terça-feira, 28 de maio de 2019

Comentários sobre as alterações da 5ª edição de A Gênese – Cap. II


Comentários sobre as alterações da 5ª edição de A Gênese – Cap. II

Marco Milani


     Considerando-se que A Gênese é o livro mais maduro de toda a Codificação, pois foi lançado quase onze anos depois de O Livro dos Espíritos e após o desenvolvimento dos ensinamentos doutrinários apresentados nas obras anteriores, compreende-se o porquê de Kardec ter afirmado na introdução deste livro que ele representava um passo à frente nas consequências e aplicações do Espiritismo.
     Nesse sentido, é de fundamental relevância a todos os adeptos e demais interessados em conhecer o corpo teórico espírita que A Gênese seja estudada meticulosamente. Uma vez que há sérias dúvidas sobre a autoria das alterações no texto encontradas a partir da 5ª edição, publicada em 1872, três anos após a desencarnação de Allan Kardec, faz-se mister compará-la com o conteúdo original.
     Assim como nos números anteriores, o Departamento de Doutrina da USE-SP vem publicando regularmente, no boletim Dirigente Espírita, comentários comparativos dos capítulos em análise, atendendo às expectativas de parcela significativa do movimento espírita sobre o assunto.
     Já foram comentadas as alterações sofridas nos capítulos I, XIV, XV e XVIII.
Desta vez, comenta-se sobre o capítulo II, cujo título é “Deus” e subdivide-se em quatro partes, a saber: a) Existência de Deus; b) A natureza divina; c) A Providência e; d) A visão de Deus.
     Dos 37 itens existentes nesse capítulo, em 17 deles apontam-se modificações no texto da 5ª edição. Além de alguns reordenamentos, contam-se 12 exclusões e 2 acréscimos de trechos ou parágrafos.
     No capítulo II da 5ª edição, basicamente, foram cortados diversos exemplos apresentados por Kardec na edição original que favoreceriam a compreensão do leitor sobre os postulados tratados. A seguir, destacam-se algumas passagens.
     Logo no item 1, da 1ª edição, ao apontar-se Deus como a causa primária de todas as coisas, afirma-se ser “um princípio elementar que se julgue a causa pelos seus efeitos, mesmo que não seja possível vê-la” e, imediatamente, Kardec exemplifica de maneira simples e objetiva esse argumento, ao discorrer sobre a presença de planetas em determinadas regiões do espaço, mesmo que os mesmos não possam ser observados diretamente, baseando-se somente no conhecimento das leis astronômicas. Esse exemplo foi eliminado na 5ª edição.
     Nos itens 2 a 7, igualmente, mantém-se o argumento sobre a existência de Deus mesmo sem sua observação direta, mas mais uma vez reduzindo-se os parágrafos ao eliminar exemplos simples que poderiam oferecer aos leitores com diferentes formações elementos mais familiares para a compreensão do sentido filosófico do conteúdo.
     Alguns, talvez, considerem essas eliminações bem-vindas para se evitar uma suposta prolixidade, porém, quanto mais enxuto e sem exemplos é o texto, maior o risco da mensagem não ser assimilada plenamente por todos.
     Outros itens que merecem destaque são os de número 22 e 23, os quais discutem as propriedades e efeitos do fluido universal e a atuação dos Espíritos.
     No item 22, foi eliminado um parágrafo robusto, no qual se esclarece sobre o mecanismo fluídico pelo qual os Espíritos agem em todos os lugares, ressaltando-se o fluido como o veículo do pensamento, das sensações e percepções espirituais.
     No item 23 excluiu-se um parágrafo em que se indica os limites de atuação dos Espíritos, inclusive para aqueles mais elevados, e a respectiva distância comparativa infinita que possuem de Deus.
     Ainda que essas alterações não tenham provocado a inversão de sentido ou outras distorções doutrinárias graves, como aquelas encontradas em outros capítulos, certamente o texto apresenta-se fragilizado em diferentes trechos ou poderia ser mais explícito, tal qual apresentado na edição original.
     Não é objetivo destes comentários aprofundar o fato da total inexistência de evidências de que Kardec teria sido o autor dessas modificações da 5ª edição, situação essa que gera fortes suspeitas de adulteração do texto.

* Diretor do Departamento de Doutrina da USE-SP

Fonte: Dirigente Espírita, n.170, mai/jun 2019, p.5

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