Redução
da maioridade penal: há espíritas a favor e contra
Marco Milani
Muitos temas considerados polêmicos, como por exemplo a redução da maioridade penal, estão
agitando os debates em vários segmentos da sociedade brasileira neste momento,
com diferentes opiniões e posicionamentos. Isso faz parte do saudável exercício
democrático e da esperada liberdade de expressão.
A
validade e a qualidade dos argumentos utilizados por aqueles que são contra ou
a favor costumam variar. Ora verifica-se uma argumentação racional, ponderada e
calcada em evidências, ora promove-se a discussão passional, vazia e baseada em
juízo de valor. Mas isso também faz parte do ambiente que reúne pessoas com as
mais diferentes visões de mundo.
Uma
situação abusiva e equivocada, entretanto, ocorre quando alguns tentam se
apropriar da imagem e relevância social do Espiritismo para, de forma um tanto oportunista, tentar iludir os incautos de que suas próprias opiniões expressam o
“posicionamento” espírita. Em outras palavras, tentam se fazer passar por
representantes ou agir como porta-vozes da Doutrina Espírita e legitimar suas
convicções pessoais.
Um
ponto fundamental a ser considerado é que não podemos confundir aqueles que se
declaram espíritas com o próprio Espiritismo. Por isso a necessidade de
constante cuidado para não acreditarmos e acompanharmos todos aqueles que tentam
impor as próprias opiniões sobre temas sociais e transitórios polêmicos porque supostamente
eles estariam agindo em nome da Doutrina Espírita.
As
entidades representativas do movimento espírita seriam aquelas que mais
próximas estariam da figura de interlocutores formais e legítimos entre o
movimento espírita organizado e a sociedade em geral com relação a determinados
temas sociais, porém, isso não quer dizer que exista algum tipo de relação hierárquica impositiva entre as entidades, pois há autonomia entre adeptos e instituições, nem significa que todas as entidades se posicionarão de maneira igual em todos os
temas sobre as transitórias leis humanas, pois elas são formadas por pessoas que podem ter interpretações variadas
também. Espera-se que os princípios sejam exatamente os mesmos e eventuais
divergências ocorram em aspectos secundários ainda carentes de maiores
evidências. Mais uma vez se destaca a necessidade de se ter as obras de Allan
Kardec como referência fundamental e elemento integrador.
Lamentavelmente,
alguns tentam pinçar passagens ou trechos descontextualizados da Codificação
para também tentarem impor algum tipo de argumento de autoridade que justificaria
a própria opinião.
Recentemente,
um desses grupos, alegando-se formado por espíritas e que tentam legitimar opiniões por meio de
citações doutrinárias pontuais, divulgou uma mensagem citando a questão LE 379
como justificativa de seu posicionamento contrário à redução da maioridade
penal.
LE 379: O Espírito que anima o corpo de uma criança é tão
desenvolvido quanto o de um adulto?
— Pode mesmo ser mais,
se ele mais progrediu, pois são apenas os órgãos imperfeitos que o impedem de
se manifestar. Age de acordo com o instrumento de que se serve.
Ora, por outro lado, espíritas a favor da redução da maioridade penal poderiam argumentar, com
lógica, que a questão se refere a crianças e não a adolescentes ou adultos
jovens. Se, conforme as leis locais, aos 16 anos o indivíduo tem maturidade
para votar e escolher um governante, por que não poderia ser responsável pelo
crime que comete?
O fato é que há espíritas contrários e favoráveis à redução da maioridade penal e argumentos que favorecem a ambos os
posicionamentos. Todas as opiniões são respeitáveis, desde que não se utilizem
argumentos falaciosos.
O Espiritismo não dita regras. Ao contrário, liberta
consciências dos grilhões da ignorância e estimula o ser a superar
condicionamentos atávicos de dependência. Que cada um reflita com ponderação, inclusive
considerando o conhecimento revelado pelos espíritos e a responsabilidade que
cabe a cada um.
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