Coerência Doutrinária
O compromisso de
todos nós
Marco Milani*
(Texto publicado no
boletim Dirigente Espírita, nº 167, set/out 2018, p. 8)
De origem latina, a palavra coerência significa conexão ou coesão.
De forma geral, implica nexo e uniformidade de um conjunto de ideias. Alguém
que seja coerente expressa-se de maneira lógica, capaz de permitir aos seus interlocutores
a compreensão clara e sem contradições sobre seu discurso ou atitudes.
Plena
coerência
foi como Sócrates apontou a condição de vida do verdadeiro filósofo, capaz de
conciliar a teoria e o modo de viver e morrer. O filósofo não seria, portanto,
quem apenas sabe pensar e construir sistemas de ideias, mas seria, sobretudo,
aquele que sabe viver e morrer em concordância com o seu sistema.
Sob essa perspectiva, adeptos de qualquer
doutrina deveriam expressar, consistentemente, os princípios e valores do
sistema que abraçaram. Tal ocorre no espiritismo. O espírita compreende,
respeita e exemplifica a Doutrina dos Espíritos, devidamente apresentada nas
obras de Allan Kardec.
Naturalmente, não se pode esperar que todos
os adeptos espíritas possuam o mesmo grau de maturidade, compreensão e vivência
dos princípios doutrinários. Dentre aqueles que assumem responsabilidades
diretivas nas instituições espíritas, entretanto, espera-se que, minimamente,
consigam orientar e esclarecer os frequentadores e colaboradores com maior segurança
e embasamento conceitual.
Não somente dirigentes, mas qualquer um que
se proponha a expor e orientar sobre os ensinamentos dos Espíritos assume
responsabilidade sobre suas atitudes. Palestrantes, escritores e instrutores
são vistos, pelo público em geral, como representantes do Espiritismo.
Um dos desafios a serem superados por muitos
adeptos é exercitar o distanciamento necessário entre o conteúdo doutrinário e
eventuais opiniões desprovidas de fundamentação.
Diante de questões polêmicas ou que costumam
envolver posicionamentos apaixonados, não é incomum que aqueles com menor
maturidade doutrinária misturem em seus discursos opiniões pessoais e afirmem
se tratar de ensinamentos espíritas, desvirtuando o compromisso ético com o
próprio Espiritismo.
Ser coerente não significa que não se possa
questionar ou discordar dos Espíritos, porém a Doutrina Espírita foi
estruturada com inegável consistência interna e a universalidade dos ensinos
dos Espíritos lhe confere legitimidade metodológica, portanto não basta alguém
abraçar ideias antagônicas sem evidenciação e sem validação por diferentes fontes
para se substituir aquelas já existentes na Codificação e achar que está
revolucionando a interpretação da realidade. A coerência doutrinária é, primordialmente,
um compromisso com a verdade baseada na razão e em fatos.
* Diretor do Departamento de Doutrina
da USE-SP. Presidente da USE Regional de Campinas.
Fonte:
https://app.associatec.com.br/upload/organizacao_000000000000037/noticia/documento/326/167.pdf
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