terça-feira, 8 de setembro de 2020

Sobre o caráter apolítico da USE

 

SOBRE O CARÁTER APOLÍTICO DA USE

 Da Redação

 (Texto publicado na Revista Dirigente Espírita, da USE, ed. 179, set/out 20, p.24)


 Conforme evidencia-se no Artigo 1º de seu Estatuto Social, a União das Sociedades Espírita do Estado de São Paulo é, dentre outras características, uma pessoa jurídica de direito privado apolítica.

Allan Kardec, em texto dirigido aos espíritas lioneses, registrado na Revista Espírita - fev/1862, fez o seguinte alerta: "Não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quanto se refere à política e às questões irritantes; a tal respeito, as discussões apenas suscitarão embaraços...".

De maneira compreensível para a maioria das pessoas, o uso do termo “apolítico” sob a perspectiva institucional refere-se à necessidade de não se imiscuir nas escolhas particulares, respeitando-se o livre-arbítrio e a liberdade de consciência de cada indivíduo.

Alguns, entretanto, no afã de verem as próprias convicções políticas e partidárias galgadas a temas pertinentes e prioritários nas reuniões de diferentes naturezas, inclusive nas reuniões espíritas, procuram provocar o embate ideológico com a finalidade de impor a sua receita de como consertar o mundo e materializar o paraíso na Terra, estigmatizando e condenando aqueles que possuem outros olhares sobre os mesmos problemas.

    Servindo-se de passagens convenientemente pinçadas de trechos doutrinários e aplicando-as aos seus objetivos de persuasão com narrativas próprias, aqueles que tentam promover a militância política nas fileiras espíritas se autointitulam “bons” e acusam de omissão todos os que não compactuam com suas propostas de reformas sociais ou, ainda, apontam e classificam desrespeitosamente quem posiciona-se de maneira diversa. Esse tipo de comportamento faz com que surjam grupos que capturam a denominação espírita com o acréscimo de adjetivos relacionados às suas opções políticas.

Allan Kardec, no terceiro diálogo descrito no Capítulo I do livro O que é o Espiritismo, afirma que a “liberdade de consciência é consequência da liberdade de pensar, que é um dos atributos do homem; e o Espiritismo, se não a respeitasse, estaria em contradição com os seus princípios de liberdade e tolerância”.

Assim, a tolerância com relação à pluralidade de ideias, o respeito e a defesa da liberdade de consciência fazem parte do caráter espírita. A tentativa de imposição de pautas ideológico-partidárias que suscitam a discórdia e a divisão, sob a justificava de debate necessário, enquadra-se como a armadilha preparada por detratores encarnados e desencarnados que Kardec alertou aos espíritas lioneses.

Ainda enfatizando-se a sábia orientação de Kardec na obra supra citada e alinhando-se diretamente com o papel da USE, o Espiritismo, como doutrina moral, só impõe uma coisa: a necessidade de fazer o bem e evitar o mal; quanto às questões secundárias, ele as deixa à consciência de cada um.

Fundamental, portanto, que todo dirigente da USE expresse e exemplifique esse caráter apolítico em qualquer atividade sob a égide institucional, uma vez que não se deve falsear a noção de que todos somos seres políticos por natureza e confundir as ações e preferências particulares com a pessoa jurídica que representam.

A responsabilidade doutrinária e a consistente divulgação do Espiritismo com fraternidade são algumas das prioridades da USE que a fazem conhecida e respeitada e, necessariamente, colaboram para o entendimento do verdadeiro sentido de união.

 

Fonte: https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2020/09/DE179-C.pdf


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