Comentários sobre o
livro “União dos espíritas: para onde vamos?”
Marco Milani*
(Texto publicado no
boletim Dirigente Espírita, nº 167, set/out 2018, p. 7)
Lançado pela Editora EME em abril de
2018, o livro “União dos espíritas: para onde vamos?”, de autoria de Antonio
Cesar Perri de Carvalho, oferece aspectos históricos do movimento espírita
brasileiro que necessitam ser conhecidos e discutidos.
Considerando a experiência de
cinquenta anos ininterruptos atuando em instituições espíritas e ocupando
diferentes posições, dentre elas a de presidente da Federação Espírita
Brasileira (FEB) no período de 2012 a 2015 e presidente da União das Sociedades
Espíritas do Estado de São Paulo (USE-SP) em três mandatos, além de membro da
comissão executiva do Conselho Espírita Internacional, o autor aborda tópicos
que destacam-se em sua perspectiva político-administrativa.
A pergunta que intitula esta obra volta-se ao
desenvolvimento do movimento espírita por meio de propostas e ações que
objetivam disseminar os ensinamentos dos Espíritos.
Em seis capítulos, o livro explora o
conceito de união e como se poderia respeitar eventuais divergências
secundárias entre os adeptos para se privilegiar a convivência fraterna em
torno dos princípios e valores doutrinários.
Perri de Carvalho contextualiza o
surgimento da Federação Espírita Brasileira (FEB), no final do século XIX e sua
posterior relação com as entidades federativas estaduais, nem sempre marcada
pela harmonia e comunhão de interesses.
Nos capítulos iniciais, são
relacionados os presidentes da FEB, pontuando-se ações e contribuições
relevantes de cada um.
Durante a gestão de Wantuil de
Freitas, em 1948, a FEB enfrentou mais uma vez o desejo de diversos dirigentes
espíritas do país à reconfiguração do modelo federativo nacional. Nesse mesmo ano,
a USE promoveu em São Paulo um congresso de caráter nacional cujo documento
final propunha um novo modelo confederativo.
Perri de Carvalho destaca que essa proposta
foi recusada por Wantuil de Freitas, porém esse assunto retornaria no ano seguinte
em nova discussão durante o evento da Confederação Espírita Pan-Americana, no
Rio de Janeiro. Alguns representantes de entidades federativas que
encontravam-se neste último evento decidiram procurar Wantuil de Freitas e,
deste encontro, acordou-se o que ficou posteriormente conhecido como Pacto
Áureo.
Esse acordo não contou com a plena adesão de
dirigentes de todos os estados e caracterizou-se como uma proposta alternativa
àquela desenhada no congresso da USE.
Apesar de representar um avanço na configuração federativa, o Pacto Áureo contém pontos questionáveis como, por exemplo a adoção do livro Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho como obra de referência nacional. Perri de Carvalho lembra muito bem que as obras de referência do Espiritismo deveriam ser as de Allan Kardec.
Apesar de representar um avanço na configuração federativa, o Pacto Áureo contém pontos questionáveis como, por exemplo a adoção do livro Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho como obra de referência nacional. Perri de Carvalho lembra muito bem que as obras de referência do Espiritismo deveriam ser as de Allan Kardec.
No referido livro de Humberto de Campos,
especificamente no capítulo 22, há a menção de que J.B. Roustaing teria sido
coadjuvante de Kardec, fato esse que afronta a coerência doutrinária.
Nos capítulos 3º e 4º, a temática do Pacto
Áureo é explorada convenientemente pelo autor, permitindo ao leitor conhecer
com detalhes esse episódio do Movimento Espírita Brasileiro cujos reflexos são
sentidos até hoje.
Certamente, Perri de Carvalho expõe pontos
fundamentais para se repensar o que ainda precisamos fazer para promover a
união entre os espíritas, principalmente pela convergência doutrinária.
No livro não se propõe abordar alguns problemas
recentes que podem desunir os espíritas como, por exemplo, a tentativa de
militância político-partidária que alguns supostos adeptos insistem em promover
nas casas espíritas atualmente.
Sinteticamente, esta obra atenderá os anseios
daqueles que buscam conhecer características essenciais do esforço federativo
para a harmonia de interesses do Movimento Espírita, portanto é recomendada
para o público formado não somente por dirigentes mas por espíritas em geral.
*
Diretor do Departamento de Doutrina da USE-SP. Presidente da USE Regional de
Campinas.
Fonte: https://app.associatec.com.br/upload/organizacao_000000000000037/noticia/documento/326/167.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário