sexta-feira, 12 de julho de 2024

A responsabilidade do dirigente espírita nas palestras públicas


 A responsabilidade do dirigente espírita nas palestras públicas

 

Marco Milani

 

 Texto publicado na Revista Dirigente Espírita, ed. 201, jul/ago 2024, p. 34-35

 

Dentre as diversas atividades desenvolvidas em uma instituição espírita, o oferecimento de palestras públicas é uma das mais destacadas, não somente pela possibilidade de divulgação do Espiritismo à sociedade, mas também por representar uma prática relevante de caridade. O conhecimento sobre a existência e a natureza do mundo espiritual, assim como suas relações com o mundo corpóreo, amplia o horizonte intelectual e permite compreender a perfeita Justiça Divina que rege nossas vidas. O entendimento dessa realidade, aliado ao autoconhecimento, conforta, fortalece e motiva os indivíduos a buscarem uma situação mais feliz, com a certeza de que todo esforço voltado ao bem será recompensado.

Para apresentar essa riqueza de princípios e valores filosóficos com aplicações práticas, a tribuna espírita deve ser ocupada por trabalhadores comprometidos com a divulgação sincera, transparente e, principalmente, coerente do Espiritismo. A base doutrinária representada pelo ensino dos Espíritos, apresentada por Allan Kardec em suas obras após rigoroso critério de validação das informações obtidas por múltiplas fontes pelo método que ele mesmo denominou Controle Universal, é o caminho seguro que qualquer palestrante deve utilizar.

Um equívoco comum, cometido por aqueles que não percebem a significativa diferença entre as informações validadas metodologicamente por Allan Kardec e as informações obtidas por outras fontes que não passaram por nenhum processo rigoroso de análise crítica, lastreado em fatos objetivos, é supor que novidades descritas em romances ou mensagens mediúnicas sejam atualizações da base doutrinária.[1]

De forma simples, pode-se colocar o problema da seguinte maneira: o Espiritismo se estrutura sobre o ensino dos Espíritos, validado pelo Controle Universal, porém, para muita gente, as opiniões de médiuns e escritores teriam o mesmo peso ou até superariam as obras de Allan Kardec.

Certamente, o Espiritismo deve acompanhar o progresso da ciência, e isso é uma condição prevista por Kardec. Logo, o contínuo aprimoramento do conhecimento é uma característica intrínseca da ortodoxia espírita. A fé raciocinada decorre primordialmente da compreensão dos fatos e da argumentação filosófica robusta para ser exercida.

Com a mesma prudência da ciência, que avança considerando evidências e a aplicação de um método capaz de garantir a segurança dos resultados obtidos, o Espiritismo assim o faz. Até o momento, os princípios doutrinários não necessitaram ser reformulados diante de novas informações, pois nenhuma foi validada objetivamente.

Sendo assim, o palestrante espírita deve expor o conteúdo das obras de Allan Kardec e não confundir o público com informações contraditórias e sem validação, mesmo aquelas presentes nos milhares de títulos de romances e outras obras amplamente comercializadas no mercado editorial voltado aos leitores espiritualistas. A seleção de palestrantes, portanto, é de extrema relevância para a manutenção da integridade doutrinária e para o correto desenvolvimento das atividades dos centros espíritas. Cabe aos dirigentes a responsabilidade de convidar oradores que possuam um conhecimento baseado nos princípios estabelecidos por Allan Kardec, evitando aqueles que disseminam ideias místicas, fantasiosas ou opiniões pessoais polêmicas e conflitantes.

Além da solidez doutrinária, é essencial que os palestrantes se comuniquem de maneira clara e envolvente, com técnicas apropriadas de oratória, expressividade corporal, uso de recursos audiovisuais e capacidade de motivar o público. A promoção de cursos ou seminários de expositores nas casas espíritas gera um significativo aumento da qualidade dos colaboradores para essa tarefa. Adicionalmente, o compartilhamento fraterno de palestrantes entre instituições próximas ou a presença de convidados para determinados temas previamente selecionados favorece a sinergia do movimento espírita. O órgão local da USE (no Estado de São Paulo) ou das entidades federativas de cada região poderá, sem dúvida, contribuir nesse sentido.

Recomenda-se, por fim, a formação de um cadastro positivo de palestrantes locais que demonstrem o comprometimento e a coerência doutrinária esperados, assim como a disponibilidade para atuar nas casas da região.

 

 

 

 



[1] Ver O evangelho segundo o espiritismo, Introdução, item 2 – Autoridade da doutrina espírita.

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