Julgamentos morais: ainda sobre o aborto
Em um mundo de expiações e provas, não precisamos procurar
muito para nos depararmos com os chamados escândalos, aqui entendidos como
sendo todos os acontecimentos que se tornam públicos e provocam intensos
debates morais e legais, geralmente por contrariarem condutas esperadas ou
desejadas em determinado contexto.
A reflexão
contribui para a pertinente discussão sobre os princípios e valores de uma
sociedade e expõe, rudemente, os problemas e desafios que devemos superar.
Muitas
pessoas são movidas pela sincera intenção de expressar a sua visão de mundo e como
esse deveria ser, porém, outras buscam explorar os fatos, sejam esses quais
forem, com suas calculadas narrativas, objetivando persuadir e convencer o
maior número de indivíduos a abraçarem as suas convicções pessoais e, até,
bandeiras político-ideológicas.
O recente
caso envolvendo o estupro crônico de vulnerável com a consequente gravidez,
ainda que não seja incomum, certamente choca e desperta o recorrente debate
sobre a pertinência ou não da interrupção provocada da gestação.
O relativismo
moral, tão marcante em ideologias materialistas, já tem o discurso pró-abortivo
pronto. Sob a perspectiva espírita, por sua vez, a posição pró-vida é nítida, ressalvando-se
a situação em que a mãe corra o risco de morrer mediante a continuidade da
gravidez, conforme encontramos na questão nº 359, de O Livro dos Espíritos, por
Allan Kardec.
Não se
pode esperar que materialistas acreditem ou confiem na Justiça Divina, pois a estreiteza
de visão desconsidera a realidade espiritual e considera apenas uma existência
terrena sem a mínima noção da harmonia natural que regula as relações humanas e
a jornada evolutiva dos seres. Tipicamente, a histeria materialista manifesta-se
contra todos aqueles que não compactuam com as mesmas opiniões limitadas, supondo
que o aborto representaria um alívio perante a expectativa de uma vida mundana
eivada de dor e sofrimentos pela maternidade indesejada.
Igualmente,
o fanatismo religioso direciona a sua fúria aos descrentes que não se servem dos
mesmos argumentos de autoridade supostamente divinos, gerando um conflito de
extremistas que não conseguem dialogar e muito menos avançar quanto ao
conhecimento baseado nos fatos e na razão.
Assim, fanáticos,
sejam materialistas ou espiritualistas, tendem a incentivar e promover o
linchamento moral dos adversários.
O ensino dos Espíritos, validado pelo critério da
universalidade adotado por Kardec, contrapõe-se naturalmente à posição
materialista e afasta-se da fé cega que gera o fanatismo religioso. Ao destacar
a liberdade e responsabilidade de cada um perante os próprios atos, não busca
forçar comportamentos pela imposição de preceitos dogmáticos, da mesma maneira
que não esconde ou relativiza as consequências.
Sinteticamente, quem compreende o ensino doutrinário
espírita sabe que qualquer ato provoca consequências e a gravidade do ato,
aliada à intenção e à compreensão dessas consequências, determinará os reflexos.
Todos os envolvidos em uma ação violenta contra um encarnado, como no caso de
um estupro, ou a um ser em processo de reencarnação, como na interrupção
provocada de uma gravidez, responderão à própria consciência perante as Leis Naturais e não se eximirão
dessa responsabilidade.
Que vom poder ler um texto assim! Obrigado pela objetividade e clareza, tão necessárias nestea dias.
ResponderExcluirMuito triste toda essa situação, mas a menina vai precisar de ajuda, afim de superar esse acontecimento. Que Deus a abençoe e a fortaleça na fé e no perdão.
ResponderExcluirDecisão difícil, porque há escrúpulos justificáveis tanto para materialistas como para espiritualistas.
ResponderExcluirA família poderia intervir contra o aborto, mas qual seria a justificativa plausível, se durante todo processo de violência sexual, nada fizeram diante do mal escancarado diante de seus olhos? O poder do bem era prerrogativa, muito antes desta tragedia... a lei humana decidiu a favor da única que durante todo processo, não foi ouvida e protegida e a escutando, pelos seus motivos, decide acatar sua vontade, estimulada por especialistas da área, determinando que sua decisão era soberana e seu direito inalienável.
Censurem os extremistas radicais espiritualistas, mas tratando-se da dor profunda entranhada na alma da criança, independente se se justifica perante a lei de expiação, o aborto neste caso, com o aval da justiça humana, foi a melhor medida para amenizar a dor e o sofrimento, de quem ainda terá um longo caminho de reabilitação mental, espiritual e emocional. Por que esta concordância? Simples: porque me coloquei em seu lugar e senti a dor de sua alma... gestação nestas condições e nascimento aumentariam em muito o sofrimento da menina e do reencarnante... tudo isto é fruto da perversidade humana, que permitiu tamanha violência. Ainda para nosso grau evolutivo: um mal menor para evitar um mal maior...