A missão da França
(Texto extraído do livro O Espiritismo na Arte – Parte IV, de Leon Denis)
O luminoso talento da França tem por papel,
principalmente, reunir e fundir, em uma média equilibrada, os dois talentos
diferentes, o do Sul e o do Norte, da raça latina e das raças setentrionais.
É, talvez, ao encontro desses elementos opostos, ao
fluxo e refluxo dessas correntes diferentes, que se deve a mobilidade do seu
espírito e a instabilidade por vezes enfadonha de seus desígnios; porém, sempre
após os períodos de crise, em que o equilíbrio nela é alterado, o espírito
nacional retorna sua atividade e seu progresso.
Sua missão, portanto, parece ser a de fornecer aos
outros povos, de espírito mais lento, as indicações, as diretrizes das quais
eles tiram uma aplicação prática e fecunda. É nesse sentido que a França é um
agente maravilhoso de progresso e de evolução humana, por seu cuidado com a
verdade e com a luz, e pela beleza das formas com as quais ela se compraz em
revesti-las.
São essas qualidades que lhe darão um papel
preponderante na difusão do Espiritismo filosófico e moral, enquanto os países
anglo-saxões estão interessados em representá-lo, principalmente sob seu
aspecto científico e experimental.
Após suas horas de tentativas e de obscuridade, o
gênio da França, que não é outro senão a alma sempre viva e imortal da Gália,
ergue-se e, com um vigoroso esforço, liberta-se dos atoleiros terrestres e
lança-se em direção ao céu, para ali descobrir novos horizontes, novas
perspectivas sobre o futuro e mostrá-las como objetivo à humanidade em marcha.
Para todos aqueles que sabem estudar e compreender
o gênio da nossa raça, sob o véu do cepticismo que por vezes a recobre, a alma
céltica reaparece e, nas horas solenes, são seus impulsos que determinam as
resoluções viris, os atos decisivos.
É ela que inspira Joana d’Arc e por suas mãos livra
a França do jugo dos ingleses; ainda é ela que provoca essa poderosa explosão
espiritualista que, em época revolucionária, leva a todos a noção essencial de
liberdade, assegurando assim o triunfo da alma moderna sobre as teorias
deprimentes do determinismo e do fatalismo.
É sempre ela que, nos dias sombrios de 1914, revela
todas as forças vivas da nação e a conduz, heroica e sublime, diante do
despotismo germânico e do militarismo teutônico; mais recentemente ainda, a
alma céltica coloca a nação como um dique em oposição à onda vermelha do
bolchevismo.
A França tem maiores deveres que as outras nações,
porque recebeu maiores dons, mais brilhantes qualidades. Assim, suas
responsabilidades são mais pesadas e mais extensas.
Hoje, uma tarefa, mais importante do que todas as
outras, desenha-se para ela no mundo inteiro. Trata-se de iniciar os homens nas
belezas de um futuro mais vasto, mais rico que aquele que as concepções
filosóficas e religiosas puderam entrever. Trata-se de guiar a ascensão humana
em direção ao grau mais elevado do pensamento, onde se acendem os clarões de um
novo dia, a aurora de uma civilização mais nobre e mais digna, livre dos
flagelos que, até aqui, entravaram o caminho áspero e doloroso da humanidade.
As outras nações têm, cada uma, a sua tarefa
importante, mas a França ultrapassa a todas pela variedade de suas aptidões e
de suas atividades. É por isso que o mundo inteiro tem os olhos fixos sobre
ela, esperando o sinal que traçará sua nova evolução.
Ó alma viva da França, desliga-te das pesadas
influências materiais que ainda te oprimem, eleva-te até esse nobre ideal que é
tua missão adquirir e propagar no mundo!
Somente quando a nova revelação for conhecida por
todos os povos, quando ela tiver dado à sua expressão a forma magnífica do teu
talento, é que os homens compreenderão seu grande destino, bem como os deveres
e os encargos que ele lhes impõe, e a justiça e a paz enfim reinarão sobre a
Terra regenerada.
E por esse meio teu papel aparecerá aos olhos de
todos. Tu serás respeitada pelas gerações, e a tua glória se iluminará com um
brilho que nada poderá mais empanar!
FONTE: Denis, L.
O Espiritismo na Arte. Rio de Janeiro: CELD, 2016
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