Espíritas,
Espiritismo e Manifestos políticos*
Marco Milani
Em um agitado e segmentado cenário político
nacional, não é incomum nos depararmos com algumas pessoas que defendem
passionalmente suas posições e, ainda, esforcem-se para que suas opiniões
sobreponham-se às opiniões contrárias.
Como cidadãos, todos possuem o direito de se
expressar respeitosamente, conforme o próprio grau de maturidade e valores. Entretanto,
uma distorção grave ocorre quando um grupo tenta capturar a imagem
institucional de uma entidade formalmente constituída para amplificar as
próprias convicções partidárias em assuntos polêmicos.
O vínculo institucional é desejado por muitos
que buscam o convencimento alheio, para que a opinião pessoal seja vista como
algo coletivo e, dessa maneira, tenha maior representatividade. É uma maneira
eticamente questionável para influenciar e persuadir quando sabe-se que não há
consenso entre os integrantes ou associados daquela instituição.
No movimento espírita também pode ocorrer essa
tentativa de captura de imagem quando alguém explicita a sua condição de adepto
para se posicionar sobre assuntos polêmicos e que não exista homogeneidade de
pensamentos.
Se alguém é a favor ou contra o impeachment da presidente da república e
justifica ou associa esse posicionamento à sua condição de espírita, então o
indivíduo busca persuadir pela crença. Em outras palavras, ele tenta usar o
Espiritismo para corroborar suas opiniões particulares e insinua que adeptos
pensem ou devam pensar como ele, pois se a crença não fosse importante como
elemento condicionador, então ela não seria mencionada.
Igualmente, porém de maneira velada,
procura-se influenciar pela crença quando se alega defender valores universais
servindo-se de palavras ou frases típicas do discurso de determinado grupo
partidário. Por exemplo. Quando determinado grupo de “espíritas” emite um
manifesto no qual se pretende “defender a democracia contra retrocessos” e que,
sub-repticiamente tenta associar o retrocesso ao impeachment da presidente como sendo um ato antidemocrático (apesar
de ser um instrumento constitucional), então configura-se posicionamento enviesado
pró-governo.
Conforme alertado por Allan Kardec
na Revista Espírita (julho/1859), os adversários do Espiritismo tentarão
dividir os espíritas, fomentando a divergência e a desconfiança. Não devemos
cair nessa armadilha.
Diferentemente de doutrinas e religiões de
cabresto, cujos dirigentes procuram determinar como os adeptos devem se comportar
e agir sobre questões políticas locais e transitórias, o Espiritismo valoriza o
livre-arbítrio e a liberdade de consciência de todos, não se imiscuindo em
questões com conotações partidárias.
O Espiritismo tem caráter universal e
contribui para a evolução da sociedade pelo aprimoramento moral e intelectual
que promove no indivíduo. Certamente, a defesa de valores e princípios
espíritas deve ser expressa claramente pelas instituições representativas e
pelos adeptos, porém sem intenções enviesadas e sempre buscando a união.
* Texto publicado na
Revista Digital IntegrAção nº 3 (mai/jun 2016), p. 16 – veículo de comunicação
da União das Sociedades Espíritas – Regional São Paulo.
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