quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Especulações atuais envolvendo Jesus e Kardec

 


Especulações atuais envolvendo Jesus e Kardec

 

Marco Milani

 

Texto publicado na Revista Dirigente Espírita, ed. 185, set/out 21, p. 7

 

               Com certa frequência, deparamo-nos com afirmações sobre como personalidades da história agiriam em situações atuais. No ambiente espírita, ouvimos frases como: Se Jesus estivesse encarnado hoje ele faria isso ou aquilo, apoiaria essa ou aquela causa, atuaria nesse ou naquele sentido...

               Igualmente, Kardec é transportado para a época atual e tem suas ações previstas por supostos especialistas que se consideram conhecedores dos pensamentos mais íntimos do mestre lionês.

               Em geral, quem faz esses exercícios especulativos tende a posicionar a figura histórica de maneira concordante com as próprias opiniões, a fim de que todos aqueles que admiram o citado deveriam, por indução, concordar com as ideias do especulador.

               A validade das suposições realizadas não ultrapassa a curiosidade indagativa, com o risco de se constituir um argumento falacioso de autoridade.

               Assim como o anacronismo é repudiado por qualquer historiador sério, pois é uma inadequação cronológica que atribui ideias e concepções de uma época a uma outra, aceitar-se como verdadeiras frases especulativas sobre o que Jesus e Kardec fariam no presente carece de elementos legítimos e expressa construções ficcionais.

               A crítica à postura fantasiosa com intenções enviesadas, entretanto, não implica reprovação à reflexão sobre a aplicação dos exemplos de Jesus e Kardec em nossos dias. Diante de algum dilema vivenciado por alguém nas atribulações cotidianas, é pertinente ponderar sobre qual decisão tomar, embasando-se nas orientações e recomendações daqueles a quem admira e respeita.

               Na questão 625 de O Livro dos Espíritos, Jesus é indicado como guia e modelo de conduta, cujas orientações morais deveriam nortear nossas escolhas e comportamentos. Seus ensinamentos foram adequadamente interpretados e explicados pela Doutrina Espírita, portanto ao aplicarmos o conhecimento espírita para o próprio aperfeiçoamento moral e intelectual, estamos, indiretamente, trazendo Jesus e Kardec aos nossos dias e não usando suas reputações indevidamente para a obtenção de vantagens pessoais ou para persuadir alguém a concordar com nossas convicções.

               Assim, é nítida a diferença entre a especulação tendenciosa pelo uso de nomes respeitáveis em situações atuais e a aplicação presente dos exemplos que essas mesmas pessoas legaram à posteridade.

               Para se enfatizar determinada conduta ou decisão como sendo a mais acertada, a fundamentação deve recair sobre fatos e argumentos verdadeiros, assumindo-se a responsabilidade pelo próprio discurso, sem se ocultar, dissimuladamente, em terceiros.

               A especulação fantasiosa também ocorre em situações relacionadas ao passado. Por exemplo, quando alguém afirma que “se Kardec tivesse nascido no Oriente ele não teria usado a moral cristã como referência”, tal suposição não passa de devaneio do autor da frase, pois parte-se da premissa ilusória de que o mesmo Espírito, tivesse nascido em qualquer região do planeta em 1804, então escreveria a Doutrina Espírita com base nas tradições locais e com os mesmos recursos e condições que teve na França.

          Finalmente, também não é incomum encontrarmos entre os adeptos questões sobre a possibilidade de evocar Jesus, Kardec e outras sumidades para que eles possam discorrer sobre acontecimentos atuais. Ainda que o intercâmbio entre encarnados e desencanados seja um fenômeno natural e, conforme afirmou o próprio Kardec em O Livro dos Médiuns, i.274, podemos evocar todos os Espíritos, seja qual for o grau da escala evolutiva a que pertençam, não quer dizer que eles queiram ou possam atender ao nosso apelo.


Um comentário:

  1. Boa tarde, caro Milani, como se Jesus e Kardec, não enfrentaram dificuldades e fanáticos que apesar do tempo, pouco se progrediu moralmente, em nossa evolução, como Espíritos.

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