, seja de origem mediúnica ou não, antes de considerá-los como parte integrante do Espiritismo.

            Ao analisar as deturpações que invadiram algumas casas espíritas, o autor as classifica em dois grandes grupos: as ingênuas (que não possuem o intuito premeditado de deturpar os conceitos doutrinários) e as dolosas (aquelas com a intenção de exploração da credulidade ou objetivando outros interesses).

            Ary Lex comenta sobre o misticismo presente em algumas escolas espiritualistas, principalmente orientalistas, as quais também possuem determinados pontos de contato com o Espiritismo, como a aceitação da imortalidade do Espírito, a reencarnação e a existência de Deus. Tais escolas, ainda que respeitáveis e com relevantes contribuições ao conhecimento humano, colidem doutrinariamente com o Espiritismo em muitos outros aspectos e, logicamente, não podem ser consideradas fontes de conceitos e práticas para serem importados à doutrina espírita. Dentre essas escolas, estão: Teosofia, Rosa-Cruz, Esoterismo, Krishnamurtismo, Bramanismo, Budismo, Taoísmo, dentre outras.

            Sobre as deturpações místicas e orientalistas provocada por supostas comunicações mediúnicas, Ary Lex analisa a influência do Espírito Ramatis, recebido pelo médium Hercílio Maes, cujas obras foram amplamente divulgadas no mercado editorial.

            Outros casos de deturpação mística e fantasiosa citados pelo autor como presentes no movimento espírita são:  falsos parapsicólogos, invencionices pseudocientíficas, astrologia, piramidologia, rituais, recomendação de roupas específicas para a atividade mediúnica, abstinência obrigatória da alimentação animal, casamentos e batizados “espíritas” etc.

            Em síntese, é uma obra que incentiva o exercício da fé raciocinada com base nos parâmetros e preceitos doutrinários.

 

Coerência doutrinária do conteúdo com as obras fundamentais de Allan Kardec: 

(X) Integral  (    ) Parcial  (   ) Nenhuma (  ) Não aplicável

 

Considerando que o principal objetivo deste livro é, justamente, alertar para as inconsistências lógicas e doutrinárias que deturpam a compreensão dos princípios e valores espíritas, tal qual Allan Kardec orientou, considera-se que esteja coerentemente alinhada com as obras fundamentais do Espiritismo.

            Far-se-ia necessário, entretanto, maior desenvolvimento sobre a questão do processo evolutivo do ser, tratada no Capítulo V – Doutrina e prática – Deturpações orientais, p. 58 e 59. Ary Lex, restringindo o conceito de vida somente à manifestação dos seres orgânicos (pela presença do fluido vital) e a desvinculando da atividade por si só do princípio inteligente, afirma inexistir qualquer atuação direta desse princípio no reino mineral, contrastando com outras abordagens doutrinárias sobre a relação natural entre o espírito e a matéria (ver, por exemplo, LE–27, LE-28, LE-540, LE-585, dentre outras). Os conceitos de “força mecânica nos seres inorgânicos”, “vida” e “atividade” do princípio inteligente deveriam ser desenvolvidos com mais clareza pelo autor, porém essa discussão não prejudica a qualidade e a proposta da obra.

            O próprio conceito de “pureza doutrinária”, ainda que compreensível quando concebido como plena adesão ao ensino dos Espíritos validados pelo critério da universalidade que não se misturam ou confundem com princípios e conceitos de outras doutrinas, pode levar a interpretações que limitam o próprio caráter progressivo da doutrina (pois algo puro já se encontra no grau máximo de limpidez e clareza, logo não necessitaria ser depurado ou progredir). O termo “coerência doutrinária” representa mais adequadamente a intenção do autor, uma vez que o avanço do conhecimento espírita perante novos fatos e comprovações objetivas é previsto, logo, o conhecimento pode ser ampliado e não se encontra inerte em seu grau máximo.

  

Avaliador: Marco Milani 

Cidade: Holambra 

Data: 28/04/2024


Fonte: 

Banco de Pareceres de Livros – USE – União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (usesp.org.br)


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