sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Literatura espírita


Literatura Espírita

Ricardo dos Santos Malta

Arthur Schopenhauer teve a oportunidade de dizer que “seria uma vantagem inestimável se, em todas as áreas da literatura, existissem apenas alguns poucos livros, mas obras excelentes”.[1]
Por sua vez, o próprio Allan Kardec reconheceu “que seria preferível que só fossem publicados bons livros”.[2]
Infelizmente, isso não ocorre, ainda. Sem dúvida, num mundo de provas e expiações, é esperado que o joio cresça junto do trigo (Mateus 13:29-30).
A publicação de obras sem qualidade é um fator negativo em qualquer segmento literário, com o Espiritismo não poderia ser diferente.
Não se pretende com isso cercear o direito de livre expressão nem proibir a leitura de qualquer obra, seja ela psicografada ou não.
Por outro lado, a crítica literária também constitui um direito irreprochável, desde que realizada, certamente, com caridade.
Ora, em matéria de psicografia, especialmente, muitos exigem o direito de publicação irrestrita, mesmo das mensagens mais excêntricas, contudo, não permitem nem mesmo o exame do conteúdo, melindrando-se com as mais simples observações doutrinárias.
Atitude suspeita, pois os Espíritos Superiores “nos aconselham a examinar as comunicações, já que não têm nada a temer do exame”. (O Livro dos Médiuns, 2º Parte, item 266). Por outro lado, a tática dos Espíritos inferiores consiste em evitar toda e qualquer análise crítica.
Quem ousar defender os princípios espíritas, pautados nas obras fundamentais de Allan Kardec, corre o risco de ser taxado, por parte de alguns, de retrogrado, conservador, ultrapassado, ortodoxo etc.
Todavia, esclarece J. Herculano pires:
É legitima caridade repelir todas essas fantasias em nome da verdade, mesmo que isso magoe alguns companheiros iludidos. A tolerância comodista dos que veem o erro e se calam é crime que terá de ser pago no futuro. Quem compactua com o erro para não criar problemas está, sem o saber, enleando-se nas teias sombrias da mentira, compromissando-se com os mentirosos. [3]
De modo semelhante, aduz o Espírito Vianna de Carvalho:
Não é humildade, como se vulgariza, silenciar ante o mal, concordar com todos os disparates em nome de um conjunto de ensinamentos honoráveis como o Espiritismo, fazendo propaganda pessoal de virtude aparente à custa do sacrifício da mensagem edificante. [4]
Se a publicação de obras antidoutrinárias já é algo danoso, tomar como verdade os piores erros é ainda mais grave e absurdo. A única defesa que tem o leitor espírita é o estudo prévio das obras fundamentais do Espiritismo, antidoto eficiente, porém, desprezado por muitos.
Não podemos fazer o papel de Filadélfio, personagem de Jorge Amado, que vivia com um livro de Allan Kardec em baixo do braço, “lia eternamente aquele livro e nunca chegará ao fim, não passara mesmo da página 30 e se dizia espírita”. [5]´
É preciso estudar o Espiritismo!
Conforme diria René Descartes, “a leitura de todos os bons livros é como uma conversa com os espíritos mais cultos dos séculos passados, que foram os seus autores, e como que uma conversa erudita, na qual esses autores nos descobrem os seus melhores pensamentos”. [6]  
Partindo desta premissa, podemos conceber que o leitor tem o privilégio de dialogar com o próprio Allan Kardec, receber os conselhos e ensinamentos do Espírito Erasto e toda plêiade de Espíritos Superiores que colaboraram com o conteúdo das obras fundamentais; é possível, ainda, estreitar laços com os pensamentos filosóficos de Leon Denis e Herculano Pires, ter aulas científicas com Ernesto Bozzano e Gabriel Delanne, aprender o Evangelho com Caibar Schutel e o Espírito Emmanuel, enfim, tem a oportunidade de conversar com os vultos do Espiritismo, por intermédio de suas obras imortais.
Infelizmente, não raro, “o público é tão simplório que prefere ler o novo a ler o que é bom”.[7] Isso não que dizer que os novos escritores sejam descartáveis ou ruins, pelo contrário, há excelentes trabalhos na atualidade.
A crítica serve apenas para que o leitor tenha mais cautela com essa enxurrada de falsas novidades/revelações que constituem verdadeiros modismos, destituídos de base doutrinária.
Portanto, é imperioso estudar e valorizar as obras fundamentais e os grandes clássicos da Doutrina Espírita, verdadeiros tesouros, às vezes esquecidos. Em verdade, “sempre que possível, é melhor ler os verdadeiros autores, os fundadores e os descobridores das coisas, ou pelo menos os grandes e reconhecidos mestres da área”. [8]

FONTE: Revista O Reformador, Ago/14, pp. 31-32



[1] SCHOPENHAUER, Arthur. A Arte de Escrever. LEPM Editores. 2009. Pág. 56
[2] KARDEC, ALLAN. Viagem Espírita em 1862 e outras viagens de Allan Kardec. FEB. 2007. Pág. 122
[3] PIRES, José Herculano. Curso Dinâmico de Espiritismo. Editora Paidéia. 2000. Pág. 151.
[4] FRANCO, Divaldo Franco. Espiritismo e Vida. Pelo Espírito Vianna de Carvalho.  Editora Leal. 2009. Pág. 147.
[5] AMADO, Jorge. Mar Morto. Editora Companhia das Letras. 2012. Pág. 127
[6] DESCARTES, René. Discurso do Método. Editora Saraiva. 2011. Pág. 30.
[7] SCHOPENHAUER, Arthur. A Arte de Escrever. LEPM Editores. 2009. Pág. 70.
[8] SCHOPENHAUER, Arthur. A Arte de Escrever. LEPM Editores. 2009. Pág. 61.

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