segunda-feira, 9 de maio de 2016

Espíritas, Espiritismo e Manifestos políticos


Espíritas, Espiritismo e Manifestos políticos*

Marco Milani

Em um agitado e segmentado cenário político nacional, não é incomum nos depararmos com algumas pessoas que defendem passionalmente suas posições e, ainda, esforcem-se para que suas opiniões sobreponham-se às opiniões contrárias.
Como cidadãos, todos possuem o direito de se expressar respeitosamente, conforme o próprio grau de maturidade e valores. Entretanto, uma distorção grave ocorre quando um grupo tenta capturar a imagem institucional de uma entidade formalmente constituída para amplificar as próprias convicções partidárias em assuntos polêmicos.
O vínculo institucional é desejado por muitos que buscam o convencimento alheio, para que a opinião pessoal seja vista como algo coletivo e, dessa maneira, tenha maior representatividade. É uma maneira eticamente questionável para influenciar e persuadir quando sabe-se que não há consenso entre os integrantes ou associados daquela instituição.
No movimento espírita também pode ocorrer essa tentativa de captura de imagem quando alguém explicita a sua condição de adepto para se posicionar sobre assuntos polêmicos e que não exista homogeneidade de pensamentos.
Se alguém é a favor ou contra o impeachment da presidente da república e justifica ou associa esse posicionamento à sua condição de espírita, então o indivíduo busca persuadir pela crença. Em outras palavras, ele tenta usar o Espiritismo para corroborar suas opiniões particulares e insinua que adeptos pensem ou devam pensar como ele, pois se a crença não fosse importante como elemento condicionador, então ela não seria mencionada.
Igualmente, porém de maneira velada, procura-se influenciar pela crença quando se alega defender valores universais servindo-se de palavras ou frases típicas do discurso de determinado grupo partidário. Por exemplo. Quando determinado grupo de “espíritas” emite um manifesto no qual se pretende “defender a democracia contra retrocessos” e que, sub-repticiamente tenta associar o retrocesso ao impeachment da presidente como sendo um ato antidemocrático (apesar de ser um instrumento constitucional), então configura-se posicionamento enviesado pró-governo.
            Conforme alertado por Allan Kardec na Revista Espírita (julho/1859), os adversários do Espiritismo tentarão dividir os espíritas, fomentando a divergência e a desconfiança. Não devemos cair nessa armadilha.
Diferentemente de doutrinas e religiões de cabresto, cujos dirigentes procuram determinar como os adeptos devem se comportar e agir sobre questões políticas locais e transitórias, o Espiritismo valoriza o livre-arbítrio e a liberdade de consciência de todos, não se imiscuindo em questões com conotações partidárias.
O Espiritismo tem caráter universal e contribui para a evolução da sociedade pelo aprimoramento moral e intelectual que promove no indivíduo. Certamente, a defesa de valores e princípios espíritas deve ser expressa claramente pelas instituições representativas e pelos adeptos, porém sem intenções enviesadas e sempre buscando a união.

* Texto publicado na Revista Digital IntegrAção nº 3 (mai/jun 2016), p. 16 – veículo de comunicação da União das Sociedades Espíritas – Regional São Paulo.



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