Há
uma revelação luisina?
Irmão
Saulo (Herculano Pires)
(Texto extraído do livro Herculano Pires, o apóstolo de Kardec, Capítulo 19 – Minhas lutas doutrinárias)
Começaremos
transcrevendo uma crônica sua assinada com o pseudônimo “Irmão Saulo”
intitulada “Há uma revelação luisina?”, a qual refuta um artigo de Salvador
Gentile (diretor de “Anuário Espírita”, editado em Araras, Estado de São
Paulo), a propósito da obra Nosso Lar, psicografada por Chico Xavier. A crônica
de Herculano Pires estampada no “Diário de São Paulo” reveste-se de importância
porque ao surgirem as primeiras obras do Espírito André Luiz alguns líderes,
demonstrando imaturidade doutrinária, proclamaram nas tribunas e pelos jornais
que elas eram a “Quarta Revelação”... Leiamos as considerações de Herculano
Pires:
Gentile
parte da suposição de que a obra de Kardec ficou em generalidades. Deseja
informações particulares, mais concretas, que André Luiz fornece sobre a vida
dos Espíritos. Mas se tivessem recorrido ao prefácio de Emmanuel no livro Os
Mensageiros veria que essa concretização é simbólica e, portanto, abstrata.
A
obra de André Luiz é ilustrativa da revelação espírita, e não propriamente
complementar, no sentido de superação que o articulista pretende. É uma grande
e bela contribuição nos estudos espíritas, mas sua pedra de toque é a
codificação.
O
que mais impressionou a Gentile foi a “revelação” de cidades espirituais no
espaço. Mas a Bíblia já nos falava da Jerusalém Celeste e as revelações antigas
estão cheias de ideias semelhantes. Tratam-se de planos ainda materializados da
vida espiritual e não dos planos superiores.
A
Revista Espírita apresenta numerosos relatos dessa vida que se assemelha à
terrena. Mas Gentile vai mais longe e afirma que certos conceitos de Kardec são
reformulados em Nosso Lar, por exemplo: o conceito de Espíritos errantes, o de
acampamento, o de perispírito sem órgãos de tipo material. A crítica de Gentile
a esses conceitos não tem razão.
Kardec
explica no item 226 de O Livro dos Espíritos que são errantes todos os
espíritos que ainda terão de reencarnar-se, mesmo os mais evoluídos. A
erraticidade não implica apenas a permanência em planos inferiores, mas uma
condição do espírito em seu processo evolutivo. Trata-se de um conceito
relativo, ou seja, que diz respeito à relação do espírito com a sua passagem
pelas fases inferiores da encarnação terrena.
O
conceito ou a noção de acampamento não tem em Kardec a aplicação que Gentile
lhe deu. Refere-se aos mundos transitórios e não aos planos espirituais.
O
de perispírito sem órgãos físicos, que não necessita de restauração de suas
forças, é também relativo e está bem explicado no item 254, onde se lê isto, em
letras de forma: “A espécie de fadiga que os espíritos podem provar está na
razão da sua inferioridade, pois quanto mais se elevam, de menos repouso
necessitam”. Partindo de premissas falsas, o articulista só poderia chegar a
conclusões falsas.
Não
há nenhuma razão para se falar em “revelação luisina”, mesmo porque a própria
tese de Kardec é a da revelação contínua a partir da aceitação e do
conhecimento da mediunidade.
Antes
de pensar em “novas revelações”, o que precisamos com urgência é de estudo
sistemático e mais aprofundado da obra de Kardec, incluindo não só os tomos da
Codificação, mas também a Revista Espírita, por ele mesmo indicada como
indispensável ao bom conhecimento da doutrina.”
Fonte
RIZZINI,
Jorge. J. Herculano Pires, o Apóstolo de Kardec: o homem, a vida e a obra. São
Paulo: Paideia, 2001.
Sempre os novidadeiros do Espiritismo. Mais atrapalham que ajudam.
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