sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Comentários sobre as alterações da 5ª ed. de A Gênese - Cap. V



A Gênese: Capítulo 5

Antigos e modernos sistemas do mundo

Marco Milani*

A 5ª edição francesa do livro A Gênese, publicada três anos após a desencarnação de Allan Kardec, contém alterações questionáveis em diversos capítulos que fragilizam e até comprometem doutrinariamente o seu conteúdo, como já comentado em números anteriores do Dirigente Espírita (ver as edições de nºs 168 a 174).
Tais fatos, acrescidos da total ausência de evidências de que Kardec seria o autor dessas alterações, assim como já apontado pela pesquisadora Simoni Privato Goidanich em sua obra O Legado de Allan Kardec, convidam os estudiosos espíritas e os adeptos em geral a compararem criteriosamente a edição original e suas reimpressões com a versão modificada publicada em 1872 (5ª edição).
Se, por um lado, há capítulos com alterações graves, por outro, há alguns cujas alterações, ainda que questionáveis ou desnecessárias, não chegam a comprometer o ensino doutrinário. Assim ocorreu com o capítulo 5, intitulado Antigos e modernos sistemas do mundo, cuja única alteração foi o acréscimo, no final do último parágrafo, da frase destacada a seguir, em negrito:

Estava desde então aberto o caminho em que ilustres e numerosos sábios iam entrar, a fim de completarem a obra encetada. Na Alemanha, Kepler descobre as célebres leis que lhe conservam o nome e por meio das quais se reconhece que as órbitas que os planetas descrevem não são circulares, mas elipses, um de cujos focos o Sol ocupa. Newton, na Inglaterra, descobre a lei da gravitação universal. Laplace, na França, cria a mecânica celeste. Finalmente, a Astronomia deixa de ser um sistema fundado em conjecturas ou probabilidades e torna-se uma ciência assente nas mais rigorosas bases, as do cálculo e da geometria. Fica assim lançada uma das pedras fundamentais da Gênese, cerca de 3.300 anos depois de Moisés. (A Gênese, 5ª edição, item 14)

Neste capítulo, Kardec pontua antigos sistemas do mundo, caracterizados por cosmogonias baseadas em diferentes tradições, crenças e culturas e os associa a compreensões mais primitivas e ingênuas, limitadas ao conhecimento e aos instrumentos ópticos das respectivas épocas. Posteriormente, Kardec contrasta essas visões de mundo com aquelas decorrentes de observações modernas, mais técnicas e exatas, as quais superam as concepções místicas e míticas.
Na obra A Gênese, Kardec não se restringe à origem planetária, pois discorre sobre a causa primária e inteligência suprema (Deus), assim como examina os elementos gerais do Universo (espírito e matéria). Também explora a evolução das ideias sobre a Terra, tal como explicitado neste capítulo 5. Na frase acrescentada, relaciona-se a Gênese exclusivamente à questão planetária e ainda afirma que somente depois de 3.300 anos após a representação mosaica da origem do mundo é que a humanidade pôde conhecer uma das pedras fundamentais dessa origem, supondo que nesse intervalo o homem não contava com elementos relevantes para se investigar o assunto.
O trecho acrescentado na 5ª edição não interfere no ensino dos Espíritos, entretanto, não contribui diretamente para qualquer esclarecimento doutrinário adicional, podendo o leitor desavisado limitar o significado do termo Gênese à formação planetária.

* Diretor do Departamento de Doutrina da USE-SP. Presidente da USE Regional de Campinas.

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