segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Encontro discute os livros espíritas e pseudoespíritas



Encontro discute os livros espíritas e pseudoespíritas

por Marco Milani

Realizou-se na tarde do último sábado (20/2), mais um encontro da série Diálogos, promovido pela USE Regional São Paulo. O evento, ocorrido na sede da USE-SP, recebeu cerca de 80 pessoas interessadas em discutir o tema Livros Espíritas e Pseudoespíritas.
Estruturado de maneira a incentivar a participação do público formado, em sua maioria, por dirigentes e colaboradores de casas espíritas, o encontro transcorreu de maneira harmônica e produtiva, levando os presentes a refletir sobre a qualidade doutrinária da literatura considerada espírita.
Inicialmente, a equipe organizadora apresentou os principais conceitos metodológicos utilizados por Allan Kardec para edificar a Doutrina dos Espíritos e esclareceu sobre o significado do dinamismo doutrinário proposto no próprio corpo teórico do Espiritismo. Diferenciou-se espiritualismo de espiritismo, sendo o primeiro a crença abrangente em algo mais além da matéria (em oposição ao materialismo) e o segundo em uma doutrina com princípios e valores muito bem definidos que a distingue de outras doutrinas espiritualistas.
Abordou-se, posteriormente, o problema da confusão lógica que muitos adeptos sofrem ao abraçar, ao mesmo tempo, conceitos contraditórios entre si. Tal confusão é típica daqueles que se afirmam universalistas, ecumênicos ou ecléticos, os quais acreditam que todas as linhas de pensamento são válidas então devem ser misturadas. Tais pessoas não compreenderam que o respeito a outras formas de pensar não implica em assumir cosmovisões diferentes se as mesmas forem antagônicas. Seria o equivalente a acreditar, simultaneamente, que existem e não existem Espíritos. É ilógico e incoerente. Assim, se alguém se diz espírita, supõe-se que compreenda, acredite e siga os princípios e valores espíritas e não os substitua por outros, sob o risco de estar sendo incoerente consigo mesmo.
Sobre a ação da fé raciocinada na literatura, destacou-se a relevância da postura crítico-analítica que todo leitor deveria ter perante qualquer texto, seja ele anímico ou mediúnico. A análise do conteúdo é essencial e não se justifica acreditar em alguma informação ou mensagem apenas pelo fato de ser atribuída a algum Espírito ou recebida por esse ou aquele autor, encarnado ou desencarnado, por mais famoso que seja. São as evidências e a postura racional que permitirão aceitar ou refutar algo como válido.
Diante da grande quantidade de títulos de qualidade duvidosa direcionados ao público espírita e espiritualista em geral, é fundamental compreender os princípios espíritas para se analisar e classificar uma obra como espírita ou pseudoespírita.
Por pseudoespíritas, consideram-se aqueles livros que são espiritualistas e se aproximam dos conceitos e da cosmovisão espírita em diversos aspectos, porém, também apresentam informações e ideias contraditórias aos princípios espíritas. É o caso de obras místicas e fantasiosas, que levam o leitor a acreditar na validade da astrologia, na necessidade de uso roupas especiais, símbolos e paramentos para se atrair e se comunicar com Espíritos, em situações infundadas no mundo espiritual como gravidez de desencarnados, na erraticidade de animais como se fossem humanos, na existência de almas gêmeas, em uma natureza não carnal do corpo de Jesus, na possibilidade do Espírito regredir em seu processo evolutivo e reencarnar em corpos de animais (metempsicose) dentre outras afirmações incoerentes e infundadas.
Por mais respeitáveis que sejam todas as escolas e linhas espiritualistas, cada uma interpreta a realidade com lentes específicas. Isso não quer dizer que algumas são melhores que outras, apenas de que são cosmovisões diferentes. Se contribuírem para a evolução moral e intelectual dos seres, são pertinentes e úteis diante da diversidade de interesses e culturas presentes na humanidade.
O verdadeiro espírita é aquele que, ao compreender as questões ontológicas e as relações entre os mundos visível e invisível esclarecidas pelos Espíritos e apresentadas nas obras da Codificação, desperta e esforça-se por melhorar moral e intelectualmente. O livro espírita é aquele cujo conteúdo, portanto, expressa adequadamente os princípios e valores do Espiritismo.
Uma situação preocupante encontrada no Brasil é a dificuldade de compreensão plena de textos complexos. Segundo o Instituto Paulo Montenegro, vinculado ao IBOPE, cerca de 38% dos universitários brasileiros não conseguem interpretar e fazer associações em textos que exijam abstrações, ou seja, parte significativa do grupo de pessoas com maior quantidade de anos de estudo não compreende integralmente o que estão lendo. Igualmente, há dificuldade intelectiva para a leitura e compreensão das obras de Kardec com os ensinamentos do Espíritos, o que permite a suposição de diferentes graus de alfabetização doutrinária.
Na interação com o público, foi apresentado um esquema simples de identificação do livro espírita e pseudoespírita, baseado na coerência com os princípios e conceitos doutrinários apresentados por Kardec.
Ao final do evento, os participantes destacaram a valorosa iniciativa da USE Regional São Paulo e elogiaram a organização pela proposta do encontro, incentivando a reflexão e sem qualquer cerceamento de ideias.
Considerando a relevância do tema e a premente necessidade da discussão contínua no movimento espírita, o Departamento do Livro da USE planeja novos encontros em outras regiões da capital e do interior do Estado para tratar da qualidade doutrinária da literatura espírita.
          Com relação à temática metodológica para se analisar os critérios necessários para se validar o conhecimento espírita, a USE Regional SP programou o Fórum “Coerência Doutrinária: a fé raciocinada em ação” para o dia 18/06/2016, quando espera reunir pesquisadores e colaboradores espíritas para discutir essa importante questão. O local ainda será confirmado.

2 comentários:

  1. Parabéns pela iniciativa. Precisamos zelar pelos princípios espíritas para que o trabalho hercúleo de Kardec, não tenha sido em vão.

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    1. Caros colegas da AME Itajubá, agradecemos o contato e as palavras de incentivo. Certamente, cabe aos espíritas compreenderem e disseminarem o rico e vasto conhecimento trazido pelos Espíritos e organizados por Allan Kardec. Muita Paz!

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