sexta-feira, 26 de maio de 2023

Previsões escatológicas e Espiritismo

 


Previsões escatológicas e Espiritismo

 

Marco Milani

 

Texto publicado na Revista Dirigente Espírita, ed. 195, mai/jun 2023, p. 11-12

 

As previsões escatológicas são aquelas que se referem ao final dos tempos e ao destino da humanidade e do mundo. Essas previsões têm sido tema de discussão há séculos e são encontradas em várias tradições religiosas e filosóficas.

Uma das previsões escatológicas mais conhecidas é a do Apocalipse bíblico, no qual descreve-se uma série de eventos que ocorrerão no final dos tempos, incluindo guerras e desastres naturais. Sob as perspectivas católica e islâmica, haverá um Dia do Juízo Final em que os justos serão levados ao Céu ou Paraíso, enquanto os ímpios serão condenados ao Inferno.

Na filosofia hindu, a previsão escatológica mais popular é a do fim do Kali Yuga, que é a era atual de desordem e sofrimento segundo o calendário hindu, a qual também será marcada por desastres e conflitos, mas seguida por um período de renovação e renascimento.

Diversas previsões feitas na história e já frustradas sobre o fim dos tempos ou início de uma nova era geralmente coincidiam com datas emblemáticas, como nos anos 800, 1.000, 1.500, 1.600, 1.800 e 2.000, ou datas específicas como 1.260, 1.533, 1.892, 1.901 e 1982, dentre outras. Na última década, as mais populares foram 2.012, associada ao calendário Maia, e 2.019, atribuída ao médium mineiro Francisco Cândido Xavier e ficou conhecida como “data limite” considerando sua finalidade de alerta à humanidade para a mudança de atitudes.

Mas há predições escatológicas no Espiritismo?

Allan Kardec, no item 16, do capítulo XVI, do livro A gênese, assim se expressa:

 

“[...] os Espíritos sábios nunca predizem nada em épocas fixas, limitando-se a nos prevenir sobre a sequência dos fatos que nos seja útil conhecer. Insistir por obter pormenores precisos é expor-se às mistificações dos Espíritos levianos que predizem tudo o que se queira, sem se preocuparem com a verdade, divertindo-se com os terrores e as decepções que causam.” (KARDEC, 2022)

 Sob a perspectiva espírita, o processo evolutivo do ser permite prever que destino do Espírito é sua autorrealização plena, atingindo o grau máximo da pureza espiritual sem mais a necessidade da reencarnação. Desde a sua criação, o princípio inteligente percorre uma trajetória para nós desconhecida em seus detalhes, porém com a certeza de que o seu desenvolvimento não limita-se a um planeta ou época. Logo, a Terra é apenas uma oportunidade de encarnação. Nesse sentido, qualquer predição sobre uma nova era assume um significado muito mais simbólico do que objetivo.

Encerrando a obra A gênese, o capítulo 18 intitula-se “Os tempos são chegados” e sinaliza, justamente, uma etapa representativa de aperfeiçoamento moral do Espírito que refletirá nos hábitos e costumes sociais. Assim, coletivamente, notar-se-á a predominância de atitudes mais condizentes com a prática do Bem, em contraste com períodos anteriores marcados com mais intensidade pelo egoísmo e orgulho. Isso não quer dizer que esse período de transformação seja igual para todos os seres, pois o livre-arbítrio e os esforços individuais determinarão as condições morais de cada um.

O planeta, dessa maneira, progride fisicamente pelas transformações geológicas e pelas ações inteligentes dos homens e, moralmente, pela depuração dos indivíduos encarnados e desencarnados que o povoam.

Todos os mundos são solidários e, enquanto o Espírito necessitar reencarnar, ocupará aqueles que lhe são mais propícios no Universo conforme o nível de desenvolvimento moral e intelectual que se encontrar. Se hoje estamos na Terra, não significa, necessariamente, que em encarnações anteriores aqui estivemos ou, ainda, que aqui estaremos nas próximas.

Estudos astronômicos estimam o fim da existência humana neste planeta para daqui a 1,6 bilhão de anos, quando o aumento da temperatura provocada pela expansão do Sol inviabilizará a vida terrestre. É uma previsão factual e objetiva.

Considerando a imortalidade do ser, grandezas como milhões, bilhões ou trilhões de anos são referências que deixam de fazer o mesmo sentido na erraticidade. Conforme a questão nº 224, de O livro dos Espíritos, o intervalo entre as encarnações pode durar de algumas horas a alguns milhares de séculos (KARDEC, 1998).

Para o Espírito, o colapso natural das condições de vida orgânica neste mundo não interromperá a sua trajetória evolutiva no Universo. O que nos importa é fazer o bem onde estivermos.

  

Referências

KARDEC, A. A gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Tradução da 4ª edição francesa. São Paulo: USE, 2022.

KARDEC, A. O livro dos Espíritos. São Paulo: EME, 1998.



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