Fé e desafio metodológico
Marco Milani
Texto publicado na Revista Digital Candeia Espírita, nº
29, fev/24, p. 6-7
A autoridade da Doutrina Espírita é sustentada pelo
método utilizado para a validação de informações decorrentes do intercâmbio
mediúnico, o qual Allan Kardec denominou de Controle Universal do Ensino dos
Espíritos (CUEE). Nesse sentido, crê-se em algo porque há elementos lógicos
para se legitimar o conteúdo de comunicações cujo teor é o mesmo recebido por
diferentes fontes. Tal postura é caracterizada pela fé raciocinada, a qual é
considerada um dos pilares do Espiritismo.
Por outro lado, a fé cega refere-se à aceitação
inquestionável e sem evidências racionais ou lógicas de determinadas crenças ou
dogmas. É caracterizada pela confiança absoluta em algo, muitas vezes de
natureza espiritual, sem a necessidade de evidências concretas, experiências pessoais
ou raciocínio crítico. É típica de religiões tradicionais.
No Movimento Espírita, o qual reúne adeptos com
diferentes níveis de compreensão doutrinária, não é incomum ouvir alguém
atestando desconhecer todas as obras de Kardec e usa como referência os livros
romanceados e supostamente mediúnicos que teve a oportunidade de conhecer.
Um dos
principais motivos que fomentam interpretações diferenciadas sobre o corpo
teórico espírita (que é único) é, justamente, o afastamento da aplicação de um
método lógico para a aceitação de informações sobre a realidade espiritual e a
aproximação, por parte dos adeptos, da fé cega.
Ao não estudar adequadamente as obras de Kardec e,
essencialmente, o método para a validação de informações mediúnicas, o adepto
corre o risco de reproduzir comportamentos sincréticos em um ambiente
culturalmente marcado pela influência de organizações religiosas que estruturaram-se
sobre a crença acrítica com características místicas.
Em decorrência da fé cega, argumentos falaciosos
são usados no discurso de alguns adeptos que expressam incoerências
doutrinárias.
Um desses argumentos é o de “autoridade”, quando
supõe-se que algo seja verdadeiro simplesmente porque foi dito por determinado
médium, Espírito desencarnado, palestrante, dirigente etc. A fé raciocinada direciona
a análise da validade do argumento, independentemente de quem seja o
responsável pelo conteúdo.
Informações de fonte única devem tratadas, no
máximo, como hipótese se não houver elementos objetivos para a devida comprovação.
Muitas afirmações presentes na literatura mediúnica
podem ser curiosas e interessantes, mas devem ser avaliadas conforme as
referências doutrinárias que foram validadas pelo CUEE.
A promoção do pensamento crítico é essencial para
um entendimento mais profundo e coerente da realidade, voltando-se para uma
análise mais completa das informações disponíveis e uma tomada de decisão mais
consciente.
Atualmente, o CUEE não é de simples aplicação, uma
vez que as condições de organização e análise das comunicações mediúnicas
produzidas por diferentes fontes que não se influenciem mutuamente não ocorrem
de maneira centralizada, tal qual Kardec desenvolvia. Assim, um desafio
doutrinário significativo é descobrir um método que possa validar as
informações mediúnicas de diferentes fontes capazes de fazer com que o
conhecimento espírita amplie-se sobre bases sólidas e não sobre argumentos de
autoridade.
Excelente , você destacou de forma clara e profunda a importância da fé raciocinada e a diferença da fé cega no Movimento Espírita, ressaltando a necessidade do método lógico na validação das informações mediúnicas e promovendo o pensamento crítico na interpretação da doutrina espírita. Sua abordagem demonstra um genuíno interesse em estimular uma compreensão mais profunda e coerente da realidade espiritual. Parabéns pela reflexão cuidadosa e pela discussão deste tema relevante!
ResponderExcluirGrato, Paty.
Excluir🙏
ExcluirRealmente, Marco, por tudo isso que aponta no texto, temos desafios gigantescos!
ResponderExcluirOlá, Marquinhos. Grato pelo comentário. Um desses grandes desafios é, justamente, acabar com a contradição generalizada de muitos que dizem adotar a fé raciocinada, mas na prática, comportam-se como idólatras de médiuns e Espíritos, disseminando a fé cega.
ExcluirDe todos os estudiosos tenho admiração por vosso estudo concreto e coerente.Tenho como base sempre o compilado da Revista Espírita e o pentateuco Espírita. As discussões sucessivas são importantes,somos todos eternos aprendizes.O mérito está em praticar os ensinamentos fundamentados no estudo básico da Doutrina Espírita Compreender as obras de Kardec buscando nos Evangelhos a primazia da prática do Bem. É o que ensina a Doutrina Espírita. Quando trabalharmos a fé educando as mentes para os valores morais e espirituais avançaremos a renovação tão almejada. Paz,amor e caridade!
ResponderExcluirUma reflexão segura e direcionadora quanto à necessidade de se aplicar metodologias cientificas conforme aconselhado por Kardec. Fé racional e senso crítico é vacina segura contra fanatismos e outras viciações intelectivas entre nós irmãos em Cristo. Amor e verdade sempre.
ResponderExcluir