Marco Milani
Em
1972, foi aprovada e lançada pela USE a campanha Comece pelo começo, com
o claro intuito de orientar os ávidos leitores que buscavam conhecer, com
segurança e solidez, a natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de
suas relações com o mundo corporal.
As obras de Allan
Kardec, estruturando o corpo teórico-doutrinário do Espiritismo, são aquelas
que atuam como a “pedra de toque”, nas palavras do saudoso Herculano Pires,
para identificar e caracterizar o que seja Espiritismo. Nesse sentido, qualquer
pessoa que deseje efetivamente trilhar o caminho do conhecimento espírita deve,
necessariamente, ser apresentado à Kardec em sua integralidade.
Certamente, a leitura
de romances e outras obras consideradas de fonte secundária, isto é, que não
sejam de Allan Kardec e que tratem da temática espírita, produzidas
mediunicamente ou não, são úteis para atrair a atenção sobre a realidade
espiritual, incentivar o aprimoramento moral e combater a chaga do
materialismo. Não é raro alguém atestar que se aproximou do Espiritismo devido
à leitura de uma ou mais dessas obras, logo não há dúvida sobre sua utilidade.
Qual seria a principal
diferença das obras de Kardec para as demais que também abordam as questões
espirituais? O método de produção do conhecimento que legitimamente se pode
considerar espírita.
Allan Kardec serviu-se
de um critério metodológico designado como Controle Universal do Ensino dos
Espíritos, que priorizava a investigação baseada em fatos, em proposições
lógicas e na convergência de ideias recebidas de diferentes fontes e origens
mediúnicas sobre determinado assunto. Sendo um cientista, Kardec prezava pela
busca da autenticidade e veracidade das informações recebidas, adotando como
parâmetro de aceitação do respectivo conteúdo o afastamento de diversas
hipóteses sobre o próprio fenômeno mediúnico e de simples opiniões dos
Espíritos comunicantes.
Uma vez organizado o
ensino dos Espíritos, evidencia-se a consistência interna de todo o conteúdo
apresentado em O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo
o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. As demais obras de Kardec, como O
que é o Espiritismo e a coleção da Revista Espírita, dentre outras, representam
o manancial de informações que todo adepto comprometido com o aprofundamento
doutrinário deveria estudar incessantemente.
Livros secundários, por
mais edificantes que possam parecer, serão considerados espíritas se estiverem
em plena concordância com o ensino dos Espíritos apresentados por Kardec e que
passaram pelo crivo da razão e pelo critério da universalidade. Para se fazer
essa análise comparativa, obrigatoriamente, deve-se “começar pelo começo”, ou
seja, ler e compreender as obras de Allan Kardec.
Uma interpretação
equivocada que se pode ter em uma leitura menos crítica do título dessa
campanha é a de que existiriam obras que complementariam ou até superariam o
ensino dos Espíritos validados pela universalidade. Alguns poderiam supor que
Kardec seria um autor introdutório a “novos ensinamentos” ou a “atualizações”
informadas por esse ou aquele “Espírito”. Ledo engano.
De fato, não somente
Kardec, mas os próprios Espíritos, nunca tiveram a pretensão de esgotar ou
fechar questão sobre os assuntos tratados. Entretanto, para o desenvolvimento
das ideias, reformulações e aceitação de novas informações, imperiosamente os
fatos devem ser validados e legitimados não somente por um pequeno grupo, mas
pela comunidade espírita e com suporte científico. Opiniões presentes na
literatura secundária e, de maneira mais grave, revelações individuais sem
qualquer amparo lógico e geralmente sustentado por argumentos de autoridade (do
médium ou de suposto autor espiritual) não constituem avanço real no corpo
teórico-doutrinário do Espiritismo.
Assim, por mais
agradável e nobre que seja qualquer leitura espiritualista que contribua para a
melhoria moral e intelectual do indivíduo, não se pode, afoitamente,
classificá-la como espírita. Podemos e devemos ler o que quisermos sem qualquer
restrição ao conhecimento e ao saber, mas com ponderação, bom senso,
honestidade intelectual e disciplina.
Kardec não foi superado
e cabe a qualquer adepto consciente da relevância da fé raciocinada refletir
sobre os critérios de análise e aceitação das informações que recebe. A
campanha Comece pelo começo, que em 2022 completa seu cinquentenário é,
em suma, respeitar e valorizar o atualíssimo ensino dos Espíritos apresentado
por Allan Kardec.
Fonte: https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2022/01/DE187-C.pdf
bom
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