SOBRE
O CARÁTER APOLÍTICO DA USE
Allan
Kardec, em texto dirigido aos espíritas lioneses, registrado na Revista
Espírita - fev/1862, fez o seguinte alerta: "Não vos deixeis cair nessa
armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quanto se refere à
política e às questões irritantes; a tal respeito, as discussões apenas
suscitarão embaraços...".
De
maneira compreensível para a maioria das pessoas, o uso do termo “apolítico”
sob a perspectiva institucional refere-se à necessidade de não se imiscuir nas
escolhas particulares, respeitando-se o livre-arbítrio e a liberdade de
consciência de cada indivíduo.
Alguns,
entretanto, no afã de verem as próprias convicções políticas e partidárias
galgadas a temas pertinentes e prioritários nas reuniões de diferentes naturezas,
inclusive nas reuniões espíritas, procuram provocar o embate ideológico com a
finalidade de impor a sua receita de como consertar o mundo e materializar o
paraíso na Terra, estigmatizando e condenando aqueles que possuem outros
olhares sobre os mesmos problemas.
Servindo-se de passagens convenientemente
pinçadas de trechos doutrinários e aplicando-as aos seus objetivos de persuasão
com narrativas próprias, aqueles que tentam promover a militância política nas
fileiras espíritas se autointitulam “bons” e acusam de omissão todos os que não
compactuam com suas propostas de reformas sociais ou, ainda, apontam e
classificam desrespeitosamente quem posiciona-se de maneira diversa. Esse tipo
de comportamento faz com que surjam grupos que capturam a denominação espírita
com o acréscimo de adjetivos relacionados às suas opções políticas.
Allan
Kardec, no terceiro diálogo descrito no Capítulo I do livro O que é o
Espiritismo, afirma que a “liberdade de consciência é consequência da liberdade
de pensar, que é um dos atributos do homem; e o Espiritismo, se não a
respeitasse, estaria em contradição com os seus princípios de liberdade e
tolerância”.
Assim,
a tolerância com relação à pluralidade de ideias, o respeito e a defesa da
liberdade de consciência fazem parte do caráter espírita. A tentativa de
imposição de pautas ideológico-partidárias que suscitam a discórdia e a
divisão, sob a justificava de debate necessário, enquadra-se como a armadilha
preparada por detratores encarnados e desencarnados que Kardec alertou aos
espíritas lioneses.
Ainda
enfatizando-se a sábia orientação de Kardec na obra supra citada e alinhando-se
diretamente com o papel da USE, o Espiritismo, como doutrina moral, só impõe
uma coisa: a necessidade de fazer o bem e evitar o mal; quanto às questões
secundárias, ele as deixa à consciência de cada um.
Fundamental,
portanto, que todo dirigente da USE expresse e exemplifique esse caráter
apolítico em qualquer atividade sob a égide institucional, uma vez que não se deve
falsear a noção de que todos somos seres políticos por natureza e confundir as
ações e preferências particulares com a pessoa jurídica que representam.
A responsabilidade doutrinária e a consistente divulgação do Espiritismo com fraternidade são algumas das prioridades da USE que a fazem conhecida e respeitada e, necessariamente, colaboram para o entendimento do verdadeiro sentido de união.
Fonte: https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2020/09/DE179-C.pdf
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