Trojan em grupos espíritas
Marco Milani
Texto publicado no jornal Correio Fraterno, edição 501, out/21
Trojan Horse, ou simplesmente trojan, é um tipo de programa eletrônico malicioso que pode entrar em um computador disfarçado como um programa comum e legítimo. Ele serve para possibilitar a abertura de uma porta de forma que usuários mal-intencionados possam invadir o computador e roubar ou destruir dados, além de outros danos.
O termo é derivado da história narrada por Homero no poema Odisseia, no século VIII a.C., sobre o estratagema grego de simular uma retirada do cerco de guerra que promoviam à cidade de Troia e deixar um grande e ornado cavalo de madeira com soldados escondidos em seu interior. Os troianos, ao se depararem com o inusitado objeto, decidiram levá-lo para dentro da cidade fortificada. Durante a noite, os soldados gregos saíram do cavalo, mataram os sentinelas e permitiram a entrada de seu exército, dominando toda a cidade.
Assim como os trojans, uma modalidade de invasão perniciosa está se fazendo perceber não em computadores ou em cidades, mas em grupos espíritas.
Disfarçadas de propostas modernas e doutrinariamente legítimas, pautas político-ideológicas, típicas de programas partidários, tentam se infiltrar na tribuna e em outras atividades de organizações espíritas por meio de militantes que se passam por adeptos preocupados e conscientes dos problemas sociais. Procurando camuflar a real intenção, a invasão segue a cartilha gramsciana para a conquista de posição, formação de consenso e de pensamento hegemônico.
Allan Kardec, em mensagem dirigida aos espíritas lioneses em 1862, já alertava sobre a armadilha preparada por adversários encarnados e desencarnados do Espiritismo, a qual buscava levar à casa espírita a discussão política.
"Devo ainda assinalar-vos outra tática dos nossos adversários, a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua alçada e que, a justo título, poderiam despertar suscetibilidades e desconfianças. Não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quando se refere à política e a questões irritantes; a tal respeito, as discussões apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém terá nada a objetar à moral, quanto esta for boa.” (Allan Kardec - Revista Espírita - fev/1862)
A transformação social, para Kardec, não ocorrerá de maneira impositiva e totalitária ao indivíduo, mas de maneira oposta, decorrente da melhoria do indivíduo respeitando-se a liberdade de consciência de cada um.
“Procurai no Espiritismo aquilo que vos pode melhorar: eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais realmente úteis serão uma consequência natural; trabalhando pelo progresso moral, lançareis os verdadeiros e mais sólidos fundamentos de todas as melhoras, e deixareis a Deus o cuidado de fazer com que cheguem no devido tempo. No próprio interesse do Espiritismo, que é ainda jovem, mas que amadurece depressa, oponde uma firmeza inquebrantável aos que quiserem vos arrastar por uma via perigosa." (Allan Kardec - Revista Espírita - fev/1862)
Não é de hoje que militantes reformistas sociais, que acreditam estar em luta contra determinados segmentos da sociedade, alardeiam que os espíritas, em geral, são alienados, pois deveriam içar com veemência bandeiras político-ideológicas, necessariamente as mesmas que tais reformistas seguram, pois se forem de cores diferentes, aí o discurso muda e serão considerados párias a serem banidos da vida em comunidade e não poderiam ser considerados espíritas.
O que faz com que adeptos, com as mais diferentes convicções partidárias, compartilhem e desenvolvam atividades na casa espírita em ambiente respeitoso é, justamente, a inexistência de discussões dos chamados “assuntos irritantes” que Kardec ressaltou.
Certamente, em um mundo de expiações e provas não se pode esperar plena harmonia nas relações sociais, inclusive dentro do centro espírita, mas abrigar o vírus da discórdia e da divisão por motivos político-ideológicos é a receita para que os sentinelas da razão sejam abatidos e prevaleçam as paixões partidárias, culminando com o afastamento de colaboradores ou a dissolução da própria instituição.
Na condição de cidadão, esse mesmo espírita tem liberdade de se expressar e abraçar a corrente ideológica que achar a mais adequada e o fato de não levar suas preferências políticas para serem discutidas no centro espírita não o caracteriza como alienado, ao contrário, demonstra maturidade, sensatez e respeito pela organização que colabora e por seus companheiros de trabalho.
Ótimas reflexões e apontamentos, que nos leva a refletir e seguirmos a Doutrina Espírita por completo, afim de somarmos no amor em prol de todos 🙌
ResponderExcluirIsso mesmo , vigiai e orai. Sem radicalizar. Evangelho de Amor em ação .
ResponderExcluirO verdadeiro espírita jamais cairá nessa armadilha.Mas é muito válido essa advertência.👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
ResponderExcluirExcelente reflexão!!!!
ResponderExcluirVerdade, devemos despertar para a nossa melhora da Moral e do Amor a nós e ao próximo, para entender nossos irmãos que ainda não compreenderam a razão de estarmos em um mundo de provas e expiações.
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