Missão da mulher
Revista Espírita - Abril/1867
(Lyon, 6 de julho de 1866,
grupo da Sra. Ducard - Médium: Sra. B...)
A cada
dia os acontecimentos da vida vos trazem ensinamentos de natureza a vos servir
de exemplo e, contudo, passais sem compreendê-los, sem tirar uma dedução útil
das circunstâncias que os provocaram. Entretanto, nesta união íntima entre a
Terra e o espaço, entre os Espíritos livres e os Espíritos cativos, ligados à
realização de sua tarefa, há desses exemplos cuja lembrança deve perpetuar-se
entre vós: é a paz proposta durante a guerra. Uma mulher cuja posição social
atrai todos os olhares, vai, humilde irmã de caridade, levar a todos a
consolação de sua palavra, a afeição de seu coração, a carícia de seus olhos.
Ela é imperatriz; sobre sua fronte brilha a coroa de diamantes, mas ela esquece
a sua posição, esquece o perigo para acorrer ao meio do sofrimento e dizer a
todos: “Consolai-vos, eis-me aqui! Não sofrais mais, eu vos falo; não vos
inquieteis, eu tomarei conta de vossos órfãos!...” O perigo é iminente, o
contágio está no ar, contudo, ela passa, calma e radiosa, em meio a esses
leitos onde jaz a dor. Ela nada calculou, nada apreendeu, foi onde a chamava
seu coração, como a brisa vai refrescar as flores murchas e reerguer as hastes
vacilantes.
Este
exemplo de devotamento e de abnegação, quando os esplendores da vida deveriam
engendrar o orgulho e o egoísmo, é, por certo, um estimulante para as mulheres
que sentem vibrar em si essa delicadeza de sentimento que Deus lhes deu para
cumprir sua tarefa, porque elas estão encarregadas principalmente de espalhar a
consolação e sobretudo a conciliação. Não têm elas a graça e o sorriso, o
encanto da voz e a suavidade da alma? É a elas que Deus confia os primeiros
passos de seus filhos; ele as escolheu como as nutrizes das doces criaturas que
vão nascer.
Esse
Espírito rebelde e orgulhoso, cuja existência será uma luta constante contra a
desgraça, não lhes vem pedir que lhe inculque outras ideias, diferentes
daquelas que ele traz ao nascer? É para elas que ele estende suas mãozinhas, e
sua voz outrora rude, e seus acentos que vibravam como um cobre, abrandar-se-ão
como um doce eco, quando disser: mamãe!
É à
mulher que ele implora, esse doce querubim que vem ensinar a ler no livro da
ciência; é para agradá-la que ele fará todos os esforços para instruir-se e
tornar-se útil à Humanidade. ─ É ainda para ela que ele estende as mãos, esse
jovem que se transviou em seu caminho e que deseja voltar ao bem. Ele não
ousará implorar a seu pai, cuja cólera teme, mas sua mãe, tão suave, tão generosa,
não terá para ele senão esquecimento e perdão.
Não
são elas as flores animadas da vida, os devotamentos inalteráveis, essas almas
que Deus criou mulheres? Elas atraem e encantam. Chamam-nas de tentação, mas
deviam chamá-las de lembrança, porque sua imagem fica gravada em caracteres
indeléveis no coração dos filhos, quando elas partiram. Não é no presente que
são apreciadas, é no passado, quando a morte as entregou a Deus. ─ Então seus
filhos as buscam no espaço, como o marinheiro busca a estrela que deve
conduzi-lo ao porto. Elas são a esfera de atração, a bússola do Espírito que
ficou na Terra e que espera encontrá-las no céu. Elas são, ainda, a mão que
conduz e sustenta, a alma que inspira e a voz que perdoa, e assim como foram o
anjo do lar terreno, tornam-se o anjo consolador que ensina a orar.
Oh!
vós que tendes sido oprimidas na Terra, mulheres que sois tidas como escravas
do homem, porque vos submetestes à sua dominação, vosso reino não é deste
mundo! Contentai-vos, pois, com a sorte que vos está reservada; continuai vossa
tarefa; continuai sendo as medianeiras entre o homem e Deus, e compreendei bem
a influência de vossa intervenção. ─ Este é um Espírito ardente, impetuoso; o
sangue lhe ferve nas veias e vai se exaltar, será injusto; mas Deus pôs a
doçura em vossos olhos e a carícia em vossa voz. Olhai-o, falai-lhe, a cólera
se apaziguará e a injustiça será afastada. Talvez tenhais sofrido, mas tereis
poupado de uma falta o vosso companheiro de jornada e vossa tarefa foi
cumprida. Aquele ainda é infeliz, sofre, a fortuna o abandona, ele se considera
um pária!... Mas aí há um devotamento à prova, uma abnegação constante para
erguer esse moral abatido, para dar a esse Espírito a esperança que o havia
abandonado.
Mulheres,
sois as companheiras inseparáveis do homem; com ele formais uma cadeia
indissolúvel que a desgraça não pode romper, que a ingratidão não deve manchar
e não poderia quebrar-se, porque o próprio Deus a formou e, embora às vezes
tenhais na alma essas preocupações sombrias que acompanham a luta, contudo
rejubilai-vos, porque nesse imenso trabalho de harmonia terrena, Deus vos deu a
mais bela parte!
Coragem,
pois! Ó vós que viveis humildemente, trabalhando por melhorar vosso interior,
Deus vos sorri, porque vos deu essa amenidade que caracteriza a mulher. Quer
sejam elas imperatrizes, irmãs de caridade, humildes trabalhadoras ou suaves
mães de família, estão todas alistadas sob a mesma bandeira e levam escritas na
fronte e no coração estas duas palavras mágicas que enchem a Eternidade: Amor e
Caridade.
CÁRITA
Nenhum comentário:
Postar um comentário