A
Gênese: Capítulo 5
Antigos
e modernos sistemas do mundo
Marco
Milani*
A
5ª edição francesa do livro A Gênese, publicada três anos após
a desencarnação de Allan Kardec, contém alterações questionáveis
em diversos capítulos que fragilizam e até comprometem
doutrinariamente o seu conteúdo, como já comentado em números
anteriores do Dirigente Espírita (ver as edições de nºs 168 a
174).
Tais
fatos, acrescidos da total ausência de evidências de que Kardec
seria o autor dessas alterações, assim como já apontado pela
pesquisadora Simoni Privato Goidanich em sua obra O
Legado de Allan Kardec,
convidam os estudiosos espíritas e os adeptos em geral a compararem
criteriosamente a edição original e suas reimpressões com a versão
modificada publicada em 1872 (5ª edição).
Se,
por um lado, há capítulos com alterações graves, por outro, há
alguns cujas alterações, ainda que questionáveis ou
desnecessárias, não chegam a comprometer o ensino doutrinário.
Assim ocorreu com o capítulo 5, intitulado Antigos
e modernos sistemas do mundo,
cuja única alteração foi o acréscimo, no final do último
parágrafo, da frase destacada a seguir, em negrito:
Estava
desde então aberto o caminho em que ilustres e numerosos sábios iam
entrar, a fim de completarem a obra encetada. Na Alemanha, Kepler
descobre as célebres leis que lhe conservam o nome e por meio das
quais se reconhece que as órbitas que os planetas descrevem não são
circulares, mas elipses, um de cujos focos o Sol ocupa. Newton, na
Inglaterra, descobre a lei da gravitação universal. Laplace, na
França, cria a mecânica celeste. Finalmente, a Astronomia deixa de
ser um sistema fundado em conjecturas ou probabilidades e torna-se
uma ciência assente nas mais rigorosas bases, as do cálculo e da
geometria. Fica
assim lançada uma das pedras fundamentais da Gênese, cerca de 3.300
anos depois de Moisés.
(A Gênese, 5ª edição, item 14)
Neste
capítulo, Kardec pontua antigos sistemas do mundo, caracterizados
por cosmogonias baseadas em diferentes tradições, crenças e
culturas e os associa a compreensões mais primitivas e ingênuas,
limitadas ao conhecimento e aos instrumentos ópticos das respectivas
épocas. Posteriormente, Kardec contrasta essas visões de mundo com
aquelas decorrentes de observações modernas, mais técnicas e
exatas, as quais superam as concepções místicas e míticas.
Na
obra A Gênese, Kardec não se restringe à origem planetária, pois
discorre sobre a causa primária e inteligência suprema (Deus),
assim como examina os elementos gerais do Universo (espírito e
matéria). Também explora a evolução das ideias sobre a Terra, tal
como explicitado neste capítulo 5. Na frase acrescentada,
relaciona-se a Gênese exclusivamente à questão planetária e ainda
afirma que somente depois de 3.300 anos após a representação
mosaica da origem do mundo é que a humanidade pôde conhecer uma das
pedras fundamentais dessa origem, supondo que nesse intervalo o homem
não contava com elementos relevantes para se investigar o assunto.
O
trecho acrescentado na 5ª edição não interfere no ensino dos
Espíritos, entretanto, não contribui diretamente para qualquer
esclarecimento doutrinário adicional, podendo o leitor desavisado
limitar o significado do termo Gênese à formação planetária.
*
Diretor do Departamento de Doutrina da USE-SP. Presidente da USE
Regional de Campinas.
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