quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A Síndrome das Ovelhas em Busca de um Pastor



Marco Milani

O comportamento do indivíduo reflete muitos condicionamentos desenvolvidos em sua própria história. Sob a perspectiva espírita, sabemos que somos seres imortais vivenciando oportunidades evolutivas para realizarmos a perfeição relativa de que somos suscetíveis. Nesse sentido, estamos experimentando situações que nos farão exercitar a inteligência e desenvolver aspectos morais, permitindo-nos conhecer a nós mesmos e compreender a realidade em que vivemos, estejamos nós encarnados ou desencarnados. Também sabemos que naturalmente somos atraídos e atraímos essas situações, em que nos compete agir conforme a responsabilidade e conhecimento de cada um.
A Doutrina Espírita nos favorece a compreensão desse processo evolutivo e representa um avanço para a humanidade em relação à superação de condicionamentos místicos e irracionais que distorcem a percepção da realidade. As relações entre os mundos físico e espiritual são apresentadas com lucidez e clareza que chegam a surpreender aqueles que ainda apreciam segredos e mistérios típicos das tradições de culturas do passado. O Espiritismo revoluciona com sua racionalidade e liberta consciências do pensamento mágico e ilusório. Tal superação, entretanto, exige esforço individual e não se deve esperar que todos avancem igualmente. O atavismo manifesto em alguns adeptos que ainda lutam para se desvencilhar de práticas e posturas que são reconhecidas como ineficazes e sem qualquer validade nas relações entre encarnados e desencarnados ou mesmo para com Deus é um fato.
A marcha progressista fará com que todos avancem, mas cada um a seu tempo. Não é por isso, contudo, que o comportamento atávico deva ser incentivado. Ao contrário, respeitosamente se deve esclarecer e incentivar essa superação e foi justamente nessa direção que Kardec e os Espíritos que estruturaram o corpo teórico espírita agiram.
Se por um lado, a proposta religiosa destacou a necessidade de relevantes padrões éticos, por outro os condicionamentos resultantes de séculos de adestramento, misticismo e opressão religiosa ainda se fazem sentidos em boa parte da humanidade. Uma característica marcante desse comportamento é o temor, submissão e a noção de troca com o sagrado. Certamente, aqueles que se declaravam representantes de Deus, Jesus ou de forças ocultas na Terra contribuíram para o apassivamento de comunidades inteiras e a criação de uma relação de dependência de intermediários aparentemente iluminados para interceder em nome dos seguidores. Essa dependência por intermediários ou por práticas supostamente relacionadas ao Divino e misterioso ainda faz com que muitos tendam a procurar alguém ou uma instituição para depositar suas esperanças em busca de salvação ou de suprimento de seus anseios. Adotam o comportamento de ovelhas em busca de um pastor para lhes guiar e prover.
Especificamente no Brasil, um país de tradição católica e influência sincrética de diferentes denominações religiosas, é compreensível que muitos cheguem ao centro espírita expressando o desejo salvacionista e com forte dependência por intermediários com o invisível. Quando passam a conhecer e estudar o Espiritismo, deparam-se com uma lógica inovadora para a maioria, na qual cada um é responsável por sua própria salvação sem depender da intervenção de qualquer pessoa ou ter que seguir ritos, interpretar símbolos, contribuir com o dízimo ou adotar práticas exteriores.
A síndrome de ovelha ainda pode se manifestar em muitos adeptos espíritas, mas à medida que vão se conscientizando de que nasceram para ser pastores de si mesmos passam a reduzir o grau de dependência por supostos condutores de alma e aumentam a  autoconfiança em busca da própria realização espiritual.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto.
    Gostei bastante deste blog.
    Desejo Paz e Sucesso!

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  2. Saudações Marco Milani!
    Meus parabéns pelo artigo! Concordo plenamente com os argumentos apresentados. No entanto, a evolução que todos nós estamos destinados, deve demorar um pouquinho no que diz respeito ao movimento espírita brasileiro.
    Infelizmente, as instituições que respresentam o Espiritismo no Brasil levantam a bandeira do suposto caráter religioso da Doutrina. É muito triste assistir uma palestra sobre o Jesus histórico na Casa Espírita e ver os religiosos espíritas indignados e revoltados com as descobertas que ciência tem feito acerca do homem de Nazaré, afirmando ser tudo isso uma heresia.
    A ciência espírita, que ainda é realizada por pouquíssimas pessoas (mas muito guerreiras) é atropelada diante dessa avalanche religiosa que vem de todos os lados, tanto dos espíritas, como também dos espíritos.
    Todas as recomendações do fundador do Espiritismo: Allan Kardec, no que diz respeito a postura que devemos ter diante dos espíritos foram ignoradas. O Controle Universal do ensino dos espíritos, metodologia criada por Kardec, para separar o erro da verdade, é apenas uma lenda, uma estória, que se depender dos religiosos espíritas, nunca mais vai ser empregado.
    Não estou aqui defendendo o cientificismo da Doutrina em detrimento dos apectos éticos e morais. Qualquer ciência pode e deve provocar reflexões e mudança de comportamento humano. As convicções que a ciência espírita nos possibilita, são ferramentas poderosas de mudança de valores morais diante do próximo, e consequentemente de transformação de comportamento.
    Agradeço pelo espaço concedido e pela abertura do debate. Parábens pelo seu blog, pois ele possui uma proposta muito boa, que é difícil encontrar pela web.
    Um grande abraço!

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