Primórdios do
Departamento de Doutrina da USE
Marco Milani
Desde a fundação da
União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE), em 1947, a
coerência doutrinária foi uma das preocupações constantes desta instituição. Na
organização de comissões e departamentos internos, sempre buscou-se pautar pela
solidez dos princípios e valores espíritas apresentados por Allan Kardec.
Considerando a
própria natureza agregadora da USE, a qual foi formada pelos esforços conjuntos
das quatro maiores entidades federativas da época sediadas na capital (Federação
Espírita do Estado de São Paulo, Liga Espírita, União Espírita e Sinagoga
Espírita), tornou-se assunto recorrente a necessidade de orientação a todos
dirigentes das casas associadas e dos órgãos representativos para a harmonização
do embasamento teórico-doutrinário das práticas adotadas.
Registra-se na Ata
do Conselho Deliberativo Estadual (CDE) da USE, em reunião realizada em
26/03/1949, a criação de uma comissão específica para analisar e favorecer a
padronização das práticas das entidades[1].
Essa comissão, composta por Luiz Monteiro de Barros, Emilio Manso Vieira e Ary
Lex, foi a precursora do Departamento de Doutrina (DD), formalmente constituído
em 1951.
Além do contribuir
ativamente com seus pareceres e orientações sobre diversas questões
doutrinárias solicitadas pelo CDE e pela Diretoria Executiva, o DD também
atuava na organização de cursos específicos, como o de mediunidade e de passes.
Dois tópicos
recorrentes de atenção e que se apresentavam fortemente relacionados eram o
sincretismo religioso e deturpações doutrinárias abraçadas por alguns
dirigentes e adeptos. Por exemplo, registra-se na reunião do CDE, em 15/03/1959[2],
a aprovação do documento “Movimentos paralelos ao Espiritismo”, elaborado pelo
então diretor do DD, Luiz Monteiro de Barros, enfatizando a necessidade de se
zelar pela Doutrina Espírita ante a teorias, conceitos e práticas estranhas ao
Espiritismo. Tal documento foi encaminhado ao Conselho Federativo Nacional para
consequente ciência aos demais órgãos federativos estaduais e à Federação Espírita
Brasileira.
Outros exemplos de
suporte às deliberações institucionais são verificados na reunião do CDE, em
13/03/1960[3],
quando os conselheiros solicitaram ao DD uma análise e manifestação sobre as
obras de Osvaldo Polidoro, o qual se considerava a reencarnação de Allan Kardec
e propagou a doutrina denominada Divinismo e na reunião de 12/03/1961, mediante
a solicitação de análise sobre o movimento OSCAL – Organização Social
Cristã-Espírita André Luiz.
Com o documento
“Kardec e a unificação”, o DD apresenta ao CDE, em 12/06/1961, um elaborado
trabalho em prol da unidade doutrinária e, nesta mesma reunião, solicita-se ao
DD a preparação de textos em linguagem mais populares sobre o que seja o
Espiritismo para envio aos jornais de grande circulação. De acordo com o
depoimento do 1º tesoureiro, Carlos Dias, durante conversa com Francisco
Cândido Xavier e Waldo Vieira, em Uberaba, o médium mineiro destacou sobre
responsabilidade da USE no que toca à garantia da pureza doutrinária.[4]
Em comunicação
mediúnica recebida por Emílio Manso Vieira, na reunião do CDE, em 11/06/1966,
enfatiza-se a necessidade de “intransigente respeito à Pureza Doutrinária, não
se permitindo que ideias estranhas venham contaminá-la.”[5]
Diante de sua função natural de análise e suporte
doutrinário aos órgãos deliberativos e executivos da USE, o DD manteve-se
disponível e com regularidade para o atendimento das solicitações recebidas
sobre diversos temas e atividades. Na reunião do dia 06/06/1969, por exemplo, o
CDE aprovou a realização da Campanha Evangelho no Lar, porém todas as sugestões
sobre a temática deveriam ser encaminhadas por escrito ao DD, para triagem e futura
publicação.[6]
Temas sociais polêmicos, como controle de natalidade, também foram objeto de
reflexões do DD para consequente manifestação do CDE.[7]
Um assunto com grande repercussão nos meios
espíritas, no ano de 1975, contou com pormenorizado parecer do DD apresentado
ao CDE sobre a adulteração de O evangelho segundo o Espiritismo, traduzido por
Paulo Alves de Godoy e editado pela FEESP. Ressaltou-se a relevância
doutrinária de não modificarem-se os termos do texto, vocábulos ou expressões
originais que constem da obra original. O CDE aprovou a publicação de uma Nota
Oficial, em nome da Diretoria Executiva, nesse sentido.[8]
Doze anos depois e com menor repercussão, o DD também ofereceu elementos ao CDE
para que se criticasse outra tradução da mesma obra, então feita por Roque
Jacinto e que se publicasse manifestação formal da USE, inclusive informando o
CFN.[9]
Inúmeras outras atividades foram desenvolvidas com
sucesso pelo DD na história da USE, portanto, pode-se afirmar que este
departamento foi um componente ativo no fortalecimento do movimento espírita
paulista.
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