sábado, 28 de janeiro de 2023

Espiritismo: libertador de consciências?

 

ESPIRITISMO: LIBERTADOR DE CONSCIÊNCIAS?

Marco Antonio Milani Filho


(Artigo publicado no Jornal Espírita, em ano estimado de 1994)


 A Doutrina Espírita firmou-se como um dos mais poderosos meios de transformação moral do planeta, consolando e esclarecendo multidões, convidando para a reflexão raciocinada sobre a realidade existencial do ser e reconhecendo a infinita bondade e sabedoria de Deus.

 Fundamentada em bases sólidas, expande-se em função de suas ideias claras e propostas sinceras, conquistando através da lógica e de sua simplicidade.

 Tem como bandeira a Caridade, e combate energicamente as chagas morais da Humanidade: o orgulho e o egoísmo.

 Promovendo a reforma íntima, através do autoconhecimento, incentiva o indivíduo a tornar-se agente do desenvolvimento de si mesmo e da sociedade, libertando-o de seus vícios e defeitos, por atos e pensamentos equilibrados.

 Sendo uma doutrina dinâmica, sem dogmas ou preconceitos, está aberta à análise e discussão de todos os seus princípios, permitindo seu exame crítico por todos, espíritas ou não.

 Deste modo, são saudáveis os questionamentos sinceros, que busquem o conhecimento como forma de aprendizagem, seguindo a mesma linha metodológica de Kardec, não aceitando uma informação sem antes analisá-la logicamente.

 Existem, por sua vez, aqueles que pesquisam e indagam, motivados exclusivamente para descobrir um suposto aspecto falho na doutrina, mas que também são muito úteis, pois testam a veracidade e a solidez doutrinária.

 Até hoje, todos aqueles que iniciaram pesquisas científicas ou perquirições, visando a unicamente demolir os argumentos espíritas, terminaram por comprovar a solidez destes, provocando, em vários detratores, a revisão de seus pontos de vista e conformação diante dos fatos.

 Percebe-se, por sua vez, o compromisso com a verdade que possui o Espiritismo.

 E este compromisso impele os espíritas à constante reflexão sobre seus próprios atos e sobre as inúmeras ideias que tentam misturar-se na doutrina, deturpando seu conteúdo. Prova disso é que Kardec afirmava ser “dever dos verdadeiros espíritas repudiarem e desautorizarem abertamente os abusos que possam comprometer o Espiritismo” e ainda, que “pactuar com os abusos seria tornar-se cúmplice e fornecer armas aos nossos adversários” (ver Revista Espírita - Junho/1865 - “Nova tática dos adversários do Espiritismo”).

 A identificação dos verdadeiros espíritas, aos quais Kardec se referia, aqueles que lutam pela divulgação e bom entendimento do Espiritismo, é feita como Jesus ponderou, reconhecendo a árvore pelos seus frutos.

 Valorosos trabalhadores da seara espírita, como Carlos Imbassahy, Herculano Pires, Canuto Abreu, Deolindo Amorim, entre outros, lutaram incansavelmente pela compreensão doutrinária, alertando para possíveis desvios e erros de interpretação que poderiam estar sendo praticados.

 Aprofundaram-se o quanto puderam nos ensinamentos dos Espíritos, oferecendo importantes obras para o desenvolvimento moral, científico e filosófico.

 É comum, entretanto, levantarem-se algumas vozes incomodadas com a não aceitação, no meio espírita, de teorias mirabolantes ou fantásticas, sem cunho científico, pendendo frequentemente para o misticismo, ou ainda os modismos atribuídos ao progresso.

 Acusam a doutrina de sectarista e fechada em si mesma, refratária a algumas ideias que, segundo eles, são plenamente válidas e pertinentes, concluindo que o Espiritismo é avesso a novas práticas e tendências, fugindo do dinamismo apregoado. Chegam a afirmar que Kardec está ultrapassado.

 Convenhamos, em primeiro lugar o bom senso!

 Tudo deve ser encarado racionalmente, demonstrando que a verdadeira fé “é aquela que pode enfrentar a razão, face a face, em todas as épocas da Humanidade” (Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. XIX - item 7).

 Se novas ideias ou práticas se mostrarem em desacordo com os princípios adotados, depois de analisados criteriosamente, como Kardec procedia com as informações dos Espíritos, não devem ser difundidas como práticas espíritas.

 Almejar a pureza doutrinária não cerceia a liberdade do indivíduo, que pode acreditar em que achar mais coerente. O importante é que ele pratique o bem, e existem diversas religiões e escolas filosóficas justamente para atender às suas necessidades, de acordo com seu estágio evolutivo.

 O respeito aos irmãos de outras crenças é ato de caridade, assim como para com aqueles que não abraçaram o Espiritismo.

 É também ato de caridade a busca da verdade. Por isso, qualquer afirmação ou postura filosófica e científica é passível de exame minucioso.

 Da mesma forma, ninguém pode intitular-se defensor das verdades espíritas, fechar-se em si mesmo (ou em seu Centro), e condenar qualquer tipo de discussão doutrinária. É um comportamento tão radical e desequilibrado quanto aquele que aceita prontamente qualquer novidade sem refletir sobre ela.

 Kardec, quando conclama os espíritas a repudiarem os abusos que possam comprometer a doutrina, dirige-se aos espíritas sinceros, de bom senso, e não exclusivamente a uma pessoa.

 É o estudo constante e a fraternidade que determinarão o grau de compreensão que possuímos desta maravilhosa doutrina cristã, libertadora de consciências.




 


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