segunda-feira, 3 de junho de 2024

Chicomedissismo: o problema continua


Chicomedissismo: o problema continua

Marco Milani 

 

Texto publicado na Revista Dirigente Espírita, ed. 200, abr/jun 2024, p.15

  

Em 2021, o Departamento de Doutrina da USE promoveu uma interessante roda de conversa virtual denominada “O problema do Chicomedissismo”[1], no qual foram apresentadas situações em que uma ou outra pessoa afirmava ter convivido com Francisco Cândido Xavier e ouvido diretamente dele, em tom de confidência, informações sigilosas, quase proféticas, sobre diferentes assuntos.

Passados três anos desse evento, e mais de duas décadas da desencarnação do popular médium mineiro, o número de confidentes de Chico parece ter aumentado...

Hoje em dia, novos “amigos íntimos” surgem repentinamente nas redes sociais com retumbantes e questionáveis revelações sobre o destino da humanidade e sobre a realidade espiritual, amparando-se na conhecida justificativa do “Chico me disse”.

Sob a perspectiva espírita, qualquer informação, seja ela proveniente de encarnado ou desencarnado, deve ser analisada com ponderação e razão, nunca baseada em argumento de autoridade, ou seja, não importa quem disse, mas qual é a comprovação existente do conteúdo.

No caso de Chico, sua inegável idoneidade moral e capacidade mediúnica o transformou num ícone do movimento espírita não somente brasileiro, mas mundial. Nesse sentido, muitos dos milhões de adeptos, pelo natural respeito e admiração a ele, tendem a aceitar com muito carinho tudo o que lhe esteja relacionado, mesmo que isso não dispense a necessidade de análise crítica.

O desafio metodológico enfrentado pelos adeptos, entretanto, recai na separação entre ideias e pessoas, bem como entre fatos e fantasias.

Ao utilizar o argumento chicomedissista, muitos têm atraído os holofotes midiáticos e locupletam-se com a visibilidade pessoal e a oportunidade de disseminar causos e contos mirabolantes que colidem com o bom senso e a lógica doutrinária.

Tais caronistas da popularidade alheia encontram no permissivo ambiente tecnológico atual o espaço para dar vazão às suas imaginativas estórias, iludindo e confundindo os mais incautos e contribuindo para a disseminação da fé cega.

Certamente, por não estar fisicamente entre nós, Chico não pode se defender das bizarrices atribuídas a ele por aqueles que declaram ter sido “seus amigos muito próximos” que, se realmente o fossem, não tentariam usurpar sua imagem social desse jeito.

Seja como for, compete ao espírita estudar as obras de Allan Kardec para ter referências comparativas seguras sobre a natureza, origem e destino dos Espíritos e suas relações com o mundo corporal[2] e, dessa maneira, conseguir analisar criticamente qualquer informação sob o ângulo doutrinário.



[1] Ver https://youtu.be/kSCHo7fqUy8?si=NJvHcCjqHfv66pNo

 [2] KARDEC, A. O que é o espiritismo. Araras: IDE, 1991


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