Especulações atuais envolvendo Jesus e Kardec
Marco Milani
Texto publicado na Revista Dirigente Espírita, ed. 185, set/out 21, p. 7
Com certa
frequência, deparamo-nos com afirmações sobre como personalidades da história
agiriam em situações atuais. No ambiente espírita, ouvimos frases como: Se
Jesus estivesse encarnado hoje ele faria isso ou aquilo, apoiaria essa ou
aquela causa, atuaria nesse ou naquele sentido...
Igualmente, Kardec
é transportado para a época atual e tem suas ações previstas por supostos
especialistas que se consideram conhecedores dos pensamentos mais íntimos do
mestre lionês.
Em geral, quem faz
esses exercícios especulativos tende a posicionar a figura histórica de maneira
concordante com as próprias opiniões, a fim de que todos aqueles que admiram o
citado deveriam, por indução, concordar com as ideias do especulador.
A validade das
suposições realizadas não ultrapassa a curiosidade indagativa, com o risco de
se constituir um argumento falacioso de autoridade.
Assim como o anacronismo
é repudiado por qualquer historiador sério, pois é uma inadequação cronológica
que atribui ideias e concepções de uma época a uma outra, aceitar-se como
verdadeiras frases especulativas sobre o que Jesus e Kardec fariam no presente carece
de elementos legítimos e expressa construções ficcionais.
A crítica à postura
fantasiosa com intenções enviesadas, entretanto, não implica reprovação à
reflexão sobre a aplicação dos exemplos de Jesus e Kardec em nossos dias.
Diante de algum dilema vivenciado por alguém nas atribulações cotidianas, é
pertinente ponderar sobre qual decisão tomar, embasando-se nas orientações e
recomendações daqueles a quem admira e respeita.
Na questão 625 de O
Livro dos Espíritos, Jesus é indicado como guia e modelo de conduta, cujas
orientações morais deveriam nortear nossas escolhas e comportamentos. Seus
ensinamentos foram adequadamente interpretados e explicados pela Doutrina
Espírita, portanto ao aplicarmos o conhecimento espírita para o próprio
aperfeiçoamento moral e intelectual, estamos, indiretamente, trazendo Jesus e
Kardec aos nossos dias e não usando suas reputações indevidamente para a
obtenção de vantagens pessoais ou para persuadir alguém a concordar com nossas
convicções.
Assim, é nítida a
diferença entre a especulação tendenciosa pelo uso de nomes respeitáveis em
situações atuais e a aplicação presente dos exemplos que essas mesmas pessoas
legaram à posteridade.
Para se enfatizar
determinada conduta ou decisão como sendo a mais acertada, a fundamentação deve
recair sobre fatos e argumentos verdadeiros, assumindo-se a responsabilidade
pelo próprio discurso, sem se ocultar, dissimuladamente, em terceiros.
A especulação
fantasiosa também ocorre em situações relacionadas ao passado. Por exemplo, quando
alguém afirma que “se Kardec tivesse nascido no Oriente ele não teria usado a
moral cristã como referência”, tal suposição não passa de devaneio do autor da
frase, pois parte-se da premissa ilusória de que o mesmo Espírito, tivesse
nascido em qualquer região do planeta em 1804, então escreveria a Doutrina
Espírita com base nas tradições locais e com os mesmos recursos e condições que
teve na França.
Finalmente, também
não é incomum encontrarmos entre os adeptos questões sobre a possibilidade de
evocar Jesus, Kardec e outras sumidades para que eles possam discorrer sobre
acontecimentos atuais. Ainda que o intercâmbio entre encarnados e desencanados
seja um fenômeno natural e, conforme afirmou o próprio Kardec em O Livro dos
Médiuns, i.274, podemos evocar todos os Espíritos, seja qual for o grau da
escala evolutiva a que pertençam, não quer dizer que eles queiram ou possam
atender ao nosso apelo.
Boa tarde, caro Milani, como se Jesus e Kardec, não enfrentaram dificuldades e fanáticos que apesar do tempo, pouco se progrediu moralmente, em nossa evolução, como Espíritos.
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