Previsões escatológicas e Espiritismo
Marco Milani
Texto publicado na Revista Dirigente Espírita, ed. 195, mai/jun 2023, p. 11-12
As previsões escatológicas são aquelas que se referem ao final dos
tempos e ao destino da humanidade e do mundo. Essas previsões têm sido tema de
discussão há séculos e são encontradas em várias tradições religiosas e
filosóficas.
Uma das previsões escatológicas mais conhecidas é a do Apocalipse
bíblico, no qual descreve-se uma série de eventos que ocorrerão no final dos
tempos, incluindo guerras e desastres naturais. Sob as perspectivas católica e
islâmica, haverá um Dia do Juízo Final em que os justos serão levados ao Céu ou
Paraíso, enquanto os ímpios serão condenados ao Inferno.
Na filosofia hindu, a previsão escatológica mais popular é a do fim do
Kali Yuga, que é a era atual de desordem e sofrimento segundo o calendário
hindu, a qual também será marcada por desastres e conflitos, mas seguida por um
período de renovação e renascimento.
Diversas previsões feitas na história e já frustradas sobre o fim dos
tempos ou início de uma nova era geralmente coincidiam com datas emblemáticas,
como nos anos 800, 1.000, 1.500, 1.600, 1.800 e 2.000, ou datas específicas
como 1.260, 1.533, 1.892, 1.901 e 1982, dentre outras. Na última década, as
mais populares foram 2.012, associada ao calendário Maia, e 2.019, atribuída ao
médium mineiro Francisco Cândido Xavier e ficou conhecida como “data limite”
considerando sua finalidade de alerta à humanidade para a mudança de atitudes.
Mas há predições escatológicas no Espiritismo?
Allan Kardec, no item 16, do capítulo XVI, do livro A gênese, assim se expressa:
“[...] os Espíritos sábios nunca predizem
nada em épocas fixas, limitando-se a nos prevenir sobre a sequência dos fatos
que nos seja útil conhecer. Insistir por obter pormenores precisos é expor-se
às mistificações dos Espíritos levianos que predizem tudo o que se queira, sem
se preocuparem com a verdade, divertindo-se com os terrores e as decepções que
causam.” (KARDEC, 2022)
Encerrando a obra A gênese, o capítulo 18 intitula-se “Os tempos são
chegados” e sinaliza, justamente, uma etapa representativa de aperfeiçoamento
moral do Espírito que refletirá nos hábitos e costumes sociais. Assim,
coletivamente, notar-se-á a predominância de atitudes mais condizentes com a
prática do Bem, em contraste com períodos anteriores marcados com mais
intensidade pelo egoísmo e orgulho. Isso não quer dizer que esse período de
transformação seja igual para todos os seres, pois o livre-arbítrio e os esforços
individuais determinarão as condições morais de cada um.
O planeta, dessa maneira, progride fisicamente pelas transformações
geológicas e pelas ações inteligentes dos homens e, moralmente, pela depuração
dos indivíduos encarnados e desencarnados que o povoam.
Todos os mundos são solidários e, enquanto o Espírito necessitar
reencarnar, ocupará aqueles que lhe são mais propícios no Universo conforme o
nível de desenvolvimento moral e intelectual que se encontrar. Se hoje estamos
na Terra, não significa, necessariamente, que em encarnações anteriores aqui
estivemos ou, ainda, que aqui estaremos nas próximas.
Estudos astronômicos estimam o fim da existência humana neste planeta
para daqui a 1,6 bilhão de anos, quando o aumento da temperatura provocada pela
expansão do Sol inviabilizará a vida terrestre. É uma previsão factual e
objetiva.
Considerando a imortalidade do ser, grandezas como milhões, bilhões ou
trilhões de anos são referências que deixam de fazer o mesmo sentido na
erraticidade. Conforme a questão nº 224, de O livro dos Espíritos, o intervalo
entre as encarnações pode durar de algumas horas a alguns milhares de séculos
(KARDEC, 1998).
Para o Espírito, o colapso natural das condições de vida orgânica neste
mundo não interromperá a sua trajetória evolutiva no Universo. O que nos
importa é fazer o bem onde estivermos.
Referências
KARDEC, A. A gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Tradução da 4ª edição francesa. São Paulo: USE, 2022.
KARDEC, A. O livro dos Espíritos. São Paulo: EME, 1998.
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