quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Comentários sobre o livro "União dos espíritas: para onde vamos?"


Comentários sobre o livro “União dos espíritas: para onde vamos?”

Marco Milani*

(Texto publicado no boletim Dirigente Espírita, nº 167, set/out 2018, p. 7)

            Lançado pela Editora EME em abril de 2018, o livro “União dos espíritas: para onde vamos?”, de autoria de Antonio Cesar Perri de Carvalho, oferece aspectos históricos do movimento espírita brasileiro que necessitam ser conhecidos e discutidos.
            Considerando a experiência de cinquenta anos ininterruptos atuando em instituições espíritas e ocupando diferentes posições, dentre elas a de presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB) no período de 2012 a 2015 e presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE-SP) em três mandatos, além de membro da comissão executiva do Conselho Espírita Internacional, o autor aborda tópicos que destacam-se em sua perspectiva político-administrativa.
             A pergunta que intitula esta obra volta-se ao desenvolvimento do movimento espírita por meio de propostas e ações que objetivam disseminar os ensinamentos dos Espíritos.
            Em seis capítulos, o livro explora o conceito de união e como se poderia respeitar eventuais divergências secundárias entre os adeptos para se privilegiar a convivência fraterna em torno dos princípios e valores doutrinários.
            Perri de Carvalho contextualiza o surgimento da Federação Espírita Brasileira (FEB), no final do século XIX e sua posterior relação com as entidades federativas estaduais, nem sempre marcada pela harmonia e comunhão de interesses.
            Nos capítulos iniciais, são relacionados os presidentes da FEB, pontuando-se ações e contribuições relevantes de cada um.
            Durante a gestão de Wantuil de Freitas, em 1948, a FEB enfrentou mais uma vez o desejo de diversos dirigentes espíritas do país à reconfiguração do modelo federativo nacional. Nesse mesmo ano, a USE promoveu em São Paulo um congresso de caráter nacional cujo documento final propunha um novo modelo confederativo.
Perri de Carvalho destaca que essa proposta foi recusada por Wantuil de Freitas, porém esse assunto retornaria no ano seguinte em nova discussão durante o evento da Confederação Espírita Pan-Americana, no Rio de Janeiro. Alguns representantes de entidades federativas que encontravam-se neste último evento decidiram procurar Wantuil de Freitas e, deste encontro, acordou-se o que ficou posteriormente conhecido como Pacto Áureo.
Esse acordo não contou com a plena adesão de dirigentes de todos os estados e caracterizou-se como uma proposta alternativa àquela desenhada no congresso da USE.
            Apesar de representar um avanço na configuração federativa, o Pacto Áureo contém pontos questionáveis como, por exemplo a adoção do livro Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho como obra de referência nacional. Perri de Carvalho lembra muito bem que as obras de referência do Espiritismo deveriam ser as de Allan Kardec.
No referido livro de Humberto de Campos, especificamente no capítulo 22, há a menção de que J.B. Roustaing teria sido coadjuvante de Kardec, fato esse que afronta a coerência doutrinária.
Nos capítulos 3º e 4º, a temática do Pacto Áureo é explorada convenientemente pelo autor, permitindo ao leitor conhecer com detalhes esse episódio do Movimento Espírita Brasileiro cujos reflexos são sentidos até hoje.
Certamente, Perri de Carvalho expõe pontos fundamentais para se repensar o que ainda precisamos fazer para promover a união entre os espíritas, principalmente pela convergência doutrinária.
No livro não se propõe abordar alguns problemas recentes que podem desunir os espíritas como, por exemplo, a tentativa de militância político-partidária que alguns supostos adeptos insistem em promover nas casas espíritas atualmente.
Sinteticamente, esta obra atenderá os anseios daqueles que buscam conhecer características essenciais do esforço federativo para a harmonia de interesses do Movimento Espírita, portanto é recomendada para o público formado não somente por dirigentes mas por espíritas em geral.

* Diretor do Departamento de Doutrina da USE-SP. Presidente da USE Regional de Campinas.

Fonte: https://app.associatec.com.br/upload/organizacao_000000000000037/noticia/documento/326/167.pdf

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