sábado, 2 de novembro de 2013

Prece na SPEE em comemoração ao Dia dos Mortos


Revista Espírita Dez/1864
Da comunhão do pensamento - Sessão comemorativa na Sociedade de Paris - Dia dos Mortos

Inicialmente, uma prece especial para a circunstância, que substituiu a invocação geral que serve de introdução às sessões ordinárias. Ela foi assim concebida:

Glória a Deus, soberano senhor de todas as coisas!
Senhor, nós vos pedimos espalheis vossa santa bênção sobre esta assembleia.
Nós vos glorificamos e vos agradecemos porque vos aprouve iluminar nosso caminho pela divina luz do Espiritismo.
Graças a essa luz, a dúvida e a incredulidade desapareceram do nosso espírito e também desaparecerão deste mundo; a vida futura é uma realidade, e nós caminhamos sem incertezas para o futuro que nos está reservado.
Nós sabemos de onde viemos, para onde vamos e por que estamos na Terra.
Conhecemos a causa de nossas misérias e compreendemos que tudo é sabedoria e justiça em vossas obras.
Sabemos que a morte do corpo não interrompe a vida do Espírito, mas que ela lhe abre a verdadeira vida; que ela não rompe nenhuma afeição sincera; que aqueles que nos são caros não estão perdidos para nós e que os encontraremos no mundo dos Espíritos. Nós sabemos que enquanto esperamos, eles estão junto de nós; eles nos veem e nos ouvem e podem continuar suas relações conosco.
Ajudai-nos, Senhor, a espalhar entre os nossos irmãos da Terra que ainda estão na ignorância, os benefícios desta santa crença, porque ela acalma todas as dores, consola os aflitos e lhes dá coragem, resignação e esperança nas maiores amarguras da vida.
Dignai-vos estender vossa misericórdia sobre os nossos irmãos mortos e sobre todos os Espíritos que se recomendam às nossas preces, seja qual for a crença que tenham tido na Terra.
Fazei que o nosso pensamento benevolente leve alívio, consolação e esperança aos que sofrem.

A seguir o Presidente (ALLAN KARDEC) dirige a seguinte alocução aos Espíritos:

Caros Espíritos de nossos antigos colegas Jobard, Sanson, Costeau, Hobach e Poudra,
Convidando-vos a esta reunião comemorativa, nosso objetivo não é apenas vos dar uma prova de nossa lembrança que, bem sabeis, é sempre cara à nossa memória; vimos, sobretudo, felicitar-vos pela posição que ocupais no mundo dos Espíritos e vos agradecer as excelentes instruções que de vez em quando nos vindes dar, desde a vossa partida.
A Sociedade se rejubila por vos saber felizes. Ela se sente honrada por vos haver contado entre os seus membros e de vos contar agora entre os seus conselheiros do mundo invisível.
Temos apreciado a sabedoria de vossas comunicações e nos sentiremos felizes todas as vezes que tiverdes a bondade de vir participar de nossos trabalhos.
A este testemunho de gratidão associamos todos os bons Espíritos que habitualmente ou eventualmente vêm trazer-nos o tributo de suas luzes: João Evangelista, Erasto, Lamennais, Georges, François-Nicolas-Madeleine, Santo Agostinho, Sonnet, Baluze, Vianney, cura d’Ars, Jean Raynaud, Delphine de Girardin, Mesmer, bem como aqueles que apenas tomam a qualificação de Espírito.
Devemos um tributo particular de reconhecimento ao nosso guia e presidente espiritual, que na Terra foi São Luís. Nós lhe agradecemos por ter tomado a nossa sociedade sob seu patrocínio e pelas provas evidentes de proteção que ele nos tem dado. Nós lhe rogamos, igualmente, que nos assista nesta circunstância.
Nosso pensamento se estende a todos os adeptos e apóstolos da nossa doutrina que deixaram a Terra, e especialmente aos que nos são pessoalmente conhecidos, a saber: N. N...
A todos aqueles a quem Deus permite venham ouvir-nos, dizemos:
Caros irmãos em crença que nos precedestes no mundo dos Espíritos, nós nos unimos em pensamento para vos dar um testemunho de simpatia e chamar sobre vós as bênçãos do Todo-Poderoso.
Nós lhe agradecemos a graça que ele vos concedeu de serdes esclarecidos pela luz da verdade antes de deixardes a Terra, porque essa luz vos guiou na vossa entrada na vida espiritual. A fé e a confiança em Deus que ela vos deu, vos preservou da perturbação e das angústias que seguem a separação daqueles a quem a dúvida e a incredulidade afligem.
Ela vos deu a coragem e a resignação nas provas da vida terrena; ela vos mostrou o objetivo e a necessidade do bem e as consequências inevitáveis do mal, e agora colheis os seus frutos.
Deixastes a Terra sem pesar, sabendo que íeis encontrar bens infinitamente mais preciosos do que aqueles que aqui deixáveis. Vós a deixastes com a firme certeza de reencontrar aqueles que foram objeto de vossa afeição, e de poder voltar, em Espírito, para sustentar e consolar os que deixáveis na Terra. Enfim, estais no mundo dos Espíritos, como num país que vos era conhecido por antecipação.
Estamos muito felizes por termos visto nossas crenças confirmadas por todos aqueles dentre vós que vieram comunicar-se. Nenhum veio dizer que tinha sido iludido em suas esperanças, e que nos iludíamos sobre o futuro, mas, ao contrário, todos disseram que o mundo invisível tinha esplendores indescritíveis, e que suas esperanças tinham sido ultrapassadas.
Cabe agora a vós, que gozais da felicidade de ter tido fé, e que recebeis a recompensa de vossa submissão à lei de Deus, vir em auxílio àqueles dentre vossos irmãos da Terra que ainda se encontram nas trevas. Sede os missionários do Espírito de Verdade, para o progresso da Humanidade e para o cumprimento dos desígnios do Altíssimo.
Nosso pensamento não é dirigido apenas aos nossos irmãos em Espiritismo, pois todos os homens são irmãos, seja qual for a sua crença.
Se fôssemos exclusivistas não seríamos espíritas nem cristãos. É por isto que envolvemos em nossas preces, em nossas exortações e em nossas felicitações, conforme o estado em que se achem, todos os Espíritos aos quais nossa assistência pode ser útil, tenham ou não partilhado, em vida, de nossas crenças.
O conhecimento do Espiritismo não é indispensável à felicidade futura, porque não tem o privilégio de fazer eleitos. É um meio de chegar mais facilmente e mais seguramente ao objetivo, pela fé racionada que ele dá e pela caridade que ele inspira. Ele ilumina o caminho, e o homem, não mais seguindo às cegas, marcha com mais segurança. Por ele, melhor se compreende o bem e o mal. Ele dá mais força para praticar um e evitar o outro. Para ser agradável a Deus, basta observar suas leis, isto é, praticar a caridade, que resume todas elas. Ora, a caridade pode ser praticada por todos. Despojar-se de todos os vícios e de todas as inclinações contrárias à caridade é, pois, condição essencial da salvação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário