terça-feira, 4 de maio de 2021

Pandemia e prosperidade

 


Pandemia e prosperidade

 Marco Milani

 (Texto publicado na revista Dirigente Espírita sob o título A pandemia à luz da Doutrina Espírita, mai/jun 2021, ed. 183, p.8)


Há pouco mais de um ano, a perplexidade diante das mudanças provocadas pela pandemia da Covid-19 fez com que a população mundial questionasse, sem receber respostas diretas e objetivas, sobre a origem e a duração de tal flagelo.

As necessárias medidas sanitárias para se combater a propagação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) alteraram bruscamente a rotina de bilhões de indivíduos, que se viram obrigados a mudar hábitos sociais com fortes reflexos econômicos, os quais podem ser considerados um dos mais impactantes na história recente da humanidade.

Nos centros espíritas, a interrupção temporária das atividades presenciais levou dirigentes e colaboradores a repensarem o próprio modelo de prestação de serviços assistenciais e educacionais que estava consolidado há décadas. Concomitantemente, os frequentadores e beneficiários dos serviços desses mesmos centros foram instados a também refletirem sobre como suprir suas próprias necessidades.

Diversas iniciativas foram desenvolvidas para oferecer atividades à distância, servindo-se de ferramentas de comunicação eletrônica. Principalmente os serviços de cursos regulares, grupos de estudo, palestras e seminários foram rapidamente estruturados, não sem esforço adaptativo e com o esperado aprendizado de uso das respectivas ferramentas. É de se notar que parcela significativa dos antigos participantes das atividades presenciais adequaram-se com a mesma celeridade às novas formas de comunicação, enquanto outros, em menor número, enfrentaram algum tipo de desconforto pela falta de familiaridade e ou de acesso às ferramentas eletrônicas.

As reuniões e muitas tarefas administrativas também passaram a ser realizadas remotamente, identificando-se vantagens nesse tipo de interação considerando o ganho de tempo e redução de custos de deslocamento físico.

A assistência por meio da fluidoterapia também foi adaptada, enfatizando-se a possibilidade de atendimento à distância, observando-se determinadas condições de predisposição, dedicação e intenção do assistido.

Com relação às chamadas reuniões mediúnicas, a necessidade do estudo e da disciplina mostraram-se fundamentais, pois reforçou-se que, mais importante do que o fenômeno em si, é a busca do autoaprimoramento moral e intelectual do médium, além de que não há qualquer obrigação ou necessidade de continuar a promover fenômenos de intercâmbio quando não se estiver em ambiente apropriado para isso.

A União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo divulgou, nesse período, informações e orientações relevantes que em muito auxiliaram os dirigentes de centros a enfrentarem esses novos desafios, inclusive a preparem-se para o eventual retorno às atividades presenciais. Ver, por exemplo, o documento Orientação ao Centro Espírita, disponível em https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2020/09/OCE-RAtividades-DC.pdf.

 O enfrentamento dos transtornos provocados pela pandemia, como por qualquer flagelo natural, são provas que proporcionam ao homem a ocasião de exercitar a inteligência, de mostrar a sua paciência e a sua resignação ante a vontade de Deus expressas pelas leis da natureza, ao mesmo tempo que lhe permitem desenvolver a solidariedade e o amor ao próximo.

Flagelos não são agradáveis e muito menos desejáveis, sob nossa perspectiva humana, mas uma vez que existem, são oportunidades para nos fortalecer e superarmos temores e ansiedades, como regularmente temos em diferentes épocas, desde as primitivas.

Ao contrário de supostas mensagens mediúnicas de tom alarmista, místico e supersticioso, o atual flagelo não representa, isoladamente, um sinal de regeneração da humanidade, pois se assim fosse, os inúmeros flagelos anteriores também o seriam.

A superstição e a atração a teorias conspiratórias estão presentes no discurso de parcela significativa da população, inclusive entre aqueles que se declaram espíritas, pois não é o rótulo religioso ou filosófico que garante o exercício da fé raciocinada.

No Capítulo 18, de A Gênese, verifica-se que a transformação da humanidade é moral e não física ou provocada por cataclismos. É o gradual aprimoramento dos indivíduos que refletirá nas famílias, nas sociedades e no planeta.

Allan Kardec indagou aos Espíritos sobre a mesma problemática do bem e do mal e, dentre outros tópicos, sobre os flagelos humanos e a justiça divina.

As respostas mediúnicas obtidas por Kardec nas questões 737 a 741 de O Livro dos Espíritos favorecem o esclarecimento sobre o processo evolutivo do ser espiritual em detrimento da matéria transitória. Sinteticamente, o que parece ser um castigo é, na verdade, uma oportunidade de aprimoramento moral e intelectual, individual e coletivo, reflexo natural da marcha evolutiva em que se encontra o Homem e de suas necessidades correlatas. Essa ordem só faz sentido abandonando-se as explicações materialistas ou aquelas que desembocam nos mistérios igrejeiros e abraçando-se o princípio da pluralidade das existências humanas guiadas por leis naturais imutáveis fundamentadas justiça e amor divinos para a realização da perfeição espiritual de que os seres são suscetíveis. Todos prosperaremos.


Fonte: https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2021/05/DE183.pdf



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