Ação espírita na
transformação do mundo
Trecho extraído do livro
Curso Dinâmico de Espiritismo - Capítulo XVII, por J.Herculano Pires.
As relações humanas se baseiam na afetividade
humana. Não há afetos entre corações insensíveis. Por isso a dor campeia no
mundo, pois só ela pode abalar os corações de pedra. Mas o Espiritismo nos
mostra que o coração de pedra é duro por falta de compreensão da realidade, de
tradições negativas que o homem desenvolveu em tempos selvagens e brutais.
Essas relações se modificam quando oferecemos
aos homens uma visão mais humana e mais lógica da Realidade Universal. Essa
visão não tem sido apresentada pelos espíritas, que, na sua maioria, se deixam
levar apenas pelo aspecto religioso da doutrina, assim mesmo deformado pela
influência de formações religiosas anteriores.
Precisamos restabelecer a visão espírita em
sua inteireza, afastando os resíduos de um passado de ilusões e mentiras
prejudiciais. Se compreenderem a necessidade urgente de se aprofundarem no
conhecimento da doutrina, de maneira a formarem uma sólida e esclarecida
convicção espírita, poderão realmente contribuir para a modificação do mundo em
que vivemos.
Gerações e gerações de espíritas passaram pela
Terra, de Kardec até hoje, sem terem obtido sequer um laivo de educação
espírita, de formação doutrinária sistemática. Aprenderam apenas alguns hábitos
espíritas, ouviram aulas inócuas de catecismo igrejeiro, tornaram-se, às vezes,
ardorosos na adolescência e na juventude (porque o Espiritismo é oposição a
tudo quanto de envelhecido e caduco existe no mundo), mas ao se defrontarem com
a cultura universitária incluíram a doutrina no rol das coisas peremptas por
não terem a menor visão da sua grandeza.
Pais ignorantes e filhos ignorantes, na
sucessão das encarnações inúteis, nada mais fizeram do que transformar a grande
doutrina numa seita de papalvos.
Duras são e têm de ser as palavras, porque
ineptas e criminosas foram as ações condenadas. A preguiça mental de ler e pensar,
a pretensão de saber tudo por intuição, de receber dos guias a verdade feita, o
brilhareco inútil e vaidoso dos tribunos, as mistificações aceitas de mão
beijada como bênçãos divinas e assim por diante, num rol infindável de tolices
e burrices fizeram do movimento doutrinário um charco de crendices que impediu
a volta prevista de Kardec para continuar seu trabalho.
Em compensação, surgiram os reformadores e
adulteradores, as mistificações deslumbrantes e vazias e até mesmo as séries
ridículas de reencarnações do mestre por contraditores incultos de suas mais valiosas
afirmações doutrinárias.
Este amargo panorama afastou do meio espírita
muitas criaturas dotadas de excelentes condições para ajudarem o movimento a se
organizar num plano superior de cultura. Isso é tanto mais grave quanto o nosso
tempo que não justifica o que aconteceu com o Cristianismo deformado totalmente
num tempo de ignorância e atraso cultural.
Pelo contrário, o Espiritismo surgiu numa
fase de acelerado desenvolvimento cultural e espiritual, em que os espíritas
contaram e contam com os maiores recursos de conhecimento e progresso de que a
humanidade terrena já dispôs.
Todos os grandes esforços culturais em favor
da doutrina foram negligenciados e continuam a sê-lo pela grande maioria dos
espíritas de caramujo, que se encolhem em suas carapaças e em seus redutos
fantásticos. Falta o amor pela doutrina, de que falava Urbano de Assis Xavier;
falta o amor pelos companheiros que se dedicam à seara com abnegação de si mesmos
e de suas próprias condições profissionais e intelectuais; falta o amor pelo
povo faminto de esclarecimentos precisos e seguros; falta o amor pela Verdade,
que continua sufocada pelas mentiras das trevas.
Herculano Pires. J. Curso
dinâmico de espiritismo: o grande desconhecido. Ed. Paideia, 1979.
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