quinta-feira, 4 de julho de 2024

A prática da caridade e a ostentação pessoal


 

A prática da caridade e a ostentação pessoal

Marco Milani

 

Texto publicado na Revista Candeia Espírita, nº 34, julho de 2024, p. 10-11

 

A prática da caridade é um dos pilares do Espiritismo objetivando-se o progresso espiritual. Doutrinariamente, a caridade não se limita à doação material, mas abrange a benevolência para com todos, a indulgência para com as imperfeições alheias e o perdão das ofensas[1]. No entanto, um problema que pode surgir na prática de ações assistenciais é a ostentação pessoal, a qual vincula-se diretamente ao orgulho e à vaidade.

No capítulo XIII da obra “O evangelho segundo o espiritismo”, enfatiza-se que a verdadeira caridade deve ser humilde e desinteressada, destacando-se que não se trata apenas do ato em si, mas também da maneira como ela é praticada. No intuito de exibir-se perante os outros ou para obter reconhecimento público, o ato desvirtua-se.

Certamente, a divulgação de ações caridosas pode motivar outras pessoas a praticarem o bem, desde que seja feita com sinceridade, humildade e o propósito de inspirar e conscientizar. Nesse sentido, buscar-se-á criar um ambiente de solidariedade e empatia, onde mais pessoas se sentirão encorajadas a contribuir para o bem-estar coletivo, promovendo o progresso moral da coletividade.

A distinção entre a divulgação desinteressada do auxílio ao próximo e a ostentação vaidosa reside na intenção, mas ao contrário do que alguns poderiam supor, não se trata de um problema restrito ao orgulhoso, quando assim ocorrer. A exposição pública dos beneficiários dos bens e serviços oferecidos pode ser constrangedora, além dessas pessoas serem usadas como coadjuvantes para a própria satisfação egóica do “caridoso”.

O exercício do autoconhecimento, conforme orientado por Santo Agostinho[2], favorece o combate à vaidade e o cultivo da humildade. A reflexão frequente sobre os pensamentos, palavras e ações ao final de cada dia promove um exame introspectivo que permite reconhecer falhas e virtudes, levando a pessoa a um entendimento mais profundo de si mesmo.

A introspecção, em um processo direcionado ao aperfeiçoamento moral, estimula o desenvolvimento de uma consciência altruísta e o cultivo da empatia, fortalecendo a prática da caridade desinteressada.

O autoconhecimento, de maneira mais ampla, incentiva uma compreensão mais profunda de si mesmo, levando a uma maior segurança pessoal e independência emocional. Isso, por sua vez, reduz a necessidade de reconhecimento em redes sociais, pois a pessoa encontra valor e validação internamente e em conexões reais e significativas.

Assim, ao invés da pueril ostentação midiática de pretensos benfeitores ávidos por curtidas em suas postagens públicas, que os adeptos sinceros possam, efetivamente, praticar a caridade de maneira autêntica e desinteressada, contentando-se com o reconhecimento da própria consciência.



[1] Ver a questão 886, em O livro dos espíritos.

[2] Ver a questão 919, em O livro dos espíritos.

Um comentário:

  1. Porque em toda a acção está patente a intenção, sempre que damos umas migalhas deviamos colocar a mão no coração e o pensamento na razão...

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