Revista
Espírita Dez/1864
Da
comunhão do pensamento - Sessão comemorativa na Sociedade de Paris - Dia dos Mortos
Inicialmente, uma prece especial para a
circunstância, que substituiu a invocação geral que serve de introdução às
sessões ordinárias. Ela foi assim concebida:
Glória a Deus, soberano senhor de todas as coisas!
Senhor, nós vos pedimos espalheis vossa santa bênção sobre esta
assembleia.
Nós vos glorificamos e vos agradecemos porque vos aprouve iluminar
nosso caminho pela divina luz do Espiritismo.
Graças a essa luz, a dúvida e a incredulidade desapareceram do nosso
espírito e também desaparecerão deste mundo; a vida futura é uma realidade, e
nós caminhamos sem incertezas para o futuro que nos está reservado.
Nós sabemos de onde viemos, para onde vamos e por que estamos na Terra.
Conhecemos a causa de nossas misérias e compreendemos que tudo é
sabedoria e justiça em vossas obras.
Sabemos que a morte do corpo não interrompe a vida do Espírito, mas que
ela lhe abre a verdadeira vida; que ela não rompe nenhuma afeição sincera; que
aqueles que nos são caros não estão perdidos para nós e que os encontraremos no
mundo dos Espíritos. Nós sabemos que enquanto esperamos, eles estão junto de
nós; eles nos veem e nos ouvem e podem continuar suas relações conosco.
Ajudai-nos, Senhor, a espalhar entre os nossos irmãos da Terra que
ainda estão na ignorância, os benefícios desta santa crença, porque ela acalma
todas as dores, consola os aflitos e lhes dá coragem, resignação e esperança
nas maiores amarguras da vida.
Dignai-vos estender vossa misericórdia sobre os nossos irmãos mortos e
sobre todos os Espíritos que se recomendam às nossas preces, seja qual for a
crença que tenham tido na Terra.
Fazei que o nosso pensamento benevolente leve alívio, consolação e
esperança aos que sofrem.
A seguir o Presidente (ALLAN KARDEC) dirige a seguinte alocução aos
Espíritos:
Caros Espíritos de nossos antigos colegas Jobard, Sanson, Costeau,
Hobach e Poudra,
Convidando-vos a esta reunião comemorativa, nosso objetivo não é apenas
vos dar uma prova de nossa lembrança que, bem sabeis, é sempre cara à nossa
memória; vimos, sobretudo, felicitar-vos pela posição que ocupais no mundo dos
Espíritos e vos agradecer as excelentes instruções que de vez em quando nos
vindes dar, desde a vossa partida.
A Sociedade se rejubila por vos saber felizes. Ela se sente honrada por
vos haver contado entre os seus membros e de vos contar agora entre os seus
conselheiros do mundo invisível.
Temos apreciado a sabedoria de vossas comunicações e nos sentiremos
felizes todas as vezes que tiverdes a bondade de vir participar de nossos
trabalhos.
A este testemunho de gratidão associamos todos os bons Espíritos que
habitualmente ou eventualmente vêm trazer-nos o tributo de suas luzes: João
Evangelista, Erasto, Lamennais, Georges, François-Nicolas-Madeleine, Santo
Agostinho, Sonnet, Baluze, Vianney, cura d’Ars, Jean Raynaud, Delphine de
Girardin, Mesmer, bem como aqueles que apenas tomam a qualificação de Espírito.
Devemos um tributo particular de reconhecimento ao nosso guia e
presidente espiritual, que na Terra foi São Luís. Nós lhe agradecemos por ter
tomado a nossa sociedade sob seu patrocínio e pelas provas evidentes de
proteção que ele nos tem dado. Nós lhe rogamos, igualmente, que nos assista
nesta circunstância.
Nosso pensamento se estende a todos os adeptos e apóstolos da nossa
doutrina que deixaram a Terra, e especialmente aos que nos são pessoalmente
conhecidos, a saber: N. N...
A todos aqueles a quem Deus permite venham ouvir-nos, dizemos:
Caros irmãos em crença que nos precedestes no mundo dos Espíritos, nós
nos unimos em pensamento para vos dar um testemunho de simpatia e chamar sobre
vós as bênçãos do Todo-Poderoso.
Nós lhe agradecemos a graça que ele vos concedeu de serdes esclarecidos
pela luz da verdade antes de deixardes a Terra, porque essa luz vos guiou na
vossa entrada na vida espiritual. A fé e a confiança em Deus que ela vos deu,
vos preservou da perturbação e das angústias que seguem a separação daqueles a
quem a dúvida e a incredulidade afligem.
Ela vos deu a coragem e a resignação nas provas da vida terrena; ela
vos mostrou o objetivo e a necessidade do bem e as consequências inevitáveis do
mal, e agora colheis os seus frutos.
Deixastes a Terra sem pesar, sabendo que íeis encontrar bens
infinitamente mais preciosos do que aqueles que aqui deixáveis. Vós a deixastes
com a firme certeza de reencontrar aqueles que foram objeto de vossa afeição, e
de poder voltar, em Espírito, para sustentar e consolar os que deixáveis na
Terra. Enfim, estais no mundo dos Espíritos, como num país que vos era
conhecido por antecipação.
Estamos muito felizes por termos visto nossas crenças confirmadas por
todos aqueles dentre vós que vieram comunicar-se. Nenhum veio dizer que tinha
sido iludido em suas esperanças, e que nos iludíamos sobre o futuro, mas, ao
contrário, todos disseram que o mundo invisível tinha esplendores
indescritíveis, e que suas esperanças tinham sido ultrapassadas.
Cabe agora a vós, que gozais da felicidade de ter tido fé, e que
recebeis a recompensa de vossa submissão à lei de Deus, vir em auxílio àqueles
dentre vossos irmãos da Terra que ainda se encontram nas trevas. Sede os
missionários do Espírito de Verdade, para o progresso da Humanidade e para o
cumprimento dos desígnios do Altíssimo.
Nosso pensamento não é dirigido apenas aos nossos irmãos em
Espiritismo, pois todos os homens são irmãos, seja qual for a sua crença.
Se fôssemos exclusivistas não seríamos espíritas nem cristãos. É por
isto que envolvemos em nossas preces, em nossas exortações e em nossas
felicitações, conforme o estado em que se achem, todos os Espíritos aos quais
nossa assistência pode ser útil, tenham ou não partilhado, em vida, de nossas
crenças.
O conhecimento do Espiritismo não é indispensável à felicidade futura,
porque não tem o privilégio de fazer eleitos. É um meio de chegar mais
facilmente e mais seguramente ao objetivo, pela fé racionada que ele dá e pela
caridade que ele inspira. Ele ilumina o caminho, e o homem, não mais seguindo
às cegas, marcha com mais segurança. Por ele, melhor se compreende o bem e o
mal. Ele dá mais força para praticar um e evitar o outro. Para ser agradável a
Deus, basta observar suas leis, isto é, praticar a caridade, que resume todas
elas. Ora, a caridade pode ser praticada por todos. Despojar-se de todos os
vícios e de todas as inclinações contrárias à caridade é, pois, condição
essencial da salvação.
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