Lições políticas aos
espíritas *
Marco Milani
As
últimas eleições brasileiras contribuíram para a constatação de algo muito
relevante ao movimento espírita: não se deve confundir propostas doutrinárias
com preferências políticas. Enquanto cidadãos, temos o direito e a
obrigação de participarmos dos debates e escolhas dos gestores públicos, mas em
momento algum, devido ao fato de um eleitor também ser espírita, que suas
opções representarão o Espiritismo!
Verificamos
no período pré-eleitoral a manifestação, em redes sociais ou em outros
ambientes, de pessoas com certa evidência no movimento espírita, tais como
palestrantes e dirigentes, posicionando-se a favor deste ou daquele candidato.
Ora, quem se manifestou não foi o representante espírita mas o cidadão. As
divergências de opiniões apenas demonstraram que não há homogeneidade de
preferências partidárias e isso é esperado em um contexto democrático com
indivíduos que se encontram em diferentes níveis de maturidade moral e
intelectual.
Ao
menos, esse fato serve para justificar aos adeptos mais afoitos o porquê de ser
incompatível a criação de um partido espírita. A polarização política não
deveria desagregar ou gerar indisposições entre os espíritas, pois o que nos
une não é uma sigla partidária, mas são os conhecimentos sobre a realidade
espiritual e os ideais de caridade e fé raciocinada.
Certamente,
diante das responsabilidades assumidas nesta encarnação, desejamos realizar o
melhor em prol de nós mesmos e do próximo. Assim, quando acreditamos que o caminho mais adequado a ser trilhado para a construção de uma sociedade melhor segue
uma determinada direção, é natural mobilizarmos força e vontade para a
realização de nossas expectativas e interesses. A passividade não é uma
característica do espírita consciente.
É
a atuação coerente com os princípios e valores que acreditamos que
proporcionará a consciência tranquila e colaborará para o nosso próprio
desenvolvimento. A lei de causa e efeito é natural, logo, tudo o que fizermos
ou deixarmos de fazer refletirá em nosso processo evolutivo e não podemos
compactuar com situações que colidam com o que consideramos ético e correto.
Igualmente, devemos exercitar o respeito e contribuir com quem pensa diferente,
mas sem nos omitirmos diante do que supomos estar em erro.
Estamos
em um país carente por cidadãos e mandatários éticos e, independentemente das
cores partidárias, cabe a nós o bom combate, começando por nós mesmos.
Contribuamos para o Brasil que gostaríamos de viver. Afinal, quem pode afirmar que
nossa próxima reencarnação não será novamente aqui?
*
texto publicado no jornal Correio Fraterno, ano 47, nº 460, dez/14, p.13
Saudações Marco Milani!
ResponderExcluirMeus parabéns pelo artigo! Ele é conciso e vai direto ao ponto: o péssimo hábito que nós espíritas temos de confundir nossos gostos e preferências pessoas com a ciência e filosofia espíritas.
Ao que me parece, o comportamento político/partidário de muitas lideranças religiosas tem influenciado também os espíritas, que para conseguir eleger os candidatos de sua preferência, usam também de sua influência e do espaço do movimento espírita para conseguir mais votos.
Perdoe-me a franqueza Milani, mas é exatamente o rótulo de "religião" estampado por nós mesmos espíritas ao Espiritismo, que permite distorções dessa natureza.
Nós, enquanto espíritos de muitas existências carnais, ainda não conseguimos nos libertar dessa necessidade desesperadora da salvação que qualquer religião promete ao seu fiel.
Infelizmente, apenas importamos ao movimento espírita os comportamentos "menos dignos" de nossas ex-práticas (ou atuais) religiosas.
Um grande abraço!
Olá João!
ExcluirGrato pelo interessante comentário.
Certamente é a maturidade do adepto e o bom senso dos dirigentes espíritas que contribuirão para se atenuar essas distorções comportamentais que você destaca.
Por sinal, tenho um outro texto publicado neste blog que explora essa questão salvacionista. O nome do artigo é "A síndrome das ovelhas em busca de um pastor". Acho que você o apreciará. Abs.