domingo, 14 de dezembro de 2014

Lições políticas aos espíritas


Lições políticas aos espíritas *

Marco Milani

As últimas eleições brasileiras contribuíram para a constatação de algo muito relevante ao movimento espírita: não se deve confundir propostas doutrinárias com preferências políticas. Enquanto cidadãos, temos o direito e a obrigação de participarmos dos debates e escolhas dos gestores públicos, mas em momento algum, devido ao fato de um eleitor também ser espírita, que suas opções representarão o Espiritismo!
Verificamos no período pré-eleitoral a manifestação, em redes sociais ou em outros ambientes, de pessoas com certa evidência no movimento espírita, tais como palestrantes e dirigentes, posicionando-se a favor deste ou daquele candidato. Ora, quem se manifestou não foi o representante espírita mas o cidadão. As divergências de opiniões apenas demonstraram que não há homogeneidade de preferências partidárias e isso é esperado em um contexto democrático com indivíduos que se encontram em diferentes níveis de maturidade moral e intelectual.
Ao menos, esse fato serve para justificar aos adeptos mais afoitos o porquê de ser incompatível a criação de um partido espírita. A polarização política não deveria desagregar ou gerar indisposições entre os espíritas, pois o que nos une não é uma sigla partidária, mas são os conhecimentos sobre a realidade espiritual e os ideais de caridade e fé raciocinada.
Certamente, diante das responsabilidades assumidas nesta encarnação, desejamos realizar o melhor em prol de nós mesmos e do próximo. Assim, quando acreditamos que o caminho mais adequado a ser trilhado para a construção de uma sociedade melhor segue uma determinada direção, é natural mobilizarmos força e vontade para a realização de nossas expectativas e interesses. A passividade não é uma característica do espírita consciente.
É a atuação coerente com os princípios e valores que acreditamos que proporcionará a consciência tranquila e colaborará para o nosso próprio desenvolvimento. A lei de causa e efeito é natural, logo, tudo o que fizermos ou deixarmos de fazer refletirá em nosso processo evolutivo e não podemos compactuar com situações que colidam com o que consideramos ético e correto. Igualmente, devemos exercitar o respeito e contribuir com quem pensa diferente, mas sem nos omitirmos diante do que supomos estar em erro.
Estamos em um país carente por cidadãos e mandatários éticos e, independentemente das cores partidárias, cabe a nós o bom combate, começando por nós mesmos. Contribuamos para o Brasil que gostaríamos de viver. Afinal, quem pode afirmar que nossa próxima reencarnação não será novamente aqui?

* texto publicado no jornal Correio Fraterno, ano 47, nº 460, dez/14, p.13

2 comentários:

  1. Saudações Marco Milani!
    Meus parabéns pelo artigo! Ele é conciso e vai direto ao ponto: o péssimo hábito que nós espíritas temos de confundir nossos gostos e preferências pessoas com a ciência e filosofia espíritas.
    Ao que me parece, o comportamento político/partidário de muitas lideranças religiosas tem influenciado também os espíritas, que para conseguir eleger os candidatos de sua preferência, usam também de sua influência e do espaço do movimento espírita para conseguir mais votos.
    Perdoe-me a franqueza Milani, mas é exatamente o rótulo de "religião" estampado por nós mesmos espíritas ao Espiritismo, que permite distorções dessa natureza.
    Nós, enquanto espíritos de muitas existências carnais, ainda não conseguimos nos libertar dessa necessidade desesperadora da salvação que qualquer religião promete ao seu fiel.
    Infelizmente, apenas importamos ao movimento espírita os comportamentos "menos dignos" de nossas ex-práticas (ou atuais) religiosas.
    Um grande abraço!

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    1. Olá João!
      Grato pelo interessante comentário.
      Certamente é a maturidade do adepto e o bom senso dos dirigentes espíritas que contribuirão para se atenuar essas distorções comportamentais que você destaca.
      Por sinal, tenho um outro texto publicado neste blog que explora essa questão salvacionista. O nome do artigo é "A síndrome das ovelhas em busca de um pastor". Acho que você o apreciará. Abs.

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