Suicídio
por amor?
Marco
Milani
Texto
publicado na Revista Dirigente Espírita, ed. 199, jan/fev 2024, p. 15-16
Na 2ª parte do livro O céu e o
inferno, de Allan Kardec, encontram-se descritos casos de pessoas que haviam
desencarnado recentemente, possibilitando-se conhecer as situações que se
depararam no chamado “mundo dos Espíritos”. Há relatos de Espíritos felizes,
sofredores, medianos, suicidas, dentre outros. Trata-se de riquíssima
ilustração sobre o que acontece após a morte, útil para auxiliar os adeptos a
confrontar essa realidade com o panorama que livros romanceados e de ficção
costumam citar.
Dentre aqueles que ceifaram a própria
vida carnal, apresenta-se o episódio de Louis G., um jovem sapateiro enamorado
por sua noiva, a costureira de botas, Victorine R.
O
casal, em um almoço rotineiro, teve um pequeno desentendimento verbal.
Arrependido e disposto a pedir perdão, Louis dirige-se à casa de Victorine no
dia seguinte, mas qual não foi a sua surpresa quando percebeu que a jovem,
aproveitando-se da oportunidade, decidiu impedir a entrada do noivo ao não abrir
a porta, sinalizando que não o perdoaria pela desavença.
Inconformado
com a recusa em ser atendido e vociferando que Victorine nunca mais teria
alguém que a amasse tanto quanto ele, Louis comete o tresloucado ato de
apunhalar-se, perfurando o próprio coração.
Allan Kardec, ao questionar o Espírito
São Luís sobre a responsabilidade indireta da moça no trágico evento, obteve
como resposta a confirmação de que ela era, proporcionalmente até onde
conseguisse agir, culpada, pois não o amava e alimentou esperanças e
sentimentos no rapaz os quais ela não compartilhava.
Em novo questionamento, São Luís
destaca que o ato suicida de Louis não teria a mesma causa daqueles que fogem
da responsabilidade da vida por covardia, então as consequências seriam
atenuadas, mas isso também não o isentaria da ação criminosa, mesmo que
impulsiva e não-premeditada.
Ao
ser evocado, Louis reconhece que cometeu um erro matando-se por ela, pois ela
não o merecia e ele sofria pela situação. Kardec ponderou que Louis já estava
vivenciando os sofrimentos decorrentes do ato, mas que Victorine R. arcaria com
as maiores consequências por não ter sido franca e por iludir.
Alguns poderiam julgar que esse caso
de suicídio foi motivado por “amor”, porém, o amor legítimo é bom e não promove
desarmonia psíquica. Dessa maneira, a violência praticada para abreviar a vida
com as respectivas repercussões não se caracterizam como uma ação benéfica,
logo, afasta-se da essência do Bem.
Como
exemplificado por Louis e Victorine, nenhum “amor” não correspondido justifica
o suicídio.
A maturidade moral, o equilíbrio
emocional e, principalmente, o conhecimento sobre a realidade espiritual, sobre
as responsabilidades envolvidas e sobre a continuidade da existência são
fatores determinantes para o indivíduo enfrentar os desafios e insatisfações
sob novas perspectivas, improváveis de serem percebidas sob a ótica
materialista.
Considerando que os jovens estão no
grupo que historicamente possui participação significativa nos casos de
suicídio e, ainda, que 96,8% dos casos de suicídio estão ligados a transtornos
mentais, como depressão, e que poderiam receber assistência médica especializada,
torna-se imprescindível a discussão dessa situação com os próprios jovens.[1] Começando-se na família.
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