Um
ensaio sobre matéria e energia
Alexandre
Fontes da Fonseca
No cap. 9 da obra “E a Vida
Continua”, de André Luiz, o irmão Cláudio diz: “Qualquer aprendiz de
ciência elementar, no Planeta, não desconhece que a chamada matéria densa não é
senão a energia radiante condensada. Em última análise, chegaremos a saber que
a matéria é luz coagulada, substância divina, que nos sugere a
onipresença de Deus.” [1] (Grifos em itálico originais). No cap. 1º. de “Evolução
em Dois Mundos”, André Luiz diz que: “... na essência, toda a matéria é
energia tornada visível e que toda a energia, originariamente, é força divina
de que nos apropriamos para interpor os nossos propósitos aos propósitos da
Criação, ...” [2].
É comum, no movimento espírita, ouvirmos
a ideia de que matéria pode ser transformada em energia e vice-versa. Nós
mesmos, outrora, afirmamos isso [3], mas um estudo mais rigoroso sobre como a
Física interpreta os fenômenos de desmaterialização, de aniquilamento de pares
de partículas-antipartículas, ou reações de fissão ou fusão nucleares revelam o
equívoco desta idéia. O objetivo desta matéria, portanto, é esclarecer como a
Física entende matéria, energia e tais fenômenos de
transformação. Após, discutiremos como essas idéias se relacionam com o que
ensina o Espiritismo.
A palavra energia é tão antiga
quanto Aristoteles, e seu conceito moderno emergiu de estudos de Leibniz [4].
Nas palavras de um dos maiores físicos do século passado, o conceito de energia
pode ser entendido como:
“Existe um fato, ou se desejar, uma lei
que governa todos os fenômenos naturais conhecidos até o presente. Não existe
exceção a esta lei; ela é exata até onde se sabe. Esta lei é chamada de
conservação de energia; ela diz que existe uma certa quantidade que chamaremos
energia, que não se altera perante as diversas alterações a que a natureza está
sujeita. Esta é uma idéia completamente abstrata porque ela é um princípio
matemático que diz que existe uma quantidade numérica que não se altera quando
alguma coisa acontece. A energia não é uma descrição de um mecanismo ou de algo
concreto; é apenas um fato estranho que calculamos um número, e quando
terminamos de observar a natureza realizando seus truques e calculamos o número
de novo, ele é o mesmo.” Richard Feynman [4] (tradução nossa).
A definição mais comum de matéria
é a de qualquer coisa que tenha massa e ocupe volume de espaço [5].
Segundo a Física Moderna, a ocupação de espaço por parte da matéria
decorre do fato dos elétrons, que possuem uma propriedade magnética intrínseca
chamada spin de valor semi-inteiro igual a 1/2, não poderem ocupar as
mesmas regiões espaciais em torno do núcleo de um átomo. Isso causa a sensação
de repulsa entre dois objetos. Partículas que possuem spin de valor
semi-inteiro (1/2, 3/2, 5/2, etc.) são chamadas de férmions, e os
constituintes da matéria ordinária que conhecemos, como os prótons,
neutrons e elétrons, são férmions. A teoria quântica demonstra que os férmions
não podem ocupar os mesmos estados quânticos num sistema, incluindo-se a
posição no espaço, explicando, assim, a concepção de que “dois corpos não podem
ocupar o mesmo lugar”.
Entretanto, na natureza existe, também,
outro tipo de partículas chamadas bósons. Elas tem a propriedade de
possuir spin de valor inteiro (0, 1, 2, etc.). Ao contrário dos
férmions, e por mais incrível que possa parecer, os bósons podem ocupar o mesmo
estado quântico, incluindo ocupar a mesma região do espaço. Por causa
dessas propriedades, os bósons são considerados pela Física como as partículas
“que carregam a força”. O fóton, por exemplo, que é um “quantum” de
radiação eletromagnética, é o bóson que “carrega” a força eletromagnética.
Vários fótons de diferentes radiações eletromagnéticas podem ocupar o mesmo
espaço, a prova disso é o fato de termos num mesmo ambiente ondas de rádio, TV,
celular, etc., sem que uma interfira na outra.
A teoria da Física que, nos dias de
hoje, estuda as propriedades de todos os tipos de partículas é chamada Modelo
Padrão[5]. Segundo o Modelo Padrão, a matéria dita ordinária (isto é,
a matéria que conhecemos) é composta por partículas elementares, isto é,
partículas que não possuem estrutura interna e, por isso, são chamadas de
elementares. Por exemplo, os prótons não são partículas elementares pois são
formados por três quarks. Estes, por sua vez, não seriam formados por
outras partículas sendo, portanto, elementares. Os chamados léptons, a
cuja classe pertence o elétron, também são partículas elementares. O Modelo
Padrão foi desenvolvido em 1970 e tem grande aceitação entre os físicos. Sua
única limitação, atualmente, é não descrever ainda a força de interação
gravitacional devido às massas das partículas. Acredita-se, que a descoberta do
chamado bóson de Higgs possa esclarecer esse ponto dentro do contexto desta
teoria[5].
Segundo o Modelo Padrão e, portanto, de
acordo com o conhecimento da Física atual, a matéria ordinária é tudo
que é formado de férmions elementares, isto é, de quarks e léptons
que possuem spin de valor semi-inteiro. Como os elétrons são léptons e
os prótons e neutrons são formados por quarks, todos os átomos conhecidos que
formam a matéria que conhecemos são formados de quarks e léptons, e portanto,
de férmions.
Mas, e os fótons e outros bósons que a
Física de Partículas já descobriu? Não seriam matéria? O que seriam? O Modelo
Padrão simplesmente não as chama de matéria, mas apenas de bósons. São, de
fato, partículas reais, que fazem parte da natureza física que conhecemos, mas
apenas não são consideradas matéria ordinária. Poder-se-ia inventar um nome
para elas, mas comumente os físicos as chamam de “partículas mediadoras”, pois
elas são responsáveis por carregar e transmitir a mensagem da força entre os
férmions. Dentro do sentido que empregamos a palavra matéria no Espiritismo, os
bósons podem ser considerados como “matéria”, porém com propriedades distintas
dos objetos materiais que conhecemos.
Cabe aqui uma questão oportuna. O que
seria a chamada antimatéria? Antimatéria é matéria formada por
antipartículas dos férmions. O que são “antipartículas”? Antipartículas são as
mesmas partículas com uma única diferença: possuem carga elétrica de sinal
inverso ao da respectiva partícula. Por exemplo, um antielétron, também chamado
de pósitron, é um elétron com carga elétrica positiva. Um antipróton é
um próton negativo. Portanto, em essência, antimatéria é o mesmo que matéria,
isto é, tem todas as mesmas propriedades da matéria, pode formar corpos
idênticos aos que conhecemos e estão sujeitos às mesmas leis da matéria.
Sabe-se que quando uma partícula e uma antipartícula se tornam muito próximas,
elas sofrem uma reação chamada de aniquilação. Nesta reação, as
partículas são ditas desmaterializadas e dois fótons são produzidos. A
reação inversa também é possível. Antigamente se acreditava que os fluidos
espirituais fossem formados de antimatéria. Com base no que foi exposto acima,
podemos perceber o equívoco dessa idéia, como já demonstrado pelo amigo Ademir
Xavier [6].
Outra pergunta importante: o que é a
luz? A luz não é algo real, que vemos e sentimos de diversas formas? A luz é,
de fato, algo real. Ela é radiação eletromagnética de determinada frequência. A
radiação eletromagnética, por sua vez, é uma oscilação sincronizada dos campos
elétrico e magnético que se propagam no vácuo, isto é, no espaço vazio. A luz,
como todo sistema físico, possui comportamento regido pela conhecida dualidade
onda-partícula da Mecânica Quântica que diz que dependendo da forma como
observamos ou preparamos um experimento com a luz, o comportamento do sistema
será do tipo ondulatório ou do tipo corpuscular. O fóton, que como dissemos é a
menor unidade de radiação eletromagnética, é observado em fenômenos onde o
aspecto corpuscular da luz ocorre. E é isso o que a Física diz, que a luz é uma
radiação eletromagnética que em determinadas condições, se comporta como se
fosse formada por um feixe de partículas chamadas de fótons. A Física não chama
a luz ou os fótons de matéria pois a luz não ocupa espaço nem possue massa.
Além disso, os fótons são bósons e a matéria ordinária é considerada pela
Física como sendo formada de férmions. Dentro da consideração que fizemos
anteriormente do conceito de matéria no Espiritismo, a luz pode ser também
considerada como “matéria”.
Como se isso não bastasse, a Ciência
descobriu a existência de outros tipos de matéria que não são formadas nem por
férmions nem por bósons. As chamadas matéria e energia escuras são
exemplos de matéria cujas propriedades escapam ao que expomos até aqui. Antes,
porém, que nos sintamos tentados a associar essas matérias diferentes ao
conceito de fluido universal (FU) ou fluidos espirituais, é preciso lembrar que
as propriedades de ambas ainda não satisfazem àquilo que se espera do FU,
conforme estudos já publicados na revista FidelidadESPÍRITA [7].
De modo análogo, independente do que a Física venha a descobrir como sendo a
constituição íntima dessas matérias diferentes, dentro do conceito de
matéria do Espiritismo, elas podem ser consideradas como “matéria”.
Antes de analisarmos a questão sobre a
possibilidade de podermos transformar matéria em energia, vamos ver o que a
Física entende por massa. Massa é normalmente entendida como sendo a
medida da inércia, isto é, da dificuldade de alterar-se a dinâmica de um
objeto. Einstein, com sua famosa equação, E=mc2,
demonstra a relação entre a energia E e a massa m de um objeto,
onde c é a velocidade da luz. Porém, de que energia e de que massa
a teoria de Einstein está falando? Entender isso é extremamente importante para
descobrirmos se energia pode se transformar em matéria e, posteriormente,
analisarmos se podemos chamar os fluidos espirituais de energias. Os
artigos das referências 8 e 9 apresentam uma discussão história muito rica
sobre o assunto. Vamos aqui apresentar apenas as conclusões desse estudo.
Einstein demonstrou que se um corpo de
massa m perder ou ganhar energia no valor E, a sua massa total
diminui ou aumenta na proporção m=E/c2. Daí a
equação E=mc2. Assim, Einstein mostra que existe uma
correlação direta entre a energia, dita de repouso de um corpo e a
medida de sua inércia, de sua massa de repouso. Notem que usamos o
adjetivo “repouso”, pois existe uma confusão entre os físicos a respeito da
possibilidade da massa de um corpo poder aumentar em função da sua velocidade.
O prof. Valadares mostra [8,9] que essa é uma interpretação errada da Teoria da
Relatividade de Einstein e que, na verdade, não importa quão veloz é uma
partícula, sua massa é sempre a mesma. Por exemplo, um próton se deslocando a
velocidades muito altas, próximas da velocidade da luz, terá massa idêntica a
de um próton em repouso. Einstein demonstrou que no processo de conservação da
energia total de um sistema, cada partícula possui uma energia intrínseca
chamada “energia de repouso”, dada pela equação E=mc2.
Uma consequência dessa teoria é que a massa de um corpo não é
necessariamente igual à soma das massas das partículas que o compõem (grifamos
para enfatizar). Em um dado processo, o que se conservam, segundo a Física, é o
chamado momento (ou quantidade de movimento) e a energia total do
sistema. A massa total só se conserva se a definimos de modo diferente do
usual, o que deixamos para o leitor mais interessado verificar nos artigos das
referências 8 e 9.
Diante do que foi exposto acima, pode
energia se transformar em matéria, ou vice-versa? Para responder isso,
considere como exemplo uma reação de desmaterialização ou aniquilamento
ocorrida com um sistema formado por um elétron e um pósitron, isolados do resto
do universo, como sugere o prof. Valadares [8]. Nesse processo, o momento e a
energia total se conservam. Em outras palavras, antes da desmaterialização, o
par elétron-pósitron possui determinado valor para a energia, momento e massa
totais. Após a desmaterialização, dois fótons são produzidos e a energia,
momento e massa totais permanecem com o mesmo valor, cada. Que a energia e o
momento se conservam, isso entendemos perfeitamente. Mas como a massa total se
conserva, se o elétron e o pósitron foram destruídos e no lugar dois fótons,
que possuem massa de repouso nula, surgiram? É aí que precisamos prestar maior
atenção para entender como a Física interpreta o fenômeno de reação de
desmaterialização e verificar se houve ou não transformação de matéria em
energia.
O argumento chave para entender o que
acontece é: “se a energia total se conservou, isto é, se ela permaneceu a
mesma, então nem se ganhou nem se perdeu energia”. Portanto, se tivesse
ocorrido a transformação de matéria em energia, teríamos um aumento na energia
total do sistema isolado. Como isso não ocorre no fenômeno de desmaterialização,
não houve conversão nem de matéria, nem de coisa alguma em energia! Apesar de
sutil, é um erro dizer que matéria pode ser transformada em energia, e
vice-versa. O que de fato houve foi uma transformação de duas partículas, o
elétron e o pósitron, em outro tipo de partícula: fótons. Em outras palavras,
objetos reais e concretos como o elétron e o pósitron, de acordo com a Física,
só podem se transformar em outros objetos reais e concretos, como os fótons.
Objetos reais não podem se transformar em entes abstratos como a energia. Como
lemos na explicação de Feynman, energia é um conceito puramente abstrato.
Energia, por sua vez, pode ser transformada em outros tipos de energia ou
transferida de um sistema físico a outro, mas energia não pode ser transformada
em matéria. Nesse cálculo desse “número” a que chamamos energia, a fórmula E=mc2
precisa ser levado em conta para que a lei de conservação da energia seja
verificada no fenômeno de aniquilamento de par de partícula-antipartícula.
O mesmo raciocínio é válido com relação
à massa, porém com a observação de que a soma das massas de um sistema não
necessita ser igual à massa total do sistema, como mencionado anteriormente.
Esse é o caso dos fótons que são criados na reação de desmaterialização. Cada fóton,
separadamente, possui massa de repouso nula, mas o sistema formado por dois
fótons possui massa total igual à massa de dois elétrons. A explicação formal
para isso se encontra nos artigos das referências 8 e 9 e não extenderemos aqui
por razões de espaço.
Retornemos às frases contidas nas duas
obras de André Luiz citadas no primeiro parágrafo deste artigo, numerando-as:
1) “matéria densa não é senão a energia radiante condensada”, 2) “matéria é luz
coagulada”; e 3) “na essência, toda a matéria é energia tornada visível”.
Essas frases tem relação com os conceitos de matéria, massa e energia de
repouso de uma partícula, bem como com a interpretação de processos de
aniquilamento ou desmaterialização.
Sendo rigorosos com relação à Física,
nenhuma das três frases acima está rigorosamente correta. As frases 1) e 3)
estão em conflito com o que a Física, hoje, diz pelas razões explicadas nos
parágrafos anteriores. A frase 2) parece correta em vista do fenômeno de
aniquilamento de um par partícula-antipartícula, onde partículas com massa de
repouso não nula se transformam em fótons, que são quanta de luz. Apesar da
frase 2) ser a que melhor se aproxima do entendimento atual dos físicos, não é
correto deduzir que a “matéria é luz coagulada”. O fato da matéria poder se
transformar em fótons não significa que as partículas sejam fótons “coagulados”
ou “condensados” antes do fenômeno de transformação. A matéria, de acordo com o
Modelo Padrão da Física de Partículas, é todo sistema físico formado por
partículas elementares. Essas partículas são elementares porque não possuem
estrutura interna, o que equivale a dizer que elas não são internamente fótons,
“luz coagulada”, ou qualquer outra coisa. Elas já são os tijolos básicos da
matéria. Elas possuem características individuais próprias como massa, carga
elétrica, energia de repouso e outras propriedades físicas fixas. No caso da
relação entre massa e energia (que é a que sugere que matéria pode ser
transformada em energia, e vice-versa), o que podemos dizer, nas palavras do
próprio Einstein, é que “A massa de um corpo é uma medida do seu conteúdo
energético”[8]. Uma partícula, então, contém energia na medida proporcional à
sua quantidade de massa, mas ela, a partícula, em si não é energia.
Por outro lado, em vista da sutileza da
interpretação atual da Física dos conceitos de matéria, massa, energia e dos
fenômenos como o de aniquilamento, e sabendo que na época em que as frases 1),
2) e 3) foram publicadas pela primeira vez, os físicos não tinham a compreensão
de agora (o Modelo Padrão foi desenvolvido em 1970, enquanto as obras de André
Luiz foram escritas e primeiramente publicadas nas décadas de 40 e 50),
precisamos reconhecer que essas frases estavam corretas no contexto do
conhecimento científico da época, exprimindo a idéia do fenômeno de
desmaterialização ou de aniquilamento de um par partícula-antipartícula, mas
acima de tudo enfatizando que a Ciência já reconhecia que a matéria não é algo
rígido, duro e perpétuo como nossos cinco sentidos poderiam sugerir. Se a forma
dessas frases não está correta perante o que ensina a Física de hoje, a
mensagem que seus autores pretenderam transmitir de que a matéria não é algo
absolutamente rígido é atual e confirmada por essa mesma ciência. Além disso, é
preciso ter em mente, como aliás nos lembra André Luiz no prefácio da obra Mecanismos
da Mediunidade [10], que a Ciência do futuro substituirá a atual, e que
é cedo para considerar que as teorias atuais da Física sejam a palavra final
sobre o que é a matéria.
Vamos, agora, analisar o que a Doutrina
Espírita ensina sobre a matéria. É oportuno reproduzirmos a questão 22 de O
Livro dos Espíritos [11]:
22. Define-se geralmente a matéria como
aquilo que tem extensão, que pode impressionar os nossos sentidos, que é
impenetrável. Essas definições são exatas?
“Do vosso ponto de vista são
exatas, porque não falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em
estados que vos são desconhecidos. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil
que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria, embora
para vós não o seja.”
Essa resposta dos Espíritos tem um valor
muito grande. Ela adianta em mais de meio século o que a Ciência viria a
descobrir sobre a natureza da matéria. De fato, matéria existe em estados que
eram desconhecidos da humanidade à época de Kardec. Não somente a descoberta
dos bósons, mas mesmo entre os férmions existem partículas bastante sutis. Por
exemplo, a partícula chamada neutrino, que é um lépton elementar, é tão
leve que se acreditava não possuir massa, e é tão sutil que trilhões deles são
capazes de atravessar o planeta Terra inteiro como se não existisse nada.
Trilhões de neutrinos atravessam nosso corpo sem causar a menor sensação.
Embora não percebamos a sua existência, concordamos com os Espíritos: o
neutrino é sempre matéria.
Na questão 29, os Espíritos dizem que a
ponderabilidade é um atributo da matéria que conhecemos, mas “não da matéria
considerada como fluido universal”. Eles dizem também que “A matéria etérea e
sutil que forma esse fluido é imponderável para vós, mas nem por isso deixa de
ser o princípio da vossa matéria pesada”. Neste momento, o Espiritismo
apresenta uma informação que é nova para a Ciência. Os Espíritos afirmam que o
FU é o princípio elementar da matéria que conhecemos. Essa afirmativa contradiz
o Modelo Padrão que diz que as partículas elementares não são formadas de outra
coisa. Isso nos sugere algumas questões. Seriam as partículas elementares o FU?
Ou estaria a Física comprovando erros no Espiritismo? Em nosso ponto de vista,
não podemos responder a essas questões pois as teorias da Física, como o Modelo
Padrão, possuem limitações e sofrerão novos desenvolvimentos que podem culminar
com novas teorias. Um exemplo é a busca experimental por uma partícula que
seria a causa da massa de todas as outras, o bóson de Higgs. Além disso, outras
teorias como a de supercordas propõem que cada partícula elementar é um tipo de
corda que oscila em determinada frequência. Não é um procedimento científico a
simples comparação entre o Modelo Padrão e o Espiritismo, para então concluir
que as partículas elementares são o FU. Seria preciso trabalhar na demonstração
de que tudo o que o Espiritismo diz do FU é satisfeito pelas partículas
elementares. Por exemplo, dizem os Espíritos (questão 27) que sem o FU, a
matéria estaria num perpétuo estado de divisão. Como encaixar isso com as
teorias da Física de Partícula? Apenas um trabalho de pesquisa rigoroso pode
vir a responder isso.
Por outro lado, a tese espírita do FU
ser o princípio elementar de toda a matéria não é desmentida pelos fenômenos de
transformação da matéria como o de aniquilamento de pares
partícula-antipartícula. O fato de um tipo de matéria poder se transformar em
outro sugere a existência de uma matéria prima universal que seja a base de
toda a matéria incluindo, também, aquilo que chamamos de matérias diferentes
quais sejam os bósons, a matéria e energia escuras. Somente estudos mais
profundos feitos com o rigor científico poderão fornecer maiores certezas, como
já comentado em artigo anterior na FidelidadESPÍRITA [12].
Seria correto falar que os fluidos
espirituais são energias? É correto dizer que no passe recebemos “energias
espirituais”? Por tudo o que vimos até aqui, se o FU é a base tanto dos fluidos
espirituais quanto da matéria, então o FU deve ser identificado com a matéria e
não com energia. Logo, não se pode dizer que os fluidos são energia. Teriam os
fluidos energia, assim como matéria carrega energia? Acreditamos que sim, e que
nos processos e fenômenos envolvendo fluidos espirituais, leis análogas às de
conservação de energia devem existir e reger tais processos. Assim como
Einstein demonstrou uma relação entre a propriedade massa e energia de
repouso de um objeto, talvez exista uma relação análoga entre alguma
propriedade física dos fluidos espirituais (algo relativo à sua massa) e a
energia intrínseca dos mesmos. Mas não podemos ir além disso. Devemos aguardar
que os pesquisadores da Física e do Espiritismo trabalhem para nos trazer
respostas. Não é um procedimento científico chamar os fluidos de energia sem
pesquisarmos profundamente o que são os fluidos, como quantificar a energia
contida neles, e como quantificar os fenômenos fluídicos.
Para finalizar, observemos que os
Espíritos dizem na questão 22a que a “matéria é o laço que prende o espírito; é
o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua
ação.” Essa definição de matéria é muito importante por duas razões. Primeiro
porque afirma a interação entre o espírito e a matéria. Segundo, porque
apresenta uma razão filosófica da existência da matéria: o de servir de
instrumento de evolução espiritual para o espírito.
Referências
[1] Francisco
Cândido Xavier, E a Vida Continua..., pelo Espírito de André
Luiz, FEB, 18ª edição, Rio de Janeiro, 1991.
[2]
Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Evolução em Dois Mundos,
pelo Espírito de André Luiz, FEB, 11ª edição, Rio de Janeiro, 1989.
[3]
Curso Ciência & Espiritismo, “Aula 7: Física e Espiritismo II: energia e
matéria. Referências científicas na pesquisa espírita”, Boletim do GEAE
Número 489, (2005).
[5]
M. A. Moreira, “O Modelo Padrão da Física de Partículas”, Revista Brasileira
de Ensino de Física 31, 1306 (2009).
[6]
Ademir L. Xavier Jr., “Algumas Considerações Oportunas
sobre a Relação Espiritismo - Ciência”, Reformador, Agosto, p.244 (1995).
[7]
A. F. Da Fonseca, “Matéria e Energia Escura: não são o Fluido Universal”, Revista
FidelidadESPÍRITA Dezembro, p. 18, (2003).
[8]
J. A. Valadares, “O Conceito de Massa. I. Introdução Histórica”, Revista
Brasileira de Ensino de Física 15, 110 (1993).
[9]
J. A. Valadares, “O Conceito de Massa. II. Análise do Conceito”, Revista
Brasileira de Ensino de Física 15, 118 (1993).
[10]
Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Mecanismos da Mediunidade,
pelo Espírito de André Luiz, FEB, 11ª edição, Rio de Janeiro, 1990.
[11]
A. Kardec, O Livro dos Espíritos, FEB, 1ª edição Comemorativa do
Sesquicentenário, Rio de Janeiro, 2006.
[12]
A. F. Da Fonseca, “O Fluido Universal e as teorias cosmológicas”, Revista
FidelidadESPÍRITA Novembro, p. 16, (2003).
[13]
Os artigos das referências 5, 7 e 8 podem ser baixados gratuitamente a partir
do sítio da revista: www.sbfisica.org.br/rbef
Este artigo foi publicado originalmente
em duas partes na revista FidelidadESPÍRITA 91 (Abril), p. 6
(2010); e 92 (Maio), p. 20 (2010).
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