Comentários
sobre as alterações da 5ª edição de A Gênese – Cap. II
Marco
Milani
Considerando-se
que A Gênese é o livro mais maduro de toda a Codificação, pois
foi lançado quase onze anos depois de O Livro dos Espíritos e após
o desenvolvimento dos ensinamentos doutrinários apresentados nas
obras anteriores, compreende-se o porquê de Kardec ter afirmado na
introdução deste livro que ele representava um passo à frente nas
consequências e aplicações do Espiritismo.
Nesse
sentido, é de fundamental relevância a todos os adeptos e demais
interessados em conhecer o corpo teórico espírita que A Gênese
seja estudada meticulosamente. Uma vez que há sérias dúvidas sobre
a autoria das alterações no texto encontradas a partir da 5ª
edição, publicada em 1872, três anos após a desencarnação de
Allan Kardec, faz-se mister compará-la com o conteúdo original.
Assim
como nos números anteriores, o Departamento de Doutrina da USE-SP
vem publicando regularmente, no boletim Dirigente Espírita,
comentários comparativos dos capítulos em análise, atendendo às
expectativas de parcela significativa do movimento espírita sobre o
assunto.
Já
foram comentadas as alterações sofridas nos capítulos I, XIV, XV e
XVIII.
Desta
vez, comenta-se sobre o capítulo II, cujo título é “Deus” e
subdivide-se em quatro partes, a saber: a) Existência de Deus; b) A
natureza divina; c) A Providência e; d) A visão de Deus.
Dos
37 itens existentes nesse capítulo, em 17 deles apontam-se
modificações no texto da 5ª edição. Além de alguns
reordenamentos, contam-se 12 exclusões e 2 acréscimos de trechos ou
parágrafos.
No
capítulo II da 5ª edição, basicamente, foram cortados diversos
exemplos apresentados por Kardec na edição original que
favoreceriam a compreensão do leitor sobre os postulados tratados. A
seguir, destacam-se algumas passagens.
Logo
no item 1, da 1ª edição, ao apontar-se Deus como a causa primária
de todas as coisas, afirma-se ser “um princípio elementar que se
julgue a causa pelos seus efeitos, mesmo que não seja possível
vê-la” e, imediatamente, Kardec exemplifica de maneira simples e
objetiva esse argumento, ao discorrer sobre a presença de planetas
em determinadas regiões do espaço, mesmo que os mesmos não possam
ser observados diretamente, baseando-se somente no conhecimento das
leis astronômicas. Esse exemplo foi eliminado na 5ª edição.
Nos
itens 2 a 7, igualmente, mantém-se o argumento sobre a existência
de Deus mesmo sem sua observação direta, mas mais uma vez
reduzindo-se os parágrafos ao eliminar exemplos simples que poderiam
oferecer aos leitores com diferentes formações elementos mais
familiares para a compreensão do sentido filosófico do conteúdo.
Alguns,
talvez, considerem essas eliminações bem-vindas para se evitar uma
suposta prolixidade, porém, quanto mais enxuto e sem exemplos é o
texto, maior o risco da mensagem não ser assimilada plenamente por
todos.
Outros
itens que merecem destaque são os de número 22 e 23, os quais
discutem as propriedades e efeitos do fluido universal e a atuação
dos Espíritos.
No
item 22, foi eliminado um parágrafo robusto, no qual se esclarece
sobre o mecanismo fluídico pelo qual os Espíritos agem em todos os
lugares, ressaltando-se o fluido como o veículo do pensamento, das
sensações e percepções espirituais.
No
item 23 excluiu-se um parágrafo em que se indica os limites de
atuação dos Espíritos, inclusive para aqueles mais elevados, e a
respectiva distância comparativa infinita que possuem de Deus.
Ainda
que essas alterações não tenham provocado a inversão de sentido
ou outras distorções doutrinárias graves, como aquelas encontradas
em outros capítulos, certamente o texto apresenta-se fragilizado em
diferentes trechos ou poderia ser mais explícito, tal qual
apresentado na edição original.
Não
é objetivo destes comentários aprofundar o fato da total
inexistência de evidências de que Kardec teria sido o autor dessas
modificações da 5ª edição, situação essa que gera fortes
suspeitas de adulteração do texto.
*
Diretor do Departamento de Doutrina da USE-SP
Fonte: Dirigente Espírita, n.170, mai/jun 2019, p.5
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