terça-feira, 4 de junho de 2024

Os fins justificam os meios num centro espírita?

 

Os fins justificam os meios num centro espírita?

 

Marco Milani

 

Texto publicado na Revista Dirigente Espírita, ed. 200, abr/jun 2024, p.27

 

          A atitude caridosa, em essência, implica amar o semelhante fazendo-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos nos fosse feito. Sob essa concepção, não é raro ouvir-se de empolgados adeptos a proposta de implantação nos centros espíritas das mais variadas práticas terapêuticas alegando-se que tudo o que é voltado ao benefício do próximo é um ato caridoso e, portanto, alinhado à moral espírita.

          O Espiritismo, entretanto, não é estruturado como o produto das boas intenções e ações de seus adeptos. Trata-se de um conjunto de princípios e valores organizados de forma sistemática sobre a natureza, origem e destino dos Espíritos e suas relações com o mundo corporal.[1] Como corpo doutrinário, integra e harmoniza o ensino dos Espíritos liderados pelo Espírito da Verdade e apresentado nas obras de Allan Kardec com notável consistência interna, caracterizando sua própria percepção e interpretação da realidade.

          Nesse sentido, qualquer instituição que se afirme espírita deve expressar coerentemente os respectivos fundamentos doutrinários, sem abraçar práticas conceitualmente contraditórias que desfigurariam os próprios preceitos.

O equilíbrio entre os objetivos desejados e a coerência doutrinária dos métodos empregados para alcançá-los torna-se condição necessária para a caracterização de práticas espíritas. A moralidade de uma ação não é, exclusivamente, determinada pelo resultado final, mas também pelo caminho adotado para sua realização.

Por exemplo, são reconhecidas pelo Ministério da Saúde como práticas integrativas e complementares e que contam com relatos favoráveis de alguns de seus atendidos, as seguintes: Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura, Medicina Antroposófica, Homeopatia, Plantas Medicinais e Fitoterapia, Termalismo Social/Crenoterapia, Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa, Yoga, Apiterapia, Aromaterapia, Bioenergética, Constelação familiar, Cromoterapia, Geoterapia, Hipnoterapia, Ozonioterapia e Terapia de Florais. Nenhuma dessas terapias, entretanto, apresenta fundamentação doutrinária espírita para ser assim considerada e desenvolvida numa instituição espírita.

          A frase "os fins justificam os meios", portanto, não se aplica aos centros espíritas diante de eventuais incoerências doutrinárias, mesmo sob a argumentação de que tudo valeria em nome do amor.



[1] KARDEC, A. O que é o Espiritismo. Araras: IDE, 1991.

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