quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Primórdios do Departamento de Doutrina da USE

 

Primórdios do Departamento de Doutrina da USE

Marco Milani

 Texto publicado na Revista Dirigente Espírita, ed. 192, nov/dez 2022, p. 41-42

               Desde a fundação da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE), em 1947, a coerência doutrinária foi uma das preocupações constantes desta instituição. Na organização de comissões e departamentos internos, sempre buscou-se pautar pela solidez dos princípios e valores espíritas apresentados por Allan Kardec.

               Considerando a própria natureza agregadora da USE, a qual foi formada pelos esforços conjuntos das quatro maiores entidades federativas da época sediadas na capital (Federação Espírita do Estado de São Paulo, Liga Espírita, União Espírita e Sinagoga Espírita), tornou-se assunto recorrente a necessidade de orientação a todos dirigentes das casas associadas e dos órgãos representativos para a harmonização do embasamento teórico-doutrinário das práticas adotadas.

               Registra-se na Ata do Conselho Deliberativo Estadual (CDE) da USE, em reunião realizada em 26/03/1949, a criação de uma comissão específica para analisar e favorecer a padronização das práticas das entidades[1]. Essa comissão, composta por Luiz Monteiro de Barros, Emilio Manso Vieira e Ary Lex, foi a precursora do Departamento de Doutrina (DD), formalmente constituído em 1951.

               Além do contribuir ativamente com seus pareceres e orientações sobre diversas questões doutrinárias solicitadas pelo CDE e pela Diretoria Executiva, o DD também atuava na organização de cursos específicos, como o de mediunidade e de passes.

               Dois tópicos recorrentes de atenção e que se apresentavam fortemente relacionados eram o sincretismo religioso e deturpações doutrinárias abraçadas por alguns dirigentes e adeptos. Por exemplo, registra-se na reunião do CDE, em 15/03/1959[2], a aprovação do documento “Movimentos paralelos ao Espiritismo”, elaborado pelo então diretor do DD, Luiz Monteiro de Barros, enfatizando a necessidade de se zelar pela Doutrina Espírita ante a teorias, conceitos e práticas estranhas ao Espiritismo. Tal documento foi encaminhado ao Conselho Federativo Nacional para consequente ciência aos demais órgãos federativos estaduais e à Federação Espírita Brasileira.

               Outros exemplos de suporte às deliberações institucionais são verificados na reunião do CDE, em 13/03/1960[3], quando os conselheiros solicitaram ao DD uma análise e manifestação sobre as obras de Osvaldo Polidoro, o qual se considerava a reencarnação de Allan Kardec e propagou a doutrina denominada Divinismo e na reunião de 12/03/1961, mediante a solicitação de análise sobre o movimento OSCAL – Organização Social Cristã-Espírita André Luiz.

               Com o documento “Kardec e a unificação”, o DD apresenta ao CDE, em 12/06/1961, um elaborado trabalho em prol da unidade doutrinária e, nesta mesma reunião, solicita-se ao DD a preparação de textos em linguagem mais populares sobre o que seja o Espiritismo para envio aos jornais de grande circulação. De acordo com o depoimento do 1º tesoureiro, Carlos Dias, durante conversa com Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, em Uberaba, o médium mineiro destacou sobre responsabilidade da USE no que toca à garantia da pureza doutrinária.[4]

               Em comunicação mediúnica recebida por Emílio Manso Vieira, na reunião do CDE, em 11/06/1966, enfatiza-se a necessidade de “intransigente respeito à Pureza Doutrinária, não se permitindo que ideias estranhas venham contaminá-la.”[5]

Diante de sua função natural de análise e suporte doutrinário aos órgãos deliberativos e executivos da USE, o DD manteve-se disponível e com regularidade para o atendimento das solicitações recebidas sobre diversos temas e atividades. Na reunião do dia 06/06/1969, por exemplo, o CDE aprovou a realização da Campanha Evangelho no Lar, porém todas as sugestões sobre a temática deveriam ser encaminhadas por escrito ao DD, para triagem e futura publicação.[6] Temas sociais polêmicos, como controle de natalidade, também foram objeto de reflexões do DD para consequente manifestação do CDE.[7]

Um assunto com grande repercussão nos meios espíritas, no ano de 1975, contou com pormenorizado parecer do DD apresentado ao CDE sobre a adulteração de O evangelho segundo o Espiritismo, traduzido por Paulo Alves de Godoy e editado pela FEESP. Ressaltou-se a relevância doutrinária de não modificarem-se os termos do texto, vocábulos ou expressões originais que constem da obra original. O CDE aprovou a publicação de uma Nota Oficial, em nome da Diretoria Executiva, nesse sentido.[8] Doze anos depois e com menor repercussão, o DD também ofereceu elementos ao CDE para que se criticasse outra tradução da mesma obra, então feita por Roque Jacinto e que se publicasse manifestação formal da USE, inclusive informando o CFN.[9]

Inúmeras outras atividades foram desenvolvidas com sucesso pelo DD na história da USE, portanto, pode-se afirmar que este departamento foi um componente ativo no fortalecimento do movimento espírita paulista.


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