A prática da caridade e a ostentação pessoal
Marco Milani
Texto publicado na Revista Candeia Espírita, nº 34, julho de 2024, p. 10-11
A prática da
caridade é um dos pilares do Espiritismo objetivando-se o progresso espiritual.
Doutrinariamente, a caridade não se limita à doação material, mas abrange a
benevolência para com todos, a indulgência para com as imperfeições alheias e o
perdão das ofensas[1].
No entanto, um problema que pode surgir na prática de ações assistenciais é a
ostentação pessoal, a qual vincula-se diretamente ao orgulho e à vaidade.
No capítulo
XIII da obra “O evangelho segundo o espiritismo”, enfatiza-se que a verdadeira
caridade deve ser humilde e desinteressada, destacando-se que não se trata
apenas do ato em si, mas também da maneira como ela é praticada. No intuito de
exibir-se perante os outros ou para obter reconhecimento público, o ato desvirtua-se.
Certamente, a
divulgação de ações caridosas pode motivar outras pessoas a praticarem o bem,
desde que seja feita com sinceridade, humildade e o propósito de inspirar e
conscientizar. Nesse sentido, buscar-se-á criar um ambiente de solidariedade e
empatia, onde mais pessoas se sentirão encorajadas a contribuir para o
bem-estar coletivo, promovendo o progresso moral da coletividade.
A distinção
entre a divulgação desinteressada do auxílio ao próximo e a ostentação vaidosa reside
na intenção, mas ao contrário do que alguns poderiam supor, não se trata de um
problema restrito ao orgulhoso, quando assim ocorrer. A exposição pública dos
beneficiários dos bens e serviços oferecidos pode ser constrangedora, além dessas
pessoas serem usadas como coadjuvantes para a própria satisfação egóica do
“caridoso”.
O exercício do
autoconhecimento, conforme orientado por Santo Agostinho[2],
favorece o combate à vaidade e o cultivo da humildade. A reflexão frequente
sobre os pensamentos, palavras e ações ao final de cada dia promove um exame
introspectivo que permite reconhecer falhas e virtudes, levando a pessoa a um
entendimento mais profundo de si mesmo.
A introspecção,
em um processo direcionado ao aperfeiçoamento moral, estimula o desenvolvimento
de uma consciência altruísta e o cultivo da empatia, fortalecendo a prática da
caridade desinteressada.
O
autoconhecimento, de maneira mais ampla, incentiva uma compreensão mais
profunda de si mesmo, levando a uma maior segurança pessoal e independência
emocional. Isso, por sua vez, reduz a necessidade de reconhecimento em redes
sociais, pois a pessoa encontra valor e validação internamente e em conexões
reais e significativas.
Assim, ao
invés da pueril ostentação midiática de pretensos benfeitores ávidos por
curtidas em suas postagens públicas, que os adeptos sinceros possam,
efetivamente, praticar a caridade de maneira autêntica e desinteressada,
contentando-se com o reconhecimento da própria consciência.
Porque em toda a acção está patente a intenção, sempre que damos umas migalhas deviamos colocar a mão no coração e o pensamento na razão...
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